PÚBLICO lança suplemento humorístico com Produções Fictícias

"Se não aconteceu, podia ter acontecido." É este o lema editorial do novo suplemento humorístico que o PÚBLICO lança na última sexta-feira do mês. "O Inimigo Público" são doze páginas semanais de sátira à actualidade nacional e internacional, com assinatura das Produções Fictícias e da Farol de Ideias.

A ideia, explica Nuno Artur Silva, director das Produções Fictícias, é fazer uma espécie de O Tal Canal em jornal. Ou seja, elucida o director do suplemento, Luís Pedro Nunes, "vamos também parodiar os cânones e os tiques do jornalismo".

O mote fica logo dado com o estatuto editorial, que afirma que, no "Inimigo", "todas as notícias são objectivamente falsas mas equilibradas, pois buscam sempre ouvir os testemunhos falsos de ambas as partes, seguindo as regras de ouro do jornalismo".

Trata-se, portanto, de um jornal de humor de referência, refinado e subtil, a milhas do estilo anedótico e repassado de uns Malucos do Riso. Foi, aliás, esse capital de credibilidade, sublinha Luís Pedro Nunes, que permitiu consolidar a proposta feita ao PÚBLICO - e que representará um investimento do jornal de 500 mil euros anuais.

Às sextas-feiras, o PÚBLICO passará a custar um euro em vez de 80 cêntimos.

Nuno Artur Silva comenta a escolha do diário: "Para já, humor de referência tem de ser num jornal de referência. Depois, é o jornal de que gostamos mais." Além disso, "percebemos que o PÚBLICO não tem humor", diz entre risos, "abrindo espaço a este suplemento".

E considera que o projecto foi "ao encontro de uma necessidade do jornal na procura de novos públicos". Ou, na leitura de Luís Pedro Nunes: "O PÚBLICO percebeu que precisava de um inimigo".

Embora apresentada como suplemento, toda a edição é programada como a de um jornal "sério". Por isso, é dirigido por um jornalista (Luís Pedro Nunes foi redactor do PÚBLICO e do "Independente") e tem um grafismo estilo fato e gravata - não fossem os títulos ("Saddam admite conhecer Durão mas vagamente", "As cotações da próxima semana - se não forem estas, são outras") e um leitor desatento julgaria ter entre mãos um jornal cinzentão.

Só que "O Inimigo Público" apresenta muitas vantagens perante outros "media", que Luís Pedro Nunes enumera: "Temos a edição toda vendida" e, por outro lado, "os redactores fazem pouca despesa: até conseguem entrevistar o Saddam Hussein a partir de casa", sem custos de viagens ou telefonemas. Além disso, "pode-se pensar primeiro a primeira página, inventar uma manchete e depois articular o conteúdo que a justifica".

Isso não significa, todavia, que o jornal satírico não se paute por exigências de rigor. Luís Pedro Nunes garante que as matérias serão abordadas por "pessoas que percebem dessas áreas", muitas das quais jornalistas, embora frequentemente recorrendo ao pseudónimo.

"O Inimigo Público" procura colmatar a falta de uma mediação mais divertida e bem humorada da realidade - tarefa que os "media" tradicionais não agarram. O suplemento irá ainda incluir "marcas fortes" das Produções Fictícias, com contributos regulares do Contra Informação, de Nuno Markl e do "blog" Gato Fedorento. A vasta lista de colaboradores inclui nomes como Rui Cardoso Martins, Rui Zink, Carlos Quevedo, Filipe Homem Fonseca, Ricardo Araújo Pereira e Miguel Góis, a par de muitos anónimos que não querem expor-se. "Era chato o Presidente da República assinar os seus próprios textos. Nós compreendemos quando ele nos disse", clarifica Nuno Artur Silva.

Organizado por secções tradicionais do jornalismo, da política ao internacional, passando pela economia, desporto e cultura, o jornal incluirá crítica cultural e um obituário "sobre alguém que já morreu mas ainda não percebeu".

"Hoje inventa-se tanta coisa para vender jornais que nós inventámos um jornal para vender jornais", conclui Nuno Artur Silva.

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