Leonardo Jardim está a cumprir a sua terceira época no campeonato francês, ao serviço do Mónaco. Em 2014/2015 ficou em terceiro lugar, a 12 pontos do PSG, e na época passada foi novamente terceiro, mas a longínquos 31 pontos do mesmo adversário. Este ano, as coisas parecem estar a mudar.

É cedo, é certo, mas importantes sinais já foram dados pela equipa do principado. Após as cinco primeiras jornadas é líder isolada do campeonato, sem qualquer derrota, e na terceira ronda recebeu o rival directo, vencendo com clareza, por 3-1. Para a Liga dos Campeões, o Mónaco também conseguiu uma boa vitória, frente ao Tottenham, por 2-1, em Wembley [casa emprestada dos ingleses], perante 85 mil pessoas.

O PÚBLICO tentou perceber as razões para a aparente inversão de tendência na liga francesa junto de Olivier Bonamici, jornalista e comentador desportivo do canal Eurosport, além de monegasco e adepto do clube. “A principal razão é o plantel que o Mónaco tem, que é superior ao do ano passado. Este ano não deixou sair alguns jogadores-chave, como o Bernardo Silva e o Thomas Lemar, por exemplo. Finalmente o Mónaco percebeu que não é apenas ganhar dinheiro com jogadores. Este é um plantel de qualidade, em que há concorrência para cada lugar, o que oferece a possibilidade de se fazer uma gestão interessante. Leonardo Jardim pode até dar-se ao luxo de deixar algumas vezes no banco o melhor jogador do Mónaco, que para mim é o Bernardo Silva”, disse Bonamici, realçando também “o enorme orçamento” do clube, “bastante elevado” para a realidade do futebol francês.

Acrescentamos outra razão: a ausência de pressão. O mundo do futebol espera que o PSG se sagre pentacampeão e o Mónaco pode capitalizar com isso. Experiente, Leonardo Jardim já tratou de colocar toda a pressão no rival. “A nossa equipa é mais equilibrada, tem mais soluções, mas a equipa favorita para ganhar o campeonato, que é uma competição de longa duração, é o PSG”, afirmou o treinador português, após a vitória por 3-0 frente ao Rennes.

Jardim é, precisamente, um dos factores a que Olivier Bonamici se refere quando instado a comentar o bom início de época do Mónaco. “Está mais solto, mais à vontade, mais adaptado. Parece um novo Leonardo Jardim, com um discurso mais pausado e mostra muito menos nervosismo”, considerou, lembrando que o técnico português chegou a ser criticado, “e com razão”, na época passada: “Foi por causa da qualidade do futebol. As pessoas adormeciam a ver os jogos do Mónaco. Para mim era uma tortura. Este ano tem sido uma surpresa a nível de resultados mas também de exibições”.

O Mónaco também beneficia de um PSG um pouco menos forte que em anos anteriores. O treinador saiu Laurent Blanc, ao fim de três épocas, e entrou Unai Emery, que, depois de quatro temporadas no Sevilha, ainda se procura adaptar a um grande do futebol europeu e a um campeonato no qual nunca tinha treinado. A nível dos jogadores saíram dois titulares indiscutíveis como David Luiz e Zlatan Ibrahimovic. “O PSG tinha a equipa construída à volta de Ibrahimovic e agora vai demorar algum tempo a virar a página. Mas continuo a pensar que tem a melhor equipa. Emery não deixou de ser um grande técnico”, considerou o jornalista e comentador.

Ainda é, de facto, muito cedo na época e, para chegar a um título que seria o sétimo da sua história, o clube do principado tem um longo caminho a percorrer. São 38 jornadas e na sexta, a disputar-se já esta quarta-feira, o Mónaco tem um dos testes mais exigentes deste início de temporada, ao jogar o derby do sul de França em casa do Nice, que, juntamente com os monegascos, é a única equipa que ainda não perdeu.

No que toca à posição final na tabela, Oliver Bonamici acredita, pelo menos, no segundo lugar. “O lugar do Mónaco não é o terceiro lugar. Tem tudo para, pelo menos, ser segundo no campeonato. Para mim seria uma enorme surpresa o Mónaco ser campeão de França. Seria um dos melhores resultados da história do clube, tendo em conta a concorrência do PSG”, concluiu, acrescentando que, em caso de ser vice-campeão e de se apurar para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, a época “já seria boa”.

No plantel do Mónaco alinha, além de Bernardo Silva, João Moutinho e dois jogadores que já se cruzaram com o futebol português: Fabinho, que passou brevemente pelo Rio Ave, e Radamel Falcao, que teve duas épocas de grande nível no FC Porto e que agora está 100% concentrado no principado, depois de empréstimos falhados a Manchester United e Chelsea.