Portugal decide tudo em Lyon

A Hungria já está nos oitavos-de-final e vai discutir com a selecção nacional a hierarquia no Grupo F. Cristiano Ronaldo continua a ser o alvo de todos os comentadores e tem uma nova oportunidade de responder às vozes mais críticas.

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A seca de golos de Cristiano Ronaldo tem sido muito escalpelizada DARREN STAPLES/REUTERS

Bernd Storck, seleccionador da Hungria, está tão surpreendido como todos aqueles que têm acompanhado o Euro 2016. O que está a acontecer a Portugal? Como pode a equipa de Fernando Santos, que partiu para França como assumida candidata ao título e favoritíssima a vencer o Grupo F, ter o apuramento para os oitavos-de-final tão tremido? É claro que tudo pode mudar nesta última jornada e a selecção nacional dar a volta por cima à situação. Depende de si própria para encerrar as contas no primeiro lugar e fazer esquecer a desilusão dos dois empates iniciais, contra adversários francamente inferiores. Para tal, necessita apenas concretizar algumas das inúmeras oportunidades de golo que tem criado e que Cristiano Ronaldo volte a ser Cristiano Ronaldo: o homem-golo.

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“Tinha total convicção, antes do Euro, que Portugal era o favorito a vencer o grupo e um dos principais candidatos ao título”, admitiu Storck, durante a antecipação da partida desta quarta-feira: “Agora, o nosso adversário precisa destes pontos como de pão para a boca. Quem diria isto no início do torneio?” Mas também quem diria que seria a Hungria a liderar o Grupo F por esta altura? Uma selecção que, apesar do inesperado triunfo contra a Áustria (2-0), está ainda muito longe de convencer, como se viu no empate com a Islândia (1-1), alcançado nos derradeiros instantes do encontro.

Mas tem sido assim o Grupo F, pródigo em surpresas e indefinido até ao fim. De tal forma que alguns comentadores desportivos franceses já o apelidaram, com algum escárnio à mistura, de “grupo da morte”. Nos programas televisivos dedicados ao Euro, o tema é recorrente. Os portugueses têm sido melhores do que os adversários, criam inúmeras oportunidades para marcar, mas não acertam com as redes. E isto torna-se tão mais estranho para os gauleses quando se trata de uma selecção comandada pelo maior goleador nascido na Europa.

A seca de golos de Cristiano Ronaldo tem sido escalpelizada por toda a comunicação social. No diário espanhol El País, o jornalista Diego Torres, que acompanha tudo o que se passa com CR7, tanto no Real Madrid como ao serviço da selecção, responsabiliza o mais internacional jogador português de sempre pelos maus resultados da sua equipa. “O drama de Portugal é o drama de Cristiano, que não concebe o futebol sem ser o foco da atenção. O seu desejo de assumir responsabilidades de todo o tipo deixa os seus companheiros num segundo plano, já que está sempre a pedir a bola.”

Opinião diametralmente oposta tem o jornalista Sérgio Fernández, que escreve sobre Ronaldo e a selecção portuguesa há sete anos para o diário desportivo espanhol Marca. “Não se passa nada nem com Cristiano nem com Portugal. Apenas não marcaram golos”, sintetizou ao PÚBLICO: “No Real Madrid aconteceu o mesmo. Esteve um período sem marcar, no arranque desta época e, depois, marcou cinco num jogo e calou toda a gente. Não acredito nessas histórias das ansiedades e crises. Fisicamente, está bem para a época esgotante que teve.”

Sérgio Fernández defende com a mesma convicção a selecção nacional. “A equipa está muito acima da média em relação ao que tenho visto neste campeonato. De resto, ninguém tem sido muito brilhante, salvo a Alemanha e a Espanha. E a diferença destas duas selecções para Portugal é que marcaram mais golos. Mas, pelo que já vi no passado, acredito que Portugal irá responder num jogo decisivo como este e não me admiraria nada se chegasse mesmo à final”, concluiu.

O grande drama do conjunto de Fernando Santos neste Europeu tem sido ultrapassar adversários com blocos muito baixos e muito fechados nas suas defesas, algo que deverá voltar a enfrentar com a Hungria. O próprio seleccionador magiar não esconde que o plano que montou para este jogo está muito centrado na segurança junto da sua baliza. “A nossa força é a nossa disciplina defensiva. Vamos organizar o jogo de trás para a frente e esperar pelas oportunidades certas para contra-atacar”, admitiu Bernd Storck, que parte para este jogo com a garantia de já ter a sua equipa qualificada para os oitavos-de-final.

Já Fernando Santos recusa determinantemente a alterar a filosofia de jogo de Portugal, que passa por assumir a partida desde o primeiro instante. “Quero reiterar que fizemos dois bons jogos neste Europeu. Um [Islândia] razoável-bom e o outro [Áustria] bom. O problema foi não concretizarmos as oportunidades que criámos”, justificou. A estratégia também não irá sofrer alterações: “Como princípio jogamos em 4-4-2, que se pode desdobrar em momentos do jogo num 4-4-3, num 4-4-2 em losango ou num 4-4-2 mais clássico.”

Mais dúvidas, tem o seleccionador em relação ao “onze” que irá apresentar em Lyon, face aos problemas musculares de Raphael Guerreiro e André Gomes. Ou seja, poderá ser obrigado a alterar todo o corredor esquerdo se os dois jogadores não recuperarem a tempo. Nesse caso, Eliseu seria a solução óbvia para o lado canhoto da defesa, enquanto Adrien ou Renato Sanches surgem como as opções mais credíveis para o meio-campo.

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