Lince-ibérico: ainda não houve uma única acção de sensibilização desde 2015

A reintrodução desta espécie está comprometida devido aos atrasos na concretização das metas previstas no plano de conservação, denuncia a associação ambientalista Zero.

Foto
Joao Silva

“Ainda não se realizou uma única acção de sensibilização desde o início do Plano de Acção para a Conservação do Lince-Ibérico (PACLIP)”, alerta Nuno Forner, ambientalista da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, organização que recentemente diagnosticou “importantes atrasos” na concretização das metas previstas.

O lince-ibérico (Lynx pardinus) é considerado um dos casos mais bem-sucedidos em matéria de recuperação de uma espécie em Portugal, tendo-se registado o nascimento de 24 animais no Centro Nacional de Reprodução de Lince-Ibérico nos últimos dois anos. No entanto, a Zero mostra que o panorama geral é pouco animador.

“Apenas 28% das metas e produtos previstos até ao final de 2016, e apenas 1/3 dos relacionados com objectivos de prioridade crítica, foram executados”, de acordo com a análise da Zero.

A associação ambientalista teve acesso aos dados de 2015 e 2016 do PACLIP e mostra-se preocupada com o “fraco nível de implementação do mesmo, temendo-se mesmo que se esteja perante uma situação de escassez de recursos financeiros alocados à conservação da espécie”.

Além dos obstáculos financeiros colocados ao funcionamento do programa - aprovado em 2015 -, a “execução de novas infra-estruturas com melhores condições para a reprodução da espécie em cativeiro”, cuja conclusão estava prevista para final de 2016, “ainda não passou da fase do projecto”.

Segundo a associação ambientalista, sem a identificação e a cartografia de territórios para o acolhimento de novas populações, “a promoção da qualidade e dimensão de habitat adequado para o lince-ibérico” fica comprometida numa “fase crucial” de consolidação do processo de reintrodução da espécie em território nacional. Isto porque um cenário de indefinição “coloca em causa o investimento atempado em acções de recuperação do habitat e das populações” da principal presa do Lince-ibérico - o coelho-bravo - “nas áreas prioritárias que albergarão novas populações”.

O PACLIP prevê que, “do acordo com proprietários de explorações agrícolas/florestais e/ou com entidades gestoras de zonas de caça”, se contratualize 75% dos 30.625 hectares prioritários até 2020 e até Maio deste ano já se chegou aos 66%. Mas o vazio de dados concretos também se está a verificar no que diz respeito ao “número" e às "dimensões das intervenções de recuperação e melhoria do habitat já realizadas no sítio Moura/Barrancos e no sítio do Guadiana”. Na Serra do Caldeirão, a Zero não compreende que não esteja prevista a expansão da área destinada a esta espécie em risco de extinção na Península Ibérica.  

Entretanto, na área de reintrodução da espécie, já se registaram nove casos de envenenamento. Apesar de lembrar as duas acções de fiscalização realizadas em Mértola, “com cães especializados na detecção de venenos”, a associação mostra-se surpreendida face à “paralisia” na reformulação do programa Antídoto – iniciativa que visa analisar o impacte do uso de venenos em Portugal e estabelecer medidas de controlo.

Por outro lado, o atropelamento continua a ser uma das principais ameaças para o felino mais ameaçado do mundo. O número de ocorrências é superior em estradas espanholas mas, no passado mês de Junho, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) comunicou a morte de um macho com cerca de um ano de idade na zona de Mértola, no Baixo Alentejo. De acordo com o ICNF, Neco tinha sido libertado poucas horas antes no Vale do Guadiana, no âmbito do Iberlince. “Uma medida de prevenção importante é a conclusão de um mapa de risco no final deste ano”, adianta ainda Nuno Forner.

A Zero espera que o Ministério do Ambiente avalie “a adequação dos recursos financeiros disponíveis para responder aos objectivos previstos no PACLIP”, especialmente as verbas provenientes do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos (POSEUR) – um instrumento financeiro que a associação ambientalista considera “pouco flexível e não apropriado para investimentos desta natureza”. 

Texto editado por Ana Fernandes

Sugerir correcção
Comentar