Investimento de quatro milhões fez cair o “muro” que separava Vilamoura de Quarteira

Num espaço degradado, que poucos ousavam percorrer, nasceu o “Passeio das Dunas” – uma obra para promover a coabitação entre pescadores e turistas.

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Rui Gaudêncio
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Quarteira e Vilamoura, duas localidades que viveram décadas de costas viradas, passam agora a estar ligadas pelo “Passeio das Dunas”, um novo espaço de lazer à beira-mar, numa área de 17,7 hectares, que vai procurar aproximar aquilo que interesses imobiliários separaram. A primeira fase da obra, orçada em cerca de quatro milhões de euros, vai ser inaugurada neste sábado pelo primeiro-ministro, António Costa, no âmbito das comemorações do “Dia da Cidade” do concelho de Loulé.

A construção deste passeio marginal vira uma página no livro de reclamações dos turistas. A razão é simples: foi aqui que se instalou, de forma anárquica, o antigo Bairro de Pescadores, considerado um dos “pontos negros” do desordenamento do litoral algarvio. Os visitantes, sobretudo à noite, não ousavam atravessar o espaço e, mesmo durante o dia, os clientes dos hotéis não eram aconselhados a passear por ali. Vilamoura desenvolveu-se ignorando a comunidade piscatória que a rodeava. Os barcos de pesca cruzam os mares juntamente com os iates, mas em terra cada qual fica no seu lugar.

“Caiu uma barreira arquitectónica e psicológica”, reconhece o presidente da junta de freguesia de Quarteira, Telmo Pinto, enfatizando: “Vilamoura e Quarteira [pertencentes administrativamente ao mesmo concelho] são complementares em termos de oferta turística”. Por isso, o autarca, socialista, entende que esta é uma “obra emblemática” da requalificação de um espaço que abre “novos horizontes para valorizar a pesca artesanal e o turismo”.

O projecto Passeio das Dunas, erguido numa espécie de terra de ninguém veio criar pontos de sombra e vegetação, construindo uma zona aprazível. A proposta arquitectónica sugere contemplação: caminhar, praticar desporto ou simplesmente ficar a ouvir o bater das ondas. A animação tem espaço reservado, mas só são permitidos eventos pontuais, as estruturas fixas permanentes não são autorizadas.

Ainda nesta zona, próximo da Docapesca, está previsto a implantação de um Apoio de Praia, seguindo as regras do Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC). Quanto a investimentos privados, está programada a construção de dois hotéis, a norte do “Passeio”, no prolongamento do plano urbanístico de Vilamoura.

Nas proximidades deste Passeio, a inaugurar pelo primeiro-ministro, fica o complexo desportivo de Quarteira, onde se destaca um moderno equipamento de piscinas cobertas. Neste novo contexto, Telmo Pinto promete aproveitar o conjunto das infra-estruturas desportivas que a cidade dispõe para lançar mais um contributo para “as políticas de combate à sazonalidade”. No Inverno, o Algarve fica quase deserto de turistas.

Na segunda fase do projecto está previsto o prolongamento do Passeio das Dunas até mesmo à entrada de Vilamoura. A deslocalização dos mercados do peixe e das frutas é outra das intervenções que está programada mas ainda sem data para iniciar. Por se tratar de uma zona que já foi sapal, o projecto de engenharia requer uma intervenção cuidadosa para acautelar situações de risco. De resto, as últimas chuvadas chegaram a fazer temer pela segurança da obra, acabada de construir. A pluviosidade, coincidindo com a maré altar, fez elevar o nível da água na “vala real” (parcialmente coberta) em quase dois metros, chegando a transbordar. A imagem das inundações da baixa de Albufeira, ocorridas no principio do ano, voltou a estar presente.

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