Liga Portuguesa contra o Cancro reforça rastreio do cancro da mama no Norte

A Liga Portuguesa Contra o Cancro inaugurou uma nova unidade móvel de rastreio do cancro da mama. Esta é uma das unidades que vai permitir rastrear cerca de 1 milhão e 500 mil mulheres, entre os 45 e os 69 anos.

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Rui Farinha/nfactos

Ivânia Pereira, Joana Ferreira e João Borges têm menos de 30 anos. Mas têm muito mais em comum do que a idade. Ainda crianças fintaram um cancro. Hoje são membros do Grupo de Veteranos, que presta apoio a crianças no Serviço de Pediatria do Instituto Português de Oncologia (IPO). Honorina Trêpa Leite é directora dos Serviços de Voluntariado da Liga Portuguesa Contra o Cancro. É voluntária há 28 anos, e há quatro que coordena uma equipa com mais de 500 voluntários. Nesta quarta-feira, marcaram presença na inauguração de uma nova unidade móvel de rastreio do cancro da mama da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

O objectivo desta acção é abrir a Liga à comunidade. “Procuramos que a população venha visitar-nos e ver aquilo que nós fazemos”, refere o presidente da Liga, Vítor Veloso. Visitas aos departamentos, jogos de futebol dedicados às crianças, um showcooking para dar ideias do que se deve (e não deve) comer, diagnósticos de cancro da pele e da cavidade oral e consultas gratuitas de psico-oncologia são algumas das actividades que se vão estender até sexta-feira.

A nova unidade de rastreio do cancro da mama começou já a funcionar e vai permitir fazer rastreios na sede da Liga até sexta-feira. Depois, segue para Lousada, Felgueiras e Paços de Ferreira. Esta é uma das unidades que vai permitir que, “em meados do próximo ano, 100% das mulheres da área Norte tenham a possibilidade de ser rastreadas gratuitamente”, refere Vítor Veloso ao PÚBLICO. Uma realidade que será possível quando o Núcleo Regional do Norte da Liga, num protocolo com a Administração Regional de Saúde (ARS), adquirir mais três unidades que vão permitir rastrear “à volta de 1 milhão e 500 mil mulheres entre os 45 e os 69 anos”, adianta. Um investimento de 350 mil euros, “totalmente custeado pela Liga Portuguesa Contra o Cancro, para a população perceber que a generosidade que tem tido com a liga vale a pena”, explica o responsável. 

Por ano, são diagnosticados 5000 novos casos de cancro da mama no país, com uma incidência maior a partir dos 55 anos, e uma mortalidade de 1800 mulheres. “Com o diagnóstico precoce e com este rastreio está aqui uma base para a mortalidade ir diminuindo” e, caso seja num cancro em fase inicial, “a probabilidade de cura é de quase 100%”, afirma Vitor Veloso. 

No processo de tratamento da doença, “os voluntários são uma ajuda enorme para o doente”. Quem o diz é Honorina Trêpa Leite, conhecida no meio por Mimi, que dirige os Serviços de Voluntariado da Liga Contra o Cancro. Voluntária há 28 anos, Mimi coordena uma equipa com mais de 500 voluntários.

O voluntário “faz tudo o que for preciso” para orientar as pessoas “desnorteadas” pela doença. “Às vezes estão à nora, sem saber para onde ir, e está ali logo um voluntário para os acompanhar, para levar às consultas, às enfermarias, a dar o apoio todo aos doentes e aos familiares”, explica Mimi.

Os que estiveram "do lado de lá"
“Em pediatria, os miúdos estão doentes mas não percebem. Até brincam com os aparelhos. Os papás, os avós, é que têm de ser ajudados. E ficam muito felizes por ter alguém que os acompanhe”, adianta. Um apoio que é também prestado pelo Grupo de Veteranos do Serviço de Pediatria do IPO. Um grupo de 30 jovens, ex-doentes do serviço, “todos diferentes mas com uma história em comum”. Todos tiveram uma doença oncológica quando eram crianças ou adolescentes. Todos ultrapassaram a barreira dos cinco anos sem a doença activa. Sabem o que é estar “daquele lado” e, por isso, podem dar um apoio diferente. 

“Nós sabemos o que é estar muitos dias sem ter contacto com o mundo cá fora, sem poder ir à escola, a fazer os tratamentos, quimioterapia, radioterapia”, conta Joana Ferreira. Com 11 anos, Joana foi diagnosticada com um osteossarcoma na tíbia esquerda. Um hematoma que apareceu abaixo do joelho e que marcou o início de um ciclo de um ano e meio de IPO entre internamentos, cirurgias, tratamentos de quimioterapia e consultas. “Foi uma altura muito difícil. Mas depois volta a vida fora do hospital”, diz Joana. Uma vida nova em que “não se volta a ser a pessoa que se era antes”. Uma visão corroborada por Ivânia Pereira a quem uma aparente gripe revelou uma leucemia, diagnosticada aos cinco anos, e que progrediu até ao transplante de medula. Um processo longo onde “se cresce imenso”, admite Ivânia. Joana conta as dificuldades que teve em regressar à escola: “Foi difícil voltar e identificar-me com os meus colegas de turma porque eu já não via as coisas da mesma maneira”.

O grupo foi criado em 2012 e tem 30 membros que dão apoio às crianças e às famílias que olham para eles como a “esperança” na cura. Testemunhos de esperança que estão reunidos num livro sobre a doença, que os veteranos dão a ler aos pais das crianças hospitalizadas. “Os pais folheiam o livro e tentam encontrar o diagnóstico igual ao do filho e imediatamente querem saber como está aquela pessoa. E é esse o elo que nós queremos estabelecer para podermos dar aquela mensagem de esperança. Nós sobrevivemos e estamos aqui”, conta Joana. 

Um trabalho de acompanhamento que o grupo quer que saia fora das portas do IPO para ir às escolas sensibilizar as crianças e as turmas para preparar o regresso dos colegas que estiveram doentes. “Por que é que o colega está doente? Por que é que está sem cabelo? Por que é que não pode ir à escola?”, questões que Joana diz que devem ser respondidas para que a reintegração seja mais fácil.

Apesar do trabalho próximo com as crianças, Joana admite que nem sempre é fácil. “Nós também temos de nos resguardar. Há muitas situações que nos trazem memórias”. Entrar no hospital ou num quarto onde passaram muito tempo exige ter “ferramentas” psicológicas para saber lidar com isso.

Texto editado por Ana Fernandes

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