À procura de um dia bom nas provas mais imprevisíveis

Quatro ciclistas portugueses vão alinhar na prova de estrada no Rio 2016, com Nelson Oliveira a defender as cores nacionais no contra-relógio, e há uma dupla no BTT. Mas “não dá para fazer previsões”.

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O ciclismo de estrada nos Jogos Olímpicos é uma modalidade com desfecho sempre muito imprevisível JEAN-PAUL PELISSIER/Reuters

O ciclismo pertence ao grupo restrito de modalidades que integram o programa olímpico desde a primeira edição dos Jogos da era moderna, realizada em 1896 (as outras são o atletismo, esgrima, ginástica e natação), e será talvez aquela cujo desfecho é mais difícil de antecipar. A prova de estrada, em que Portugal estará representado por quatro ciclistas, vai percorrer 241,5 quilómetros com partida e chegada em Copacabana. O derradeiro terço reserva um circuito com três subidas ao alto da Vista Chinesa, na floresta da Tijuca, a 502 metros de altura.

“A corrida de fundo é como se fosse uma etapa de montanha muito extensa. Quem tiver aspirações precisa de estar bem colocado desde a entrada neste troço final, feito num circuito duro e sinuoso”, previu o seleccionador nacional, José Poeira, na apresentação do grupo escolhido para estar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, liderado por Rui Costa. “É um corredor de grande classe, que já deu mostras de poder conquistar grandes vitórias a nível internacional. Tem toda a nossa confiança e a equipa foi construída tendo em mente os vários momentos da corrida e os diferentes tipos de trabalho que será necessário desenvolver para que o nosso chefe de fila esteja em condições de bater-se com os melhores”, reforçou. O ciclista da Lampre contará com o apoio de uma equipa experiente formada por André Cardoso, José Mendes (o único estreante) e Nelson Oliveira. Este último será o representante nacional na prova de contra-relógio (54,5km).

Os melhores nomes do mundo vão estar a disputar as medalhas, mas as surpresas acontecem – Portugal foi protagonista de uma quando, em 2004, Sérgio Paulinho conquistou a prata, atrás do italiano Paolo Bettini. “O ciclismo é das modalidades mais competitivas de todas, pratica-se em todo o mundo e praticamente todos os países têm atletas de eleição. Além disso, estaremos numa corrida muito difícil de controlar, pois as selecções mais representadas têm apenas cinco corredores. O resultado é muito imprevisível, mas iremos trabalhar para estar na discussão da corrida”, sublinhou José Poeira.

Ambição em “ano histórico”

O BTT, a outra prova do ciclismo na qual Portugal estará representado, está a viver um ano “histórico” e parte para o Rio de Janeiro com ambição. Pela primeira vez haverá dois atletas nacionais a disputar a prova, com o “repetente” David Rosa e o estreante Tiago Ferreira, que este ano se sagrou campeão mundial de maratona. “Foi um esforço colectivo e a qualificação de dois atletas reflecte um grande crescimento da modalidade, em termos organizativos, com mais competições de grande nível, e com maior apoio da federação aos atletas”, notou David Rosa, em conversa com o PÚBLICO.

“Não dá para fazer previsões. Quero estar a 100% da minha capacidade física e sair com a sensação que dei tudo o que podia dar. Aí ficaria feliz. Espero, no mínimo, melhorar o resultado de Londres (23.º)”, confessou o atleta português, que desde 2012 está dedicado “de corpo e alma” à competição. “Num dia bom, com todas as condições a favor, seria possível um "top-10". Seria um resultado excelente, mas é um dia muito especial e temos de ver como corre. Só controlo a minha entrega”, acrescentou.

A prova de BTT realiza-se no último dia dos Jogos Olímpicos 2016, com início marcado para sete horas e meia antes da cerimónia de encerramento. Algo que faz com que os atletas tenham de estar concentrados até ao fim, quando outros já estão em fase de descompressão. Mas isso até pode ajudar, considera David Rosa: “Parte da comitiva, como já fez as suas competições, estará lá para apoiar e isso dará uma força extra. É um factor de ajuda. Gera-se também alguma ansiedade e claro que vou ter de manter o foco a 100%. Toda a gente acaba a competição antes, os outros atletas podem começar a ‘desligar’ e eu tenho de estar concentrado para o último dia.”

Ainda sem conhecer o percurso da prova, porque estava a recuperar de uma fractura na clavícula quando se realizou o evento-teste, David Rosa tem estudado o circuito através de vídeos. “Dá para ter uma ideia. É um percurso rápido, com velocidade média superior ao normal. Prevejo que no final da primeira volta ainda poderá haver grupos um pouco grandes, maiores do que seria normal”, analisou o atleta português, prevendo que a participação de Peter Sagan na prova de BTT traga um “factor de curiosidade para os adeptos”. “Ele veio do BTT, foi campeão mundial em 2008, e só depois enveredou pela estrada. Em termos técnicos é muito forte e acho que tem todas as condições para fazer um 'top-10'”, admitiu.

Atletas

André Cardoso (2.ª participação)             estrada

José Mendes (estreante)           estrada

Nelson Oliveira (2.ª participação)            estrada e contra-relógio

Rui Costa (2.ª participação)         estrada

David Rosa (2.ª participação)     BTT

Tiago Ferreira (estreante)           BTT

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