O sonho são as finais mas o objectivo é estar nas meias-finais

Portugal estará representado no Rio de Janeiro por cinco nadadores, um deles na prova de águas abertas. As expectativas são limitadas e o pensamento passa por tentar melhorar os recordes pessoais ou nacionais

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A natação portuguesa ainda está longe do topo KIRILL KUDRYAVTSEV/AFP

Não existe propriamente uma tradição da natação nacional nos Jogos Olímpicos e isso reflecte-se no pensamento com que partem os atletas que vão representar Portugal no Rio de Janeiro. A proeza de Alexandre Yokochi, que em 1984 nadou a final dos 200m bruços (foi sétimo, numa competição que decorreu em circunstâncias especiais, já que os Jogos de Los Angeles foram marcados pela ausência de muitos atletas devido ao boicote soviético seguido por 13 outros países), continuará a ser um feito isolado. Para os quatro nadadores portugueses que vão estar no Rio 2016, a presença nas finais é, reconhecidamente, um objectivo utópico. Junta-se-lhes Vânia Neves, que vai nadar a prova de águas abertas, em Copacabana.

Já há bons motivos para o ano 2016 ser recordado na história da natação portuguesa. Em Maio, com uma medalha de bronze obtida por Alexis Santos nos Europeus de piscina longa, na prova dos 200m estilos, quebrou-se um jejum de pódios a nível continental que durava desde 1985, quando Alexandre Yokochi alcançou a prata nos Campeonatos da Europa. Mas este feito do nadador do Sporting não altera um milímetro os objectivos com que a delegação portuguesa parte para o Rio de Janeiro. Na natação, o pensamento passa por tentar melhorar os recordes pessoais ou nacionais, lutar pela presença nas meias-finais e sonhar com a presença numa final – algo que, já se sabe, será praticamente impossível de conseguir.

Quando, há pouco tempo, o presidente da Federação Portuguesa de Natação (FPN), António José Silva, apresentou a sua recandidatura ao cargo, traçou o objectivo de “continuar a diminuir o fosso entre a natação portuguesa e mundial”. Para já, há motivos para estar optimista: o director técnico nacional, José Machado, sublinhou que o grupo de nadadores que estará no Rio de Janeiro faz um “atestado de rigor” ao trabalho que tem sido desenvolvido: “Vão estar nos Jogos Olímpicos três nadadores com os mínimos A, contra apenas um em Londres 2012.”

Com excepção de Diogo Carvalho (que também esteve na final dos Europeus em que Alexis Santos chegou ao bronze, mas quebrou nos últimos metros e terminou no quinto lugar), a comitiva portuguesa na natação é constituída por estreantes. O nadador do Galitos é o único com experiência olímpica no currículo, tendo estado em Pequim 2008 (200m estilos) e Londres 2012 (200m estilos e 400m estilos). “É uma sensação um pouco diferente dos primeiros e dos segundos. Estou um pouco mais experiente, mais sensato e mais entendedor daquilo que me vai aparecer pela frente”, reconheceu Diogo Carvalho à Lusa.

“Estar entre os 16 primeiros é o meu objectivo. A final seria um sonho, mas o objectivo é a meia-final. Escolhi com o meu treinador fazer este pico de forma no Europeu precisamente para isso. Eu sabia que se as coisas corressem bem no Europeu, seria mais fácil estar bem nos Jogos Olímpicos”, explicou Alexis Santos, em entrevista ao PÚBLICO, após o bronze conquistado em Maio.

Para além de Diogo Carvalho e Alexis Santos, também Victoria Kaminskaya estará no Rio de Janeiro por ter obtido o mínimo A. A nadadora nascida na Rússia qualificou-se para os 200m estilos e 400m estilos, estabelecendo novos recordes nacionais em ambas as provas. No caso dos 400m estilos, tirou mais de três segundos à anterior marca, que já lhe pertencia. Kaminskaya vai estrear-se em Jogos Olímpicos.

A comitiva fica completa com a igualmente estreante Tamila Holub, descrita pelo Comité Olímpico de Portugal como “o mais promissor talento da natação portuguesa”. Aos 17 anos, a nadadora nascida na Ucrânia já é detentora de vários recordes nacionais absolutos e um deles valeu-lhe a qualificação nos 800m livres. A jovem não podia chegar ao Rio 2016 com mais confiança: no início de Julho disputou os Campeonatos Europeus de juniores, na Hungria, onde se sagrou vice-campeã nos 800m livres e campeã dos 1500m livres. “Parece um sonho”, confessou após conquistar a medalha de ouro. Às vezes os sonhos tornam-se realidade, e se isso acontecesse no Rio de Janeiro a natação portuguesa estaria a escrever história.

Vânia Neves nas águas abertas

A representação portuguesa nas águas abertas esteve em risco, mas Vânia Neves acabou por obter uma vaga na prova de dez quilómetros que vai disputar-se em Copacabana. A nadadora vianesa foi 16.ª classificada na prova de qualificação olímpica, disputada em Setúbal, onde se apuravam as 15 primeiras, mas recebeu o convite da federação internacional para ocupar o lugar da neozelandesa Charlotte Webby, que garantiu a vaga continental pela Oceânia mas não reuniu os requisitos mínimos estabelecidos pela sua federação para a qualificação olímpica, uma vez que foi 31.ª classificada.

Atletas

Alexis Santos (estreante)            200m estilos e 400m estilos

Diogo Carvalho (terceira participação)   200m estilos

Victoria Kaminskaya (estreante)              400m estilos

Tamila Holub (estreante)            800m livres

Vânia Neves (estreante)             10km águas abertas

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