Rio 2016, a Olimpíada do Selfie

Selfo, logo existo

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Nas Olimpíadas no Rio, o que mais se viu foi gente fazendo selfie Marko Djurica/Reuters (arquivo)

Em dezembro de 2012, em Londres, me deparei pela primeira vez com a palavra selfie. Palavra que foi incorporada ao Dicionário Oxford, prestigioso guardião da língua inglesa, em meados de 2013 sob a justificativa que o uso dessa palavra registrou um crescimento de mais de 17.000% em apenas um ano.

Selfie, segundo entendidos, já era uma palavra pipocando em chats e redes sociais, cujo uso de fato explodiu no ano de 2013, de tal forma que vários veículos da mídia, como CNN, Guardian e outros a elegeram como a palavra do ano.

Um auto retrato feito com celular? Mesmo quem não tiver um smartphone – por exemplo, a velha bisavó – certamente terá sido retratado em um selfie, ainda que contra a vontade.

O selfie via de regra é feito com o objetivo imediato de postar em redes sociais. Além disso, o aumento viral do selfie criou um mercado para um acessório impensável na década passada: o braço extensor, batizado como pau-de-selfie, que permite colocar o smartphone em distância maior que o braço de tal forma a produzir enquadramentos mais interessantes e mais abrangentes do que a fotografia de rosto.

Assim a cultura do selfie está atualmente baseada nos pilares smartphone, redes sociais e pau-de-selfie. É uma forma interessante de fazer com que qualquer indivíduo se torne protagonista de situações que valem a pena ser transmitida e compartilhada em tempo real com comunidades globais de amigos e contatos em redes sociais.

Goste você ou não, tudo leva a crer que o selfie veio para ficar. Em minha opinião é uma forma de nos sentirmos todos meio que celebridades.

Nas Olimpíadas no Rio, o que mais se viu foi gente fazendo selfie. Em todos os lugares, a qualquer hora, em qualquer circunstância. Cariocas, turistas, ricos, pobres, até mesmo mendigos.

Me causou certa estranheza ver os atletas desfilando nas cerimônias de abertura e fechamento das Olimpíadas realizadas no Maracanã, de forma unânime tirando os selfies de sua passagem gloriosa. Boa parte deles, é bom que se diga, ainda portavam o tal pau-de-selfie, que ainda considero meio trambolho.

Não seria mais conveniente e agradável concentrar as emoções na fruição daquele momento? Tirar um selfie não deslocaria o foco de viver plenamente aquela experiência única? Não, diz minha filha, representante da Geração Z, autêntica nativa digital: o selfie olímpico adiciona ainda mais prazer ao momento.

Isso é bom, ruim, chato, legal? Não sei. Mas entendo que se trata de uma nova natureza humana própria dos bravos tempos digitais. Essa é uma questão metafísica que precisa ser reenquadrada no contexto das Personas Digitais que estamos ainda desenvolvendo.

Freud, vivesse nestes tempos, provavelmente atualizaria sua teoria psicanalítica postulando que uma pessoa tem id, ego, superego e selfie, sendo este último a sua expressão pública digital.

Selfo, logo existo, diria por sua vez Descartes! 

 

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