Fundação Vieira da Silva mostra obras-primas da pintora

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A exposição conta com obras de grande dimensão, algumas nunca vistas em Portugal Diana Quintela/PÚBLICO

A Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva vai hoje inaugurar uma exposição sobre a presença das obras da pintora Vieira da Silva em várias colecções estrangeiras. São mais de 50 obras que vieram de fora, algumas nunca vistas em Portugal, retratando uma das mais internacionais carreiras artísticas do século XX português.

Maria Helena Vieira da Silva morreu em Paris aos 83 anos, tendo doado parte da sua obra ao museu de Lisboa, que hoje faz dez anos. A exposição "Vieira da Silva nas Colecção Internacionais - Em Busca da Essência" comemora o décimo aniversário e é inaugurada às 18h30 pelo Presidente da República.

Nas vésperas da inauguração e enquanto a montagem termina, director e conservadora da fundação dizem que esta é a colecção que gostariam de ter. "É raro podermos juntar estas obras todas. A exposição é muito abrangente", diz o director José Sommer Ribeiro. E a conservadora Marina Bairrão Ruivo explica que a sua geração (tem 42 anos) ainda não tinha tido a oportunidade de ver muitas destas obras ao vivo: "Um dos critérios foi mostrar coisas que nunca tinham sido vistas em Portugal. Costumo dizer na brincadeira que este era o museu que gostaria de ter. Conseguimos fazer o percurso com obras de primeiríssima qualidade e de grande formato."

Do estrangeiro, diz a conservadora, vieram 53 obras, entre coleccionadores públicos e privados, numa exposição de 80 peças (56 pinturas e 24 obras sobre papel). Há obras de várias colecções dos EUA, França, Suíça, Alemanha, Brasil, Reino Unido, Bélgica e Finlândia. Normalmente, o museu exibe 70 obras, mas nesta exposição que fica três meses em Lisboa só menos de uma dezena já foi mostrada na exposição permanente.

Os empréstimos vieram de instituições importantes como o Guggenheim, Tate Gallery, Phillips Collection, Centre Pompidou, entre muitas outras. Mas também da colecção de Jorge de Brito, o maior coleccionador de obras de Vieira da Silva (tem cerca de 80), muitas delas em depósito na fundação.

O que também se pode constatar nas tabelas da exposição é que o óleo "Maio 68", uma das obras mais famosas da pintora, foi vendido há poucos meses por Jorge de Brito a um coleccionador particular. "Maio 68" esteve anos em depósito na fundação e o museu reconhece que perdeu um empréstimo importante, mas recusa-se a especular sobre a possibilidade de a colecção Brito ser vendida no futuro e perder outras obras em depósito.

Sommer Ribeiro explica que as colecções nacionais não tinham obras suficientes para fazer uma exposição sobre todo o percurso da pintora. A internacionalização de Vieira da Silva deve muito ao trabalho da galeria parisiense Jeanne Bucher que colaborou com o museu na organização da exposição.

A pintura de Vieira da Silva é difícil de classificar, diz o director, "porque Vieira nunca é completamente abstracta", havendo vários elementos figurativos. Os seus temas típicos são paisagens urbanas: as próprias cidades, gares, bibliotecas, grandes construções.

Na exposição, como sublinha Bairrão Ruivo, "foi engraçado poder organizar as obras por temas - os jogos de xadrez e de cartas, as cidades, as bibliotecas, os espaços fechados e abertos, as pinturas brancas e mais místicas", porque a colecção do museu não dá para organizar narrativas por temas.

No catálogo, Eliza Rathbone, conservadora da Phillips Collection de Washington, escreve que logo nas primeiras pinturas Vieira mostra "um intenso desejo" de criação de um espaço pictural tridimensional. Sobre "La partie d'échecs", pintado em 1943 e hoje no Pompidou, a própria pintora explicou: "Tinha uma ideia do que queria fazer, mas ao desenhar uns quadradinhos, os jogadores apareceram de moto próprio. Emergiram do fundo do quadro, e fiquei satisfeita que o tivessem feito."

No final dos anos 40, Rathbone explica que são cada vez mais "puramente constituídas por espaços, grandes e pequenos", mostrando "variadas incursões na profundidade". Com as pinturas brancas dos anos 50, é esta "arquitectura pictural" que se desmaterializa para fazer surgir uma luz difusa e penetrante. Depois da morte de Arpad em 1985, a pintora faz um retorno em força a essa paleta de brancos, que não deixará até à morte.

"Vieira da Silva nas Colecções Internacionais - Em Busca do Essencial"

LISBOA Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva. Praça das Amoreiras, 58. Tel.: 213880044. Até 30 de Janeiro.


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