Abriu, finalmente, a casa do futebol português

Sem verbas públicas e sem crédito bancário, a Cidade do Futebol abriu as portas no Alto da Boa Viagem, em Oeiras. A obra demorou aproximadamente 500 dias e custou um total de 15 milhões de euros. Será já aqui que Fernando Santos irá trabalhar com a selecção antes de partir para o Euro de França.

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Visita do Presidente da República à Cidade do Futebol

Em apenas 17 meses a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) transformou um decadente parque de estacionamento de serventia ao Estádio Nacional, em Oeiras, na moderna Cidade do Futebol. E, coisa rara, inaugurou a infra-estrutura na data prevista (coincidindo com o 102.º aniversário da instituição), sem desvios orçamentais e sem dinheiros públicos, para além da cedência dos terrenos do Jamor. A nova casa das selecções não terá a sumptuosidade de outros equipamentos similares que servem algumas das mais cotadas selecções europeias, mas é o culminar de um sonho de décadas sempre adiado. Será já aqui que o seleccionador nacional, Fernando Santos, irá realizar o estágio final antes do Euro 2016.

A Espanha tem a Cidade do Futebol de Las Rozas; a França, o reputado Centro Técnico Nacional, em Clairefontaine; a Itália trabalha as suas selecções em Coverciano, perto de Florença; a Inglaterra abriu em 2012 o Centro Nacional de Futebol de St. George’s Park e Portugal, numa dimensão mais modesta, juntou-se nesta quinta-feira a este grupo, inaugurando oficialmente a sua Cidade do Futebol, no Alto da Boa Viagem, em Oeiras. No total, a FPF investiu 15 milhões de euros nas novas instalações, que albergam o primeiro complexo de treinos centralizados das 22 selecções nacionais, o novo centro logístico e a nova sede federativa.

“Hoje [ontem] a FPF faz 102 anos e esta Cidade abre uma nova forma de pensar futebol, de pensar o desporto”, garantiu esta quinta-feira Fernando Gomes, presidente da FPF, visivelmente emocionado, numa cerimónia que contou com a presença do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (que inaugurou o equipamento), e do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, em representação do primeiro-ministro, António Costa, que não pode estar presente devido a problemas de saúde. Numa sala repleta de personalidades do futebol português e que até conseguiu aproximar (estavam sentados a poucas cadeiras de distância) os desavindos presidentes do Sporting e Benfica, a ausência mais notada foi a do líder do FC Porto, Pinto da Costa.

Para a viabilidade da Cidade do Futebol foram fundamentais os apoios financeiros da FIFA e da UEFA, numa comparticipação total de sete milhões de euros (1+6), com a FPF a suportar integralmente o restante investimento e sem necessidade de recorrer a créditos bancários. “O investimento exigia uma obra simples e funcional e o programa financeiro foi cumprido na íntegra”, explicou Tiago Craveiro, director-geral da FPF, no final de uma visita à infra-estrutura destinada à comunicação social, na última quarta-feira, que contou também com a presença de António Laranjo, coordenador da obra.

“Chegámos aqui depois de pensar em dez estádios e 25 centros de treino construídos para o Euro 2004. Visitámos em pormenor os centros de estágio e academias dos quatro maiores clubes portugueses e visitámos no estrangeiro, entre outros, o centro de treinos do Real Madrid. Apanhámos todos estes conceitos e procurámos fundi-los, com umas pitadas de sal, para construir a Cidade do Futebol”, explicou o antigo administrador da Sociedade Euro 2004.

Um equipamento que não contará, para já, com uma unidade para dormidas dos jogadores e equipas técnicas, face à vasta oferta hoteleira na região. “Pareceu-nos mais eficiente, pelo menos nesta fase, continuar a utilizar em parceria as unidades hoteleiras estratificadas por selecção, conforme as suas exigências. Não nos queremos servir da comunidade aqui à volta como ‘barriga de aluguer’, mas sim tentar dinamizá-la com esta infra-estrutura”, justificou Tiago Craveiro.

Após inaugurar a Cidade do Futebol e de visitar as instalações, Marcelo Rebelo de Sousa salientou a importância do equipamento para o futuro do futebol português e das selecções. “Esta Cidade do Futebol engloba desde os [jogadores] que se iniciam até aos mais consagrados e será aceite e apoiada se contribuir para cultivar valores. Portugal merece acreditar mais em si próprio. Que esta Cidade do Futebol seja um passo inquestionável para esse reencontro nacional", reforçou no seu discurso desta quinta-feira, antes de lembrar que também esteve ligado directamente ao mundo do futebol, nomeadamente como dirigente da FPF, num período conturbado da história portuguesa, entre 1974 e 1976.

Alvo de muitas atenções foi igualmente Fernando Santos, que será o primeiro técnico da selecção A a trabalhar nas novas instalações. “Isto é importante para o trabalho que vamos desenvolver. Pode vir a ajudar porque não andamos com a casa às costas em termos de treino e há uma série de logística que fica completamente ultrapassada no sentido positivo. O espaço é bom, os campos são bons e vai ser tudo feito de acordo com as nossas necessidades, não só da equipa A como de todas as selecções nacionais”, resumiu.

Menos efusivo esteve Gilberto Madaíl, antecessor de Fernando Gomes na presidência da FPF: “É um projecto um bocado diferente daquele que nós tínhamos imaginado, com hotel, piscina, pavilhão, por exemplo. Mas é melhor ter esta Cidade do Futebol do que estarmos como estávamos: sem nada”, disse à chegada ao equipamento. Mesmo assim, o ex-dirigente federativo admitiu que agora as selecções terão melhores condições para alcançarem os desejados sucessos desportivos: “Vai contribuir muito para o rendimento dos jogadores nos jogos.” Para já, a expectativa geral é que contribua para estimular o sucesso da selecção no Europeu de França.

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