Falta um ano para o futebol decidir se quer o vídeo-árbitro no Mundial

“Não vai resolver todos os problemas, mas vai tornar as coisas mais justas”, disse David Elleray, director-técnico do International Board, no segundo dia do congresso Football Talks

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David Elleray Hannah McKay/Reuters

O Mundial 2018 poderá ser um Mundial diferente dos outros. Pode ser o primeiro a usar a tecnologia do vídeo-árbitro e a probabilidade de isso acontecer é alta. Foi essa a garantia dada nesta quinta-feira por David Elleray, director-técnico do International Football Association Board, órgão que regulamenta as leis do futebol. No segundo dia do congresso Football Talks, o antigo árbitro britânico explicou como o sistema está a ser testado, em que circunstâncias pode ser aplicado e que em Março o IFBA vai decidir sobre o seu uso na Rússia. Mas deixa o aviso: os problemas não vão desaparecer.

“Não vai acabar com as reclamações. Não vai resolver todos os problemas, mas as coisas vão ser mais justas”, avisa o ex-árbitro internacional. Antes de poder chegar ao Mundial, este sistema vai ainda ser utilizado nas próximas edições da Taça das Confederações, Mundial de Clubes e Mundial sub-20, e, em Inglaterra, será utilizado na FA Cup em 2018. E, quanto mais países de topo “como Portugal ou o Brasil” adoptarem o sistema, mais fácil será a aplicação na maior competição de todas.

Com o lema “Interferência mínima, benefício máximo”, o vídeo-árbitro só poderá ser utilizado para decidir sobre golos, penáltis, situações de exibição de cartões vermelhos directos e para desfazer equívocos sobre os jogadores envolvidos em situações disciplinares, e, nas situações de fora-de-jogo, só se a situação estiver relacionada com uma situação de golo ou penálti. Para além dos árbitros de campo, haverá uma equipa composta por um operador de repetições e um antigo ou actual árbitro para fazer as avaliações dos lances e fazer as recomendações ao árbitro principal (os pedidos de revisão de lance nunca partirão dos treinadores ou dos jogadores), que, por sua vez, pode confiar no julgamento ou decidir ver as repetições com os seus próprios olhos. “Não é uma pessoa a beber um café e a ver o jogo na televisão. Pensam que é fácil, mas temos um guia de 70 páginas”, observa.

Elleray garante que a introdução desta tecnologia não vai quebrar ritmos ou prolongar muito os jogos. “Em dez jogos nos EUA em que testámos o sistema, apenas usámos o vídeo-árbitro três vezes. Não vão ser 30 repetições por jogo”, diz o britânico, citando ainda um jogo da Holanda, com o Utrecht, em que uma decisão tomada com o auxílio do vídeo-árbitro levou 40 segundos, em contraponto com uma decisão tomada num jogo da Copa América em que uma decisão errada (sem vídeo-árbitro) num Peru-Brasil levou a uma interrupção de cinco minutos. Os EUA, tal como a Holanda, têm estado na linha da frente destes testes “ao vivo”, sendo que muito outros países, Portugal incluído, têm feito os seus testes offline.

O propósito deste sistema, diz o britânico é, em síntese, “mudar o futebol para melhor” e terá efeitos imediatos em outros aspectos do jogo. “Vai acabar com as simulações e com as condutas violentas dos jogadores e será uma arma contra a manipulação dos jogos”, refere Elleray, reforçando ainda que a utilização deste sistema não irá fazer com que os árbitros sejam mais permissivos durante o jogo: “Os árbitros têm de fazer o seu trabalho normal e esquecer o vídeo. Não queremos mudar a psicologia dos árbitros.”

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