A urgência da derrota

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Olhando para esta imagem, pensamos que nada mudou em Kobani, a cidade síria na fronteira com a Turquia que se tornou o símbolo do grande confronto de 2014: mundo versus ISIS.

Há duas semanas que chegam às redacções fotografias como esta, que mostram curdos a olhar para o céu, com ou sem binóculos, à espera de que mais um jacto militar passe por cima das suas cabeças. Nos últimos 15 dias, houve 135 ataques aéreos, o que significa nove bombardeamentos por dia.

É cedo para avaliar o impacto da operação. As imagens de satélite recolhidas pela UNOSAT — o programa das Nações Unidas que desenvolve aplicações informáticas para ajudar as agências da organização a definir as suas políticas — mostram a destruição da cidade e a deslocação de multidões de civis que, numa questão de dias, atravessaram a fronteira e se concentraram na Turquia.

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Curdos observam os céus por onde passam nove aviões militares por dia para bombardear Kobani Bulent Kilic/AFP

Em on e em off, todos afirmam que bombardear Kobani ou até todo o “califado” controlado pelo ISIS não chega para eliminar o problema. Obama não quer “botas no terreno”, mas ninguém acredita que sem isso o ISIS seja derrotado. É essa a leitura dos serviços secretos, sejam portugueses sejam americanos; ou do staff mais próximo do secretário de Estado norte-americano John Kerry.

Mas, ao contrário do que esta fotografia sugere, muito mudou nos últimos dias. Os curdos continuam a passar horas a olhar para o céu, mas pela primeira vez os aviões da aliança antijihadista não lançaram só bombas. Dos C130, foram largados gigantescos pacotes com munições, pequenas armas e medicamentos. Depois de um contundente e muito público embate diplomático entre os EUA e a Turquia, aliados da NATO, o objectivo da operação de domingo foi ajudar os curdos que combatem no terreno para evitar que Kobani caia nas mãos do ISIS.

O Presidente Erdogan, que reduz todos os curdos a “terroristas”, já disse que a operação foi um erro e que as armas atiradas do céu ficaram afinal nas mãos dos jihadistas. Um vídeo do ISIS apareceu como prova: um jihadista desembrulha com à-vontade um dos pacotes lançados num pára-quedas americano. O Pentágono apressou-se a dizer que a “esmagadora maioria” dos pacotes chegou “às mãos certas” e que só um terá sido apanhado pelas “mãos erradas”. “We just don’t know right now.” Não foi só isso que mudou. O Presidente turco também autorizou os curdos iraquianos a atravessarem a sua fronteira para ajudar os curdos sírios. O desfecho de Kobani é decisivo, até Erdogan já percebeu. Kobani é mais do que simbólico. É um teste à estratégia de Obama. As vitórias do ISIS ajudaram a atrair novos terroristas, muitos dos quais são do Ocidente. É urgente que haja derrotas. Para diminuir a força do ISIS e para combater a nova tendência do “jihadismo-cool”.     

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