Promotor de prédios em Gaia não entregou licença de ocupação do domínio hídrico

Câmara de Gaia recebeu comunicação prévia para início da construção de três prédios sem documento que considera essencial para o início das obras.

A actual Câmara de Gaia critica a aprovação de construções a poente da Douro Marina
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A actual Câmara de Gaia critica a aprovação de construções a poente da Douro Marina DR
Neste momento, o terreno encontra-se devoluto e é utilizado pela população
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Neste momento, o terreno encontra-se devoluto e é utilizado pela população Nelson Garrido

A Câmara de Gaia ainda está a apreciar a comunicação prévia entregue pelo promotor Douro Habitat, para a construção de vários edifícios em Canidelo, entre os quais estão três dos sete prédios previstos para a margem do Douro. Segundo fonte da autarquia, a empresa não entregou a licença de ocupação do Domínio Hídrico, sem a qual as obras não devem começar.

A polémica sobre os empreendimentos aprovados para a marginal ribeirinha, a poente da Marina de Canidelo está para durar. Depois de o presidente da Câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, ter criticado, numa reunião de câmara e em conferência de imprensa, a aprovação, no âmbito do Polis de Gaia, de licenças de loteamento para uma área em leito de cheia, a população está a ser mobilizada para subscrever uma petição online, dirigida à Comissão de Coordenação da Região Norte e ao Ministério do Ambiente, pedindo a reavaliação das construções previstas. Esta sexta-feira 1375 pessoas tinham já assinado.

O autarca já garantiu que não travará, judicialmente, um projecto devidamente licenciado, a menos que encontre no processo falhas que poupem a autarquia ao risco de uma indemnização, que só no caso destes três edifícios pode ascender a 50 milhões de euros. Em Agosto o promotor das obras no lote mais próximo da Marina entregou a comunicação prévia (num loteamento aprovado, a construção não está sujeita a licenciamento) mas o processo não continha a necessária licença de ocupação do Domínio Hídrico. Apesar de o empreendimento ter tido parecer positivo da entidade responsável, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

A APA e a Administração dos Portos do Douro e Leixões pronunciaram-se sobre este loteamento, a pedido da Comissão de Coordenação da Região Norte, que, atendendo às recomendações e avisos das duas entidades emitiu, em Outubro de 2012, uma “decisão favorável” à pretensão da Douro Habitat. Nesses pareceres, assume-se, como era do conhecimento da própria GaiaPolis, que aprovou o plano de pormenor para aquela zona, que os edifícios a construir se encontram dentro dos limites das cheias com tempo de retorno de 25 e cem anos. E os dois organismos do Estado recomendaram que o projecto integrasse opções que minimizem os riscos de inundação, considerando, notou a APA, que a responsabilidade por “eventuais prejuízos daí decorrentes é da exclusiva responsabilidade do requerente”.  

Nenhuma destas duas entidades considerou ser de chumbar, no entanto, a pretensão do promotor. A APA recomendou que as áreas de habitação sejam edificadas a uma altura superior a 7,20 metros, e que o acesso ao estacionamento deve ser feito acima da cota de cheia histórica do Douro, a cem anos. E a APDL, olhando para a proposta que lhe foi entregue nessa altura, considerava possível a ocorrência de inundações nos pisos implantados a cotas de nível mais baixas. Perante o parecer favorável da CCDRN, e com o PDM, na sua versão de 2009, a enquadrar a capacidade de construção já prevista no Plano de Pormenor do Polis, a alteração ao loteamento de 2007 foi aprovada em Abril de 2013 e está actualmente em vigor. E com base nisso, a empresa indicou que pretende começar as obras.

A autarquia está também a apreciar, ainda, um pedido de redução de taxas urbanísticas apresentado pela Douro Habitat. Esta considera que teria direito a uma redução de taxas num total de 399 mil euros, entre taxas municipais de urbanização e taxas de compensação, por ter permitido, nos últimos anos, a utilização, gratuita, de terrenos seus para a realização do festival Marés Vivas, por ter cedido uma área de terreno para melhor enquadramento da capela de São Paio e ainda, nota, por ter “acatado” as sugestões do município para alteração do loteamento. Eduardo Vítor Rodrigues já avisou que vai indeferir este pedido mas, pela informação avançada ao PÚBLICO, a resposta não terá sido ainda oficializada, necessitando de votação pelo executivo.

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