Warburton: o treinador do momento na Escócia levantou voo no Sporting

Técnico assegurou nesta semana o regresso do Rangers ao principal escalão, após uma longa travessia no deserto.

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Russell Cheyne/Reuters

Um dia, Mark Warburton chegou a casa e teve uma conversa com a mulher: "Liz, temos dinheiro no banco, a casa está paga, o nosso estilo de vida não vai mudar. Quero fazer o seguinte, num período de 10 anos ter sucesso no futebol. É agora ou nunca". Corria o ano de 2004 e estava dado o tiro de partida para uma carreira de treinador que conheceu nesta semana o ponto mais alto até à data. Warburton foi o artífice do regresso do histórico Rangers ao primeiro escalão escocês, depois de uma longa travessia no deserto. E bem pode agradecer ao Sporting.

O trajecto do actual técnico do mais titulado clube do campeonato da Escócia é tudo menos vulgar. Sim, é verdade que se aventurou nos relvados, mas foi uma história curta e sem grandes recordações. Nascido em Londres, em 1962, Mark Warburton teve os primeiros contactos com o futebol no Leicester City, durante a adolescência. O currículo do lateral direito, porém, seria feito à base de emblemas secundários: primeiro o Enfield (1981 a 1985), no quarto escalão da hierarquia britânica, e depois o Boreham Wood (1985 a 1988), na semi-profissional Isthmian League, até que uma lesão nos ligamentos cruzados do joelho lhe antecipou o final da carreira.

Por esta altura, e ao contrário do que acontecera dentro das quatro linhas, já Warburton estava lançado noutro jogo: o da compra e venda de acções. Na qualidade de corretor de bolsa, trabalhou no Bank of America, na multinacional AIG e na RBS. E deu-se bem. "Durante 20 anos, levantava-me às 4h32, saía de casa às 4h52, apanhava o comboio das 5h02 para Liverpool Street e estava na minha secretária às 5h45. Depois, chegava a casa às 19h e ainda atendia chamadas pela noite dentro. Era bem pago, mas havia um risco enorme, muita pressão", descreveu ao jornal britânico The Telegraph, em 2014.

Esses dias loucos acabariam por lhe ser úteis dentro do balneário. O conforto financeiro que conseguiu e o apoio da família permitiram-lhe lançar-se de corpo e alma na empreitada de construir uma carreira de treinador. O passo seguinte era utilizar parte das poupanças para viajar pela Europa e tentar aprender o máximo possível em diferentes contextos competitivos. Mas os primeiros tempos foram aziagos: "Liguei a um conjunto de clubes quando deixei o emprego e todos me fecharam a porta na cara", recordou. Todos menos um. O Sporting.

"Eles convidaram-me para lá ir por alguns dias. Havia uma pessoa com quem falava regularmente, que é o Diogo Matos, que na altura era director no Sporting e era uma incrível fonte de conhecimento, com uma grande personalidade. Aprendi muito com ele e eles tinham um staff muito bom também", notou. Passou três meses em Lisboa, naquele que foi o trampolim para outras experiências de aprendizagem, no Ajax, no Valência, no Barcelona, no Dortmund, no Inter e no Anderlecht.

Foi neste carrossel de visitas que Warburton compreendeu a fundo a importância de toda a máquina que gira em torno de um clube. O treino é determinante, mas igualmente relevantes são os aspectos que permitem que decorra com normalidade. "Os jogadores são atletas, por isso temos de nos certificar que a alimentação é adequada, os campos são os ideais, que temos análise de vídeo, cuidados médicos, logísticos, tudo isso. Temos de lhes dar condições, não podemos dar-lhes nenhuma desculpa", assinalou, em declarações ao Daily Record.

Ensinamentos como este foi o que levou para os escalões de formação do Watford, em 2006, e mais tarde para o Brentford, em 2011, para desempenhar o cargo de adjunto. Depois de uma primeira tentativa falhada de se assumir como manager, teria a ansiada oportunidade em 2013. E agarrou-a, promovendo o clube ao segundo escalão do futebol britânico, o Championship. Dois anos mais tarde, e depois de o seu despedimento ter sido previamente antecipado pela imprensa, deixou Brentford por vontade da direcção. Começava o capítulo Rangers.

À chegada a Glasgow, o discurso foi no sentido de replicar o que fizera antes. "Ética de trabalho e união, esses são os pilares com os quais trabalho", anunciou, prometendo exigência mas também uma relação franca e transparente com os jogadores. Consigo, levou uma ideia de jogo mais ofensiva e um conjunto alargado de reforços sem nome feito que formou uma equipa compacta, de passe curto e fácil e grande mobilidade. Resultado? 79 pontos até agora (mais 17 que o segundo classificado, o Falkirk), com 83 golos marcados e 27 sofridos. 

Na próxima época, a capacidade de a direcção do Rangers contribuir para o reforço do plantel ditará parte do sucesso ou insucesso da equipa, que estará de regresso à alta roda do futebol escocês depois de vários anos a esbracejar nos escalões inferiores, como resultado da bancarrota sofrida em 2012. Mas uma coisa é certa: está garantida a reedição do denominado Old Firm derby, o grande clássico da Escócia, que opõe o Rangers ao Celtic.

 

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