Sara Gouveia ainda vai dar muito que falar

Jogadora dos Laranjas da Quinta do Lago em ascensão no golfe feminino

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Em prova do Algarve Pro Golf Tour, em Janeiro, no "seu" Laranjal / © FILIPE GUERRA

Sendo uma grande desportista e ainda para mais eclética (hóquei em patins, basquetebol, equitação, ténis, squash, entre outras modalidades), Sara Gouveia iniciou-se no golfe por sugestão do seu pai. Que era um desporto mais calmo, que talvez se adaptasse a ela, pela concentração, pelo foco que exigia. 

“De início, não o interpretei bem como um insulto, mas não fiquei lá muito satisfeita”, confessa, com um sorriso, a açoriana, nascida há 17 anos em Ponta Delgada, filha de mãe açoriana e de pai lisboeta, ambos professores (ela de Música, ele de Educação Física), e residente desde os 5 anos no Algarve, quando a família se mudou para Albufeira. É o tal preconceito dos desconhecedores, de que o golfe é um desporto parado e para velhos. 

O certo é que Sara aceitou o conselho. Em 2011 ou 2012, com 11 ou 12 anos, já não se recorda, inscreveu-se, na Escola de Verão do Clube de Golfe de Vilamoura, que se realiza todos os anos em Julho e Agosto, destinada a jovens que residem ou passam férias em Vilamoura, arredores e em todos os empreendimentos do Grupo Oceânico e que culmina com o Troféu Vilamoura Júnior. 

Findos esses dois meses, decidiu manter-se na Escola do CGV, mas só ao fim de um, dois anos é que começou a levar o golfe mais a sério, um desporto “mais complexo do que os outros”, considera. “As pessoas não têm noção disso, mas é dos mais difíceis que se pode ter, quando se quer um nível elevado e competitivo, porque envolve um leque de competências muito vasto, desde o físico ao mental passando pelos aspectos técnicos, de coordenação e preparação.”

No passado fim-de-semana na Penha Longa / © FILIPE GUERRA 

Hoje representa o Clube de Golfe dos Laranjas, associado ao campo Laranjal da Quinta do Lago, ostenta um handicap de 1,5 e naturalmente é das melhores jogadoras portuguesas, tendo sido terceira classificada no Campeonato Nacional Absoluto Peugeot de 2016, no Oporto GC, só atrás da campeã Joana Silveira e da vice-campeã Beatriz Themudo. 

Além disso, a nível nacional, foi segunda em dois dos três últimos torneios do Circuito Allianz (o principal circuito de alta competição da Federação Portuguesa de Golfe) – o último de 2016 e o segundo de 2017, este no passado fim-de-semana na Penha Longa. 

Também foi vice-campeã o ano passado na 4.ª edição da Paul McGinley Junior Cup, disputada no “seu” Laranjal Golf Club, ocasião em que teve o privilégio de contactar com Paul McGinley, o jogador e capitão da Ryder Cup que dirige uma academia na Quinta do Lago. 

“Neste momento o golfe é a minha prioridade número um e por isso esforço-me”, explica. “O objectivo é ir o mais longe que conseguir – e daí é que vêm estes que eu considero ainda pequenos resultados, ou esse pequeno protagonismo, mas que eu espero que se transforme em algo maior, no futuro próximo.” 

Considera que tem “assistido a uma evolução consistente” no seu jogo e espera que isso a permita começar a fazer melhores resultados mais consistentemente e a entrar na selecção nacional. 

Treina todos os dias, e com frequência continua a fazê-lo nos campos da Oceânico em Vilamoura, porque ficam mais perto de onde mora actualmente, em Boliqueime. “Só que considero que não treino o suficiente ou aquilo que gostaria de treinar. É possível que num mês faça 30 treinos, mas em períodos curtos de tempo. Gostava que o treino pudesse ser mais sistematizado.” 

O Inverno, com os dias mais curtos, não ajuda, nem os estudos – está no 12.º ano na Escola Secundária Doutora Laura Ayres, em Quarteira. “Considero-me uma aluna muito razoável apesar de não gostar muito de estudar. Tento manter-me tanto de um lado como de outro.”

Este ano começou a época a tentar aumentar o ritmo competitivo, pois acha que “não chegam as competições que temos”. Daí ter entrado em três provas do Algarve Pro Golf Tour [forte circuito profissional em que competem muitos jogadores do Challenge Tour e alguns dos melhores portugueses]. 

“Foram experiências muito boas. Não é que seja o meu objectivo continuar nesse ritmo, foi só para estar mais naquela atmosfera e para ver como era, porque ainda por cima é no Algarve e está muito acessível.” 

A mudança do CGV para o Clube de Golfe dos Laranjas deu-se há cerca de um ano. “Deveu-se a vários factores, nomeadamente ao facto de eu achar que seria bom uma mudança, o dar um salto para uma coisa diferente. Pareceu-me bem este projecto da Quinta do Lago que está agora a aparecer, pela estrutura, planeamento e organização desportiva. O Clubes dos Laranjas em concreto foi mais por uma questão de marketing, eles acharam positivo ter uma figura feminina e júnior associada ao Laranjal, que tem a peculiaridade de ter só membros estrangeiros, é um clube restrito e elitista.” 

O Laranjal é próximo da casa dos pais de Ricardo Melo Gouveia e onde ele morou antes de se mudar para Londres. É lá que o n.º 1 de golfe português treina quando está em Portugal, e muitos dos seus membros julgavam inicialmente, pelo apelido comum, que Sara era sua irmã. “Já o vi treinar lá, já nos cruzámos, mas só o conheço de vista”, diz a jogadora. 

Afinal, o seu pai é que tinha razão. “Não sei como ele fez isso, mas acertou”, reconhece, agradecida.

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