O jogo grande está marcado para Bordéus, mas a surpresa pode chegar de Saint-Denis

País de Gales e Islândia são as surpresas nos quartos-de-final do Euro 2016, que terá um duelo entre as duas selecções mais consistentes

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AFP

Duas meias surpresas depois (eliminações da Inglaterra e da Espanha), as oito melhores selecções do Euro 2016 começam hoje a lutar por um lugar nas meias-finais. Após 44 jogos e 88 golos, Itália e Alemanha, que estarão frente a frente em Bordéus, foram as equipas mais consistentes, enquanto as estreantes Islândia e País de Gales são a lufada de ar fresco na prova ao conseguirem intrometer-se entre os favoritos. A anfitriã França ainda não impressionou mas, ao contrário do que aconteceu com Portugal, tem passado incólume a grandes críticas.

O primeiro semifinalista do 15.º Campeonato da Europa sairá do duelo desta noite no Vélodrome, em Marselha, que colocará em confronto duas selecções com percursos opostos. Se Portugal terminou a fase de grupos debaixo de críticas pelos três empates que consentiu, apesar de ter sido sempre claramente superior aos rivais, a Polónia apenas na estreia, contra a Irlanda do Norte, dominou por completo o adversário. Com a melhor geração de jogadores desde a primeira metade da década de 80, quando Boniek, Mlynarczyk, Zmuda, Smolarek e Lato brilhavam, os polacos terminaram os duelos com Alemanha, Ucrânia e Suíça com menos remates e menos percentagem de posse de bola, mas revelaram-se sempre um conjunto compacto, com uma defesa robusta, um meio-campo que não vira a cara à luta e muito talento ofensivo. Com Lewandowski ainda em “branco”, Milik, "Kuba" e Krychowiak têm sido os jogadores em destaque no adversário de Portugal.

Amanhã, em Lille, haverá um frente a frente entre equipas que se conhecem muito bem. Após partilharem o mesmo grupo nas fases de qualificação para o Mundial 2014 e Euro 2016, País de Gales e Bélgica vão medir forças no Stade Pierre-Mauroy e a história recente dos confrontos entre galeses e belgas não podia ser mais equilibrada: dois empates e uma vitória para cada lado. Estreantes na competição e com uma prestação sóbria, os britânicos impressionaram contra a Rússia e têm um super Gareth Bale, que na selecção mantém o nível exibicional apresentado no Real Madrid. O favoritismo, no entanto, será dos belgas, apesar da habitual volubilidade da equipa liderada por Marc Wilmots. Com uma das mais talentosas gerações futebolísticas da sua história, a Bélgica tem tardado em conseguir que todas as suas vedetas formem uma verdadeira equipa e a excessiva dependência do talento individual de Hazard, De Bruyne, Witsel ou Mertens reflectiu-se na inconstância dos belgas que, em França, têm oscilado entre o sofrível (Itália e Suécia) e o excelente (Rep. Irlanda e Hungria).

Para sábado, está guardado o grande jogo dos quartos-de-final. Alemanha e Itália, as duas selecções mais consistentes e convincentes até ao momento, vão reeditar em Bordéus a meia-final do Euro 2012, num confronto de desfecho imprevisível. Actuais campeões do Mundo, os alemães derrotaram de forma clara a Eslováquia nos “oitavos”, mas esta Mannschaft parece ter falta de potência ofensiva. Joachim Löw começou por apostar em Mario Götze como jogador mais avançado no seu 4x2x3x1, mas o habitual médio do Bayern pareceu sempre pouco adaptado ao lugar, obrigando o seleccionador germânico a resgatar Mario Gómez. Para uma equipa que tem exibido dificuldades ofensivas – contra a Polónia e a Irlanda do Norte isso foi uma evidência -, não podia haver pior notícia do que ter pela frente a Itália de Antonio Conte. Sem grandes estrelas, mas com um grande treinador, os “azzurri” têm exibido em França um jogo eficaz, sóbrio e repleto de simplicidade e nos “jogos a doer”, contra a Bélgica e Espanha, deram uma lição táctica aos rivais. Com uma consistência defensiva “made in Juventus”, um meio campo extremamente fiável e uma dupla de ataque (Éder e Pellè) que se complemente na perfeição, esta “squadra azzurra” parece ter argumentos suficientes para manter a tradição: As duas equipas defrontaram-se oito vezes e a "mannschaft" nunca venceu.

O último semifinalista será conhecido domingo, no Stade de France, onde a pouco convincente França terá pela frente a impressionante Islândia. Com uma defesa frágil (Varane, Mathieu, Zouma e Sakho fazem muita falta) e problemas a meio-campo (Matuidi está em sub-rendimento, Pogba tem feito uma prova para esquecer), “les bleus” ainda não tiveram um jogo de grau de dificuldade elevado e têm conseguido vitórias sofridas à custa de rasgos individuais de jogadores como Payet ou Griezmann. Perante as óbvias dificuldades gaulesas, o que há três semanas parecia impossível pode tornar-se realidade e a menosprezada Islândia pode conseguir o feito de chegar às “meias”. Com um crescimento sustentado – em 2011 os islandeses estiveram na fase final do Europeu de Sub-21 –, um apuramento meritório (vitórias contra a Rep. Checa, a Turquia e a Holanda), um treinador sagaz (o sueco Lagerbäck) e um futebol musculado, mas com jogadores de muita qualidade, como Gunnarsson, Sigurdsson ou Sigthórsson, a Islândia será um grande quebra-cabeças para Didier Deschamps. 

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