Prostituição: ele fotografou os intervalos do “cibersexo”

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O trabalho sexual adquiriu, nos últimos anos, novas formas e expressões. A internet tornou real o conceito de cibersexo, algo que pertencia ao domínio do retrofuturismo, e ampliou a gama de comportamentos sexuais humanos. O fenómeno é relativamente recente e o seu estudo encontra-se ainda em desenvolvimento; esse facto motivou o fotógrafo Arko Datto a debruçar-se sobre o tema da venda de serviços sexuais online, mas sob uma perspectiva particular: captou os momentos que intercalam cada serviço.

Ao P3, em entrevista, o fotógrafo indiano esclarece: "Em Cybersex eu documento a actividade de homens e mulheres que trabalham na indústria da prostituição virtual". "Com recurso a screenshots das imagens produzidas pelas câmaras dos retratados, documento os momentos que intercalam as performances sexuais pagas, os momentos enquanto aguardam novos clientes. Essa espera é longa, para muitos. Durante esses momentos, tento documentar o tédio e o desligamento da profissão. Pretendo captar instantes 'verdadeiros' dentro desse mundo de role-play, momentos em que [os trabalhadores do sexo] são apanhados desprevenidos e revelam emoções pessoais, acções quotidianas, fadiga, stress, preocupação, amargura, alegria e bizarria."

A enorme quantidade de materiais pornográficos disponíveis a qualquer pessoa que disponha de um computador e de uma ligação à internet não conhece precedentes e é citada, segundo o fotógrafo, como motivador do aumento exponencial de violência sexual por todo o mundo. "A prostituição virtual é um dos fenómenos mais recentes da era digital. Os clientes têm acesso a uma vasta lista de opções e ultrapassam barreiras geográficas e de género sem abandonar o conforto do lar. A prostituição e o sexo estão em evolução e já não se limitam ao encontro físico; a virtualidade dos encontros tornou a experiência sexual desumanizada." Uma das consequências, aponta, é para uma mudança no ideal que parecia vigorar, até então, no mundo real: "Mulheres bonitas e homens musculados estão fora da norma [no mundo virtual]. Existe uma procura e apreço crescentes por pessoas menos artificiais ou esculpidas."

Através deste projecto, Arko Datto transforma-se naquilo que denomina de "fotógrafo virtual". Durante as suas deambulações pela web, Datto deparou-se com "uma mulher que mascava pastilha elástica e a estourava na própria cara, um homem que estrangulava violentamente uma mulher, uma mulher grávida, duas mulheres idosas dominatrix, etc." O fotógrafo já publicou trabalho na revista TIME, National Geographic, The Guardian, BBC, Al Jazeera, entre outros. Arko já foi premiado do World Press Photo, em 2004, e, no mesmo ano, recebeu uma nomeação para o prémio Pulitzer, na categoria de Breaking News.