Jazz e basebol, alegria e cepticismo

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Uma empresa canadiana de turismo pôs a correr este anúncio: “Venha a Cuba enquanto ela ainda tem o charme do velho mundo e antes que se abram as comportas para os turistas americanos.” Alguns falam já dos automóveis americanos dos anos 50 que circulam em Havana — os vistosos e decrépitos Pontiacs, Dodges ou Chevrolets — como um património em vias de extinção.

Comenta a jornalista Barbara Plett, da BBC: “Isto é uma parte do raciocínio segundo o qual Cuba é fabulosa — a mística de um país congelado no tempo, com uma cultura não americanizada ou comercializada. Isto não vai mudar já porque, apesar de suavizado, o embargo não foi levantado. E o Governo cubano vai querer controlar os ritmos da mudança. Mas não é impossível imaginar uma invasão de lojas Starbucks e McDonalds. Os cubanos não querem ficar congelados no tempo, querem ter oportunidades económicas modernas, querem ligar-se ao mundo. Mas também querem continuar a ser essencialmente cubanos.”

Sublinha o editor de uma revista: “Nós estamos culturalmente mais próximos dos Estados Unidos do que qualquer outro país do hemisfério. O jazz e o basebal são parte de nós. O desafio será conseguir manter uma relação normal com os EUA e manter ao mesmo tempo a independência.”

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Jovens passeando em Havana, no domingo. Sonham com o futuro. Algo mudou já dentro das cabeças Alexandre Meneghini/Reuters

Todos foram surpreendidos por Raúl Castro e Barack Obama. Em Havana houve mostras de satisfação, houve quem chorasse, houve quem não acreditasse. Com a passagem dos dias, os sentimentos misturam-se, anotam os repórteres. A notícia demora a digerir e, sobretudo, é difícil avaliar as consequências. Muitos não escondem o cepticismo: “Tudo o que temos são promessas de mudança, é difícil ver claro.” Alguns lembram que Fidel, El Comandante, ainda vive. Mesmo que alguns o tratem já por “Coma andante.”

A nova do dia 17 tende a ser interpretada como o “fim das hostilidades” entre os dois países. Qualquer coisa está já a mudar, quanto mais não seja dentro das cabeças. Mas que se segue? Um mar de dúvidas. Obama reconheceu as dificuldades: “Changing Cuba no es fácil.”

Cubanos e yankees. Em 1960, em plena euforia da revolução, proclamava Sartre: “Se os Estados Unidos não existissem, talvez a revolução cubana os inventasse. São eles que conservam a sua frescura e a sua originalidade.” Mas, dessa revolução, “hoje só resta a habituação ao nome”, observa Regina Coyula, militante cubana dos direitos humanos.

“Não se devem esperar resultados rápidos mas passaram os anos do fidelismo”, escreve Jorge Edwards, analista chileno e antigo embaixador em Havana: “Nada mudará, assegura na imprensa a filha de Raúl [Mariela Castro], mas alguma coisa já mudou. A História é lenta mas não tem retorno.”     

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