Portugal e Ronaldo voltam a uma final

A selecção portuguesa fica agora à espera de saber se jogará com a França ou a Alemanha, em Paris, no domingo, na partida decisiva do Europeu de futebol.

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Os jogadores portugueses festejam um dos golos apontados ao País de Gales Carl Recine/Reuters

É um dos capítulos mais gloriosos do futebol português e só encontra paralelismo no Europeu de 2004. A selecção nacional estará, no próximo domingo, em Paris, para decidir o título com a França ou a Alemanha, naquela que será a segunda final do seu historial num grande torneio, a primeira fora de portas. Será também a grande oportunidade de Cristiano Ronaldo chegar ao olimpo com a bandeira das “quinas”, ele que a colocou, esta quarta-feira, no jogo decisivo, ao mesmo tempo que igualava Michel Platini como o melhor goleador de sempre em Europeus. Frente ao País de Gales, grande sensação do torneio francês, a equipa nacional alcançou o triunfo menos suado da sua campanha, com uma vitória clara por 2-0, a primeira obtida no tempo regulamentar.

Não podia ter sido mais sinuoso o caminho até esta meia-final. Depois da enorme desilusão da fase de grupos, dos thrillers nos “oitavos” e quartos-de-final, a partida com os galeses, motivados pela eliminação da candidata Bélgica, prometia mais uma sessão de enorme tensão. Mas não. Ou, pelo menos, nem por isso. O triunfo começou a desenhar-se ao início da segunda parte, depois de um primeiro tempo absolutamente aborrecido, e nunca chegou a ser ameaçado. Na realidade, os números da eliminatória até poderiam ter sido bem mais desnivelados. E isto era algo a que os portugueses não estavam de todo habituados neste Euro.

Num confronto que antecipava uma luta privada entre Cristiano Ronaldo e Gareth Bale, o madeirense fez um xeque-mate com classe. Isto num estádio que é talismã para o português nesta competição. Foi aqui que salvou a selecção da vergonha do afastamento da fase de grupos, com dois golos e uma assistência que permitiram o empate salvador frente à Hungria. Voltou 14 dias depois para abrir as cortinas da final, assinando um golo e uma assistência para o segundo. Depois das expectativas frustradas nas duas primeiras partidas deste Euro, o capitão português manteve a trajectória implacável rumo à galeria dos maiores jogadores de todos os tempos. E, para já, o “príncipe” de Gales, seu natural herdeiro no Real Madrid, terá de esperar mais algum tempo pela sucessão.

Para defrontar os galeses Fernando Santos voltou a driblar as apostas que recaíam sobre a equipa titular. Algo que tem tido o condão de conseguir desde a segunda partida da competição. Desta vez, tirou da cartola o defesa central Bruno Alves – face à lesão de Pepe –, que passou a ser o 21.º jogador utilizado neste torneio, onde apenas os guarda-redes suplentes Anthony Lopes e Eduardo ainda não somaram minutos. Mais expectáveis eram as outras alterações, com o recuperado Raphaël Guerreiro a render Eliseu no lado esquerdo da defesa e Danilo a assumir naturalmente a posição do castigado William Carvalho no meio-campo defensivo.

Com este rearranjo no tabuleiro, Portugal partiu para o campo, onde o aguardava um conjunto galês que costuma fazer pagar caro a quem o subestima. Não foi de todo o caso. Pelo contrário, a selecção nacional até se apresentou demasiado receosa nos primeiros 45’, com um respeito transcendente pelo adversário. O resultado foi um primeiro tempo maçador, com escassíssimas oportunidades de golo em ambas as balizas e, praticamente, sem nenhuma sugestão de risco. Pelo passado do conjunto de Fernando Santos no torneio e face ao cenário, esperava-se uma longa indefinição no rumo da partida. Mas não.

O segundo tempo chegou e, pouco depois, toda a gente ficou bem acordada no Estádio de Lyon. Um canto curto de João Mário, um cruzamento precioso de Raphaël Guerreiro, Cristiano Ronaldo suspenso no ar e golo. O cronómetro marcava 50 minutos quando, pela segunda vez em França, o astro português punha a cabeça ao serviço da selecção. O País de Gales, que tem neste tipo de lances uma das suas melhores armas, parecia não acreditar. Até aí tinha procurado anular todos os movimentos do atacante madeirense, por vezes recorrendo à dureza, ou mesmo à ilegalidade, como aconteceu logo aos dez minutos, quando James Collins fez uma “gravata” a CR7, dentro da área, que escapou ao árbitro.

Enquanto os portugueses festejavam, Bale procurava motivar os seus companheiros no centro do terreno, mas não houve motivação que resistisse ao segundo murro no estômago, quatro minutos depois do primeiro. Uma assistência/remate de Ronaldo foi desviada de “carrinho” por Nani para o fundo das redes. A euforia tomou conta das bancadas com as bandeiras nacionais e o desânimo ganhou força nas hostes galesas dentro e fora do relvado.

Com uma desvantagem de dois golos, Chris Coleman apostou tudo o que tinha. Mais um avançado e um médio ofensivo, mas quem esteve quase sempre mais próximo do terceiro foi Portugal. Com espaço e uma partida mais aberta, a selecção passou a jogar como se sente mais confortável, lançando venenosos contra-ataques que só não resultaram em mais golos por manifesta infelicidade ou escandalosa falta de pontaria.

Portugal e o “rei” Ronaldo estarão em Paris para discutir o título. Poucos o adivinhariam quando rastejou da fase de grupos para os oitavos-de-final.

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