Não faltam projectos à Câmara de Vila Franca de Xira para os terrenos da Marinha

Polo desportivo ou universitário, expansão do recinto da feira anual, concentração dos serviços de justiça e até actividades equestres. Ideias não faltam para os 12 hectares à beira Tejo que a Marinha abandonou em 2009.

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A unidade da Armada fechou em 2009 RUi Gaudêncio

Depois de anos de alguma hesitação, a Câmara de Vila Franca de Xira já assume o interesse na aquisição dos 12 hectares do antigo complexo da Marinha situados imediatamente a sul da cidade sede de concelho. Segundo o presidente da autarquia, até final deste ano deverá estar concluído um estudo/proposta de ocupação futura de toda aquela área, que será apreciado na Câmara antes da negociação final com a Estamo, imobiliária do Estado que detém o espaço do antigo Grupo Número 1 das Escolas da Armada. A expansão do recinto da Feira Anual de Vila Franca de Xira (a edição 2016 arranca já no dia 30), o aproveitamento das instalações desportivas existentes e a criação de outras, a instalação de um pólo universitário e a eventual concentração dos serviços locais de justiça, são algumas das propostas que podem ser incluídas no estudo camarário.

Sabe-se que a Estamo já colocou o espaço da antiga Marinha vila-franquense à venda por cerca de 8,75 milhões de euros, valor que a Câmara considerou, então, “exagerado”. Mas os autarcas locais consideram que o montante final pode ser negociado e o vereador social-democrata Rui Rei, que tem insistido nas vantagens desta aquisição, já disse que o município tem todas as condições financeiras para suportar encargos anuais de 400 mil a 500 mil euros de juros de um eventual empréstimo destinado a comprar e recuperar o antigo complexo militar.

Estes 12 hectares (a unidade da Marinha fechou em Agosto de 2009) situam-se numa área privilegiada do concelho, com a linha-férrea e um apeadeiro de um lado e a Estrada Nacional 10 e a Auto-estrada do Norte (A 1) do outro, podendo ser servido pelo nó de acesso à A1 que fica mesmo ao lado. O executivo PS que governa a Câmara de Vila Franca de Xira já admitiu estender este plano de requalificação até Alhandra, o que passaria pela aquisição do espaço da antiga Cimianto (colado à antiga Marinha e à venda no âmbito do processo de insolvência desta empresa).

“Estou convicto que é possível desenvolver este projecto nos anos futuros. Não é uma situação que se faça num estalar de dedos, tem que ser bem ponderada e já estamos a trabalhar num estudo que penso que estará finalizado até final deste ano. Vamos ter já uma ideia do que é que desejamos que ali venha a ser implantado, para encontrarmos parceiros e definir o que é preciso fazer”, sustenta Alberto Mesquita, presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, em declarações ao PÚBLICO. “É possível fazer ali (antiga Marinha) muita coisa, mas é preciso que sejam coisas coerentes, que não sejam coisas desgarradas. Assim como será possível incentivar e estimular empreendedores a apostarem também naquela zona, que é uma zona magnífica e tem grandes possibilidades”, salienta o autarca do PS, frisando, todavia, que o Município só poderá avançar para a compra da antiga Marinha “com uma ideia bem definida, muito concreta” e que é preciso “encontrar a engenharia financeira para poder adquirir” o espaço.   

Expansão da Feira

Uma das vertentes que esta eventual aquisição poderá potenciar é a da expansão da Feira Anual de Vila Franca de Xira, que decorre, este ano, de 30 de Setembro a 9 de Outubro. O certame realiza-se há muitas décadas no espaço do Parque do Cevadeiro, que foi alvo de obras de requalificação no princípio do século e tem um pavilhão multiusos renovado desde 2013. Mas o espaço já se revela limitado e não permite o crescimento da feira, visitada por centenas de milhares de pessoas. Um dos objectivos da autarquia será, por isso, alargar o recinto de feiras e exposições, deslocando para terrenos da antiga Marinha os dois campos de futebol relvados que a União Desportiva Vilafranquense utiliza e que se situam imediatamente a sul do Parque Urbano do Cevadeiro.

“É isso que eu defendo, criando ali boas condições desportivas para o Vilafranquense e aproveitando os espaços hoje ocupados pelos campos relvados para ampliar a área da feira”, disse Alberto Mesquita ao PÚBLICO, considerando que “o envolvimento do meio empresarial também é absolutamente decisivo para que as coisas se desenvolvam”.

“Estamos a falar de muitos hectares, há aqui uma série de factores, mas que são passos importantes para o futuro e para que possamos, de facto, ter uma Feira com outras condições que, neste momento, são as condições que aquele espaço permite. Temos uma boa feira, é um certame muito importante. Mas queremos mais e o querermos mais exige espaço”, afirma o autarca do PS.      

Alberto Mesquita considera mesmo que o actual campo de relva natural da União Desportiva Vilafranquense (o mais recente tem relva sintética e pode ser deslocado) poderia ser aproveitado, num plano global desta natureza, para actividades hípicas, mantendo as bancadas já existentes. “Até poderíamos pensar em trazer novamente o salão do cavalo para Vila Franca de Xira”, sugere o autarca, pensando no aproveitamento deste relvado para actividades equestres e outras. “O actual campo poderia muito bem servir para a promoção de muitas manifestações hípicas naquela zona”, referiu.      

Este espaço da antiga Marinha de Vila Franca de Xira tem 126 mil metros quadrados, dos quais cerca de 33 mil compostos por áreas cobertas. São 42 edifícios do antigo grupo de escolas da armada, que ali funcionou durante mais de 50 anos e por onde passaram dezenas de milhares de alunos marinheiros. Os imóveis, com volumetria de um a quatro pisos, estão nalguns casos bastante degradados, mas têm condições para uma futura reabilitação. O complexo beneficia, ainda, de uma extensa ligação ao rio Tejo, uma vez que a propriedade abrange, igualmente, o corredor atravessado pela Linha do Norte e toda a faixa paralela compreendida entre a via ferroviária e o rio.

Feira com 125 feirantes e 94 artesãos

A centenária feira anual de Vila Franca de Xira é inaugurada já ao fim da tarde de sexta-feira (dia 30), com 125 feirantes e divertimentos diversos instalados no recinto. O 36º. Salão de Artesanato é outro dos atractivos, com 94 artesãos e associações específicas representados, muitos deles a trabalhar ao vivo. No programa da feira destacam-se ainda as cinco largadas e as duas corridas de toiros e dias de animação dedicados a temas como os sons, o movimento, a juventude, a cultura tradicional, a actividade física e a terceira-idade. Haverá, ainda, tasquinhas regionais e demonstrações de cozinha.

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