A história de uma derrota que acabou com um clube

O desaire do Eldense frente ao Barcelona B, por 12-0, no terceiro escalão do futebol espanhol, está sob investigação, mas já originou uma vítima

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O futebol espanhol está sob suspeita Adriano Miranda

Não foi uma simples derrota. Foi uma hecatombe. O 12-0 com que o Eldense perdeu, neste fim-de-semana, na deslocação ao terreno do Barcelona B, em jogo da 32.ª jornada da II Divisão B, terceiro escalão do futebol espanhol, levou a que vários jogadores do Eldense saíssem do campo a chorar, consolados pelos adversários. As suspeitas de viciação de resultados relacionadas com apostas desportivas levaram Javier Tebas, presidente da Liga espanhola, a confirmar que o jogo está sob investigação, admitindo que há indícios de manipulação.

O desaire foi demasiado para o pequeno emblema de Elda, localidade próxima de Alicante, Espanha. Não só igualou a maior derrota da história da II Divisão B, como também significou a confirmação da descida da equipa à III Divisão. Mas, mais grave do que tudo isto, levou ao anúncio da suspensão da actividade desportiva do clube, que decidiu também rescindir com um grupo de investidores italianos que estavam dispostos a aplicar capital.

O alerta de que algo não estava certo no MiniEstadi, casa do Barcelona B, surgiu não apenas por causa do resultado desnivelado. Já depois do final da partida, Cheikh Saad foi dos primeiros a colocar o dedo na ferida. Logo no dia seguinte ao encontro, na sua conta no Twitter, declarou que o resultado do jogo entre o Barcelona B e o Eldense estava comprado.

“O treinador sabia de alguma coisa e os jogadores também. Meia-hora antes de o jogo começar era titular e depois, antes do início da partida, tiraram-me do ‘onze’. O treinador, depois, disse-me para entrar e respondi-lhe que não queria. Disse o mesmo aos meus colegas que estavam no banco de suplentes, para que não entrassem se não queriam ver o nome deles manchado”, declarou. "Sei quem são os jogadores [que estão envolvidos] mas não posso dizê-lo. No balneário quase que os agredi. São quatro. Quando puder direi os nomes dos jogadores”, acrescentou.

Depois do sucedido, vários futebolistas dirigiram-se aos adeptos pedindo desculpa e procurando afastar-se das suspeitas. Mike Fernández, que chegou ao Eldense no passado mês de Janeiro, foi um deles. "Quero começar por pedir desculpas aos adeptos do Eldense, ao clube e a todas aquelas pessoas que continuam a apoiar a equipa”, acrescentando que tinha sido “o dia mais difícil” da sua carreira desportiva. “Senti muita impotência dentro de campo e lamento o resultado”, afirmou.

O Eldense solicitou apoio à Liga espanhola para que esta entidade averigue se jogadores ou treinador da equipa estiveram envolvidos em algum esquema de apostas ilegais. David Aguilar, presidente da comissão directiva do clube, confessou que “existiram coisas muito estranhas”. “Jogadores que não jogavam e que de repente eram titulares. Saem da equipa jogadores que estão a ter um bom desempenho...”, explicou em declarações ao jornal El País, acrescentando ainda que após a partida com o Barcelona B recebeu uma chamada telefónica de alguém que lhe disse que “o resultado do jogo tinha sido combinado por causa de apostas, que havia algumas mensagens de whatsapp sobre o assunto” e que entre segunda-feira e terça-feira voltaria a ser contactado e lhe dariam mais detalhes.

Segundo a FederBet, entidade que investiga e tenta combater a viciação de resultados, em cada semana há suspeitas de manipulação de dois ou três jogos no terceiro escalão do futebol espanhol. Citando fontes próximas à investigação, o El País refere que há suspeitas da existência de máfias que compram clubes, colocam jogadores nas equipas e combinam resultados. E a verdade é que o Eldense parece um exemplo paradigmático deste “modus operandi”. Basta dizer que o clube, que contou com o apoio de um grupo de investidores italiano teve, só nesta temporada, três presidentes, sete treinadores e 52 jogadores.

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