O estádio do desporto

Há que se questionar a produtividade desportiva nacional, independentemente de surpresas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro.

A situação do desporto assemelha-se à trivitória do glorioso sob o manto de estudos de certo instituto de marketing que em cada evento do futebol diz haver um impacto económico de milhões de euros, o que é um engano económico. Há benefícios de agentes ligados aos eventos mas o impacto não é nacional porque as receitas indicadas substituíram despesas que os adeptos deixaram de fazer em benefício de outros agentes. Entre o benefício do futebol e a perda de outros o impacto económico é zero. O instituto afirma o impacto nacional há anos sem a correcção da opinião pública desportiva. Simultaneamente o diálogo entre líderes no futebol não tem regras e nas TV’s toda a verdade é verdadeira enquanto a judiciária sugere que há corrupção e manipulação de resultados. Há muitas coisas boas no desporto português que não conseguem a atenção merecida e outras como a sua economia são maltratadas.

O desporto tem comportamentos que agravam a destruição de valor desportivo que se tornou superior ao frágil investimento. As causas directas desta realidade são actos contrários aos princípios da actuação públicos. Desde há décadas a fragilização institucional do desporto vê-se na colectânea de siglas para a mesma agência pública: DGD, INDESP, IND, IDP, IPDJ. Neste caldo de nomes promovido pelo desporto dissolvem-se princípios e promovem-se inabilidades.

O departamento das infraestruturas desportivas do ex-IND foi posto em causa a partir da criação do QCA desporto no início do século XXI que colocou fora da instituição o investimento de milhões de euros para espaços de desporto. Depois dos milhões gastos, desconhece-se o que são e para que servem as infraestruturas desportivas nacionais. Em certa altura foi bem atribuído à Câmara Municipal de Lisboa o Pavilhão Desportivo da Ajuda e à CM de Lamego atribuiu-se o Complexo Desportivo de Lamego que dependiam da administração central do desporto. Sendo correcta a atribuição à CM Lisboa do CD da Lapa em 2012 tem causas em certos propósitos de segmentação do desporto.

Foi legislado que a ASAE passasse a fiscalizar as instalações desportivas, função para o qual carece de competências e necessita de investir para atingir a qualificação do IPDJ, das autarquias e do associativismo desportivo. Noutro exemplo, a perda da creditação internacional do laboratório antidopagem (LAD) surge após afirmações de que sairia mais barato comprar análises do doping no estrangeiro do que fazê-las em Portugal. Esta é uma afirmação ideológica até demonstração dos euros da sua veracidade.

A formação de treinadores terá um bom programa de formação técnica e científica mas as condições de aplicação são caras segundo as federações desportivas. Há que valorizar o nível científico criado e investir publicamente na produtividade federada. A área do associativismo desportivo cumpre funções legais com resultados desportivos que são os mais frágeis no desporto europeu. Por hábito repetem-se políticas, aplica-se o habitual apesar da infelicidade dos resultados e sem propósitos de inovação. Desincentiva-se a investigação sobre o desporto moderno e prefere-se a mendicidade financeira junto de terceiros sectores que cuidam bem dos seus méritos e créditos.

Nota-se ao longo das décadas a duplicidade de critérios de políticas governamentais e na menorização do desporto em sectores concomitantes com os quais o sector deveria densificar redes de interesses complexas. Por exemplo, enquanto departamento público central a Fundação Inatel continuará as suas funções turísticas, culturais e desportivas de retalho local. A juventude aumenta activos para além do que acontece no desporto. A cultura amplia a sua importância em períodos de expansão económica e decresce menos do que o desporto. A perda de relevância do desporto na sociedade nota-se na Fundação Francisco Manuel dos Santos que não publicará livros sobre desporto ao contrário de sectores que considera terem diferente relevância social.

Perante certa destruição de capital humano e social no desporto nacional e do desinvestimento em capital físico e tecnologia desportiva que o Estado faz desde há muito, há que se questionar a produtividade desportiva nacional, independentemente de surpresas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro.

A situação do desporto português é complexa neste 25 de Abril de 2016.

O fado diz que a administração pública do desporto é aquele corpo esquartejado encontrado entre as colunas à beira-Tejo do Terreiro do Paço. “Morto por um louco” assegurou a comunicação social. Em pouco tempo a investigação judiciária estabelece a autoria de vários indivíduos que o Supremo Tribunal inocenta por não haver prova, por a acusação ser inconstitucional, por exercerem altos cargos, por serem inimputáveis, entre outros motivos. O fado canta que alguns terão sido ou serão agraciados num 10 de Junho.

Economista, fjstenreiro@gmail.com

Sugerir correcção
Comentar