Espanha proíbe venda de suplementos nutricionais nos ginásios

Foto
Vários países europeus desmantelaram redes de tráfico de dopantes Alessandra Tarantino/AP

O Governo espanhol apresentou ontem um novo plano para combater o “doping” no desporto profissional e no amador e atacar o tráfico de dopantes, que pode passar por alterações ao Código Penal. O projecto incide em quatro pilares: uma campanha de sensibilização, mais testes surpresa aos atletas, controlo dos desvios de medicamentos nos hospitais e nas farmácias e proibição de os ginásios e centros desportivos venderem suplementos nutricionais.

A última medida pode ser particularmente importante como resposta ao fenómeno crescente da dopagem no desporto amador, estimulada pelo tráfico de dopantes, associado também ao negócio dos estupefacientes. A Espanha teve provas concretas deste facto quando, no final do mês passado, a polícia desmantelou a cúpula de uma rede de traficantes, detendo 21 pessoas, entre as quais um português, alegadamente um dos cabecilhas e principais importadores, que actuava nos dois países ibéricos. Posteriores investigações permitiram deter ainda mais 126 pessoas, que constituíam a restante rede e tinham ligações com ginásios, ervanárias e lojas dietéticas de quase todas as províncias autónomas, pontos de contacto com os consumidores.

Em alguns países, como a França, a Itália e a Suécia, onde se tem prestado mais atenção ao problema do tráfico de dopantes, chegou-se à conclusão que tanto Espanha como Portugal são exportadores de medicamentos de hospitais e farmácias – o mesmo acontece com fármacos para uso animal, como o clembuterol. Por isso, explicou a ministra da Saúde e Consumo, Elena Salgado, a sua equipa trabalhará junto de hospitais e farmácias para evitar essencialmente desvios ou vendas sem receita médica de eritropoietina, darbepoietina, hormona de crescimento e alguns esteróides anabolisantes, como a nandrolona e a testosterona.

Os farmacêuticos serão informados sobre quais os medicamentos que podem ser usados como dopantes e, em colaboração com os distribuidores de fármacos, serão controlados também os volumes de vendas das substâncias já citadas, estando prevista também uma “rede de alerta que se activará quando se supere um limite máximo de venda nas farmácias dos produtos anteriormente citados, a fim de estabelecer as medidas de controlo e inspecção de forma dirigida”.

Ainda no sector da saúde, as autoridades elaborarão um plano de inspecções e alerta aos farmacêuticos, tendo em conta a agenda de eventos desportivos fornecida pelo Conselho Superior de Desporto. Na Agência Espanhola de Medicamentos será criado o cargo de Coordenador Nacional de controlos de substâncias dopantes, para trabalhar com a agência “antidoping”. Por seu turno, caberá à Agência de Segurança Alimentar inspeccionar os ginásios e centros desportivos, a partir do momento em que o Executivo aprovar uma normal legislativa que proíba estes espaços de venderem suplementos nutricionais e dopantes.

No domínio do desporto profissional, Espanha intensificará os testes surpresa em 20 por cento e obrigará os atletas, inclusive estrangeiros, a informar sobre o conteúdo dos estojos para cuidados médicos.

Em conferência de imprensa, Jaime Lissavetzky, secretário de Estado do Desporto e presidente do Conselho Superior do Desporto, realçou o facto de o projecto possuir três tipos de medidas – prevenção, controlo e repressão –, explicando a importância da campanha de sensibilização: “A única ideia é demonstrar que um treino correcto, uma boa alimentação e um descanso adequado são muito melhores que o ‘doping’”, disse, citado pelo “El Mundo”.

Lissavetzky destacou ainda o trabalho da Brigada de Delitos Informáticos no combate ao tráfico via Internet, que permitiu detectar a citada rede de traficantes desmantelada nos dois últimos meses. Mesmo assim, o controlo efectuado por este sector policial vai ser intensificado e poderão haver mesmo alterações ao Código Penal – apenas alguns países do mundo dedicam capítulos específicos ao tráfico de dopantes, enquanto a maioria, inclusive Portugal, só pode punir traficantes através das leis distantes, em áreas como droga, segurança alimentar e medicamentosa. “Pessoalmente inclino-me para o modelo francês em detrimento do italiano, ou seja, sou pela sanção penal ao traficante e uma penalização administrativa e desportiva ao atleta”, confessou Lissavetzky, citado pelo “El País”.

Sugerir correcção
Comentar