Antigo matadouro será transformado para receber colecção de art déco de Berardo

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A colecção art déco, temporariamente na Casa das Mudas, ficará no Funchal Foto: DR

A Madeira vai ter um novo espaço de cultura: o antigo matadouro municipal dará lugar ao Centro Cultural do Funchal. O equipamento deve abrir no final do próximo ano com a exposição de Erich Kahn evocativa do Holocausto e vai acolher uma exposição permanente de art déco, igualmente da Colecção Berardo.

A partir do projecto arquitectónico de Cláudio Wanderley e Luís Nova, aprovado pela autarquia, as obras do centro cultural arrancam em Maio, com duração prevista de 14 meses. O investimento camarário ascende a 1,8 milhões de euros, com uma comparticipação de 20 por cento do Programa de Intervenção do Turismo. A ideia, sublinha Miguel Albuquerque, presidente da câmara, passa por "preservar a estrutura do matadouro, imagem de um determinado período da história arquitectónica do Funchal, e ali instalar um museu de arte moderna dinâmico". O imóvel possui uma arquitectura típica das infra-estruturas industriais do período do Estado Novo, da autoria dos arquitectos Couto Martins e Miguel Jacobettey.

Inicialmente, o espaço do matadouro desactivado estava destinado à instalação da biblioteca municipal, integrada na Rede Nacional de Bibliotecas, entretanto transferida para o Edifício 2000. No entanto, como "surgiu a oportunidade de ter no Funchal uma das melhores colecções de art déco da Europa, optámos por adaptá-lo a espaço museológico", justificou o autarca em reunião do executivo, ao aprovar a inclusão da proposta no orçamento para 2011: "Se nós não aproveitamos esta oportunidade, outras cidades, como Lisboa, irão aproveitar."

Azul de Ives Klein

Sem alterar a estrutura e volumetria nem descaracterizar o edifício, os arquitectos procuraram adaptá-lo internamente à sua nova vocação de espaço de arte e cultura. "A proposta assume a transformação da atmosfera do prédio, minimizando o investimento e transformando-o através do uso da cor, que irá caracterizá-lo", revelam os projectistas, que optaram pelo azul de Ives Klein, utilizado em arquitectura por Jacques Majorelle, para a reconversão do matadouro.

Além deste azul predominante, o projecto contempla ainda "umas "pinceladas" das cores usadas por Majorelle, em elementos arquitectónicos do novo centro cultural, para dar mais luminosidade e evitar o aspecto do monobloco". Será levada também em conta "a quinta fachada (plano de cobertura)", vista do teleférico. "Tentámos fazer com que a metamorfose do matadouro fosse motivo de curiosidade, mesmo para aqueles que o vêem de cima", explica Cláudio Wanderley.

O projecto propõe uma nova entrada pela via rápida, que leva a uma ampla praça com estacionamento, com saída secundária para a Rua do Matadouro. A praça dará acesso à entrada principal e aos dois níveis do edifício, assim como aos jardins do piso inferior por uma rampa existente. No tratamento dos espaços exteriores são criados percursos e zonas de lazer, como o anfiteatro, para eventos e animação ao ar livre - música e teatro - e o jardim de esculturas.

Pelos dois pisos do edifício, onde será mantida a estrutura metálica dos tectos, ficarão distribuídas as galerias de exposição de arte e fotografia, a cafetaria com terraço, com vista para o mar, os ateliers para artistas e espaços para projecções e exposições temporárias.

A primeira dessas exposições deverá evocar a memória do Holocausto e da perseguição nazi à arte moderna, partindo da obra de um artista judeu alemão ignorado, Erich Kahn, vítima obscura dum tempo de extermínio, de exílios e dramáticos recolhimentos interiores, cujo espólio foi adquirido pela Fundação Berardo. A colecção de art déco do empresário, exposta temporariamente na Casa das Mudas, será transferida com carácter permanente para o novo centro cultural.

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