A canoagem portuguesa vai lutar por medalhas

Série especial Aquela que será uma das maiores delegações dentro da comitiva portuguesa tem possibilidades reais de lutar por várias posições de pódio.

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A canoagem portuguesa vai ao Rio com ambições KIRILL KUDRYAVTSEV/AFP

Já tinha passado mais de metade dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 e nada de medalhas portuguesas. Isto foi verdade até entrar em acção a equipa de canoagem e a dupla Fernando Pimenta/Emanuel Silva, que conquistou a medalha de prata no K2 1000m (a 53 milésimos do ouro), a única na capital britânica para as cores portuguesas, entre outros resultados de excelência das raparigas. Quatro anos depois, a dupla de prata não vai competir no Rio de Janeiro, mas isso não quer dizer que as esperanças portuguesas na canoagem sejam curtas. Antes pelo contrário. Uma medalha é uma possibilidade real. Mais do que uma, também.

Esta será a maior comitiva de sempre da canoagem portuguesa em Jogos Olímpicos, oito atletas e sete embarcações. Em comparação com a equipa de Londres 2012, tem mais um atleta e tem mais homens (6) que mulheres (2), sendo que Portugal volta a ter um representante no slalom olímpico – José Carvalho - 16 anos depois de Florence Fernandes, em Sydney 2000. Dos oito, Silva, o mais experiente, vai para a sua quarta presença olímpica consecutiva (começou em Atenas 2004), Pimenta cumpre a sua segunda participação e Teresa Portela vai para os seus terceiros Jogos. Os outros cinco são estreantes.

Neste ciclo olímpico que se vai concluir no Rio, Portugal voltou a mostrar que está entre a elite da canoagem mundial. Foram muitos os títulos e posições de pódio em várias competições internacionais e escalões etários, os mais recentes alcançados em Junho passado nos Europeus realizados em Moscovo, dois títulos para Fernando Pimenta em K1 1000m e K1 5000m (disciplina não olímpica). E com este estatuto é natural, diz Vítor Félix, presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, que se sonhe alto. “Não vamos ao Rio pela mera participação. Vamos lá para lutar pelas medalhas. Temos de assumir que temos três ou cinco barcos que podem chegar às medalhas”, garante o líder federativo ao PÚBLICO.

Fernando Pimenta será, talvez, o maior candidato (não é o único) a chegar a um ou mais pódios olímpicos, tanto na competição de K1 1000, como no K4 1000, em que forma equipa com Emanuel Silva, David Fernandes e João Ribeiro. O estatuto internacional de Pimenta cresceu às custas do fim da dupla que conquistou a prata em Londres. Pimenta nunca se negou a competir em outras embarcações, mas sentiu que os seus resultados lhe davam legitimidade para competir nas provas individuais, o que provocou alguma fricção entre o atleta e a federação. “Não é fácil gerir as ambições individuais dos atletas com os interesses da equipa”, reconhece Vítor Felix.

Pimenta mais que provou a sua valia na prova individual e o novo K2 (Emanuel Silva e João Ribeiro) também se mostrou competitivo, com a conquista em 2013, na Alemanha, do primeiro título mundial na canoagem para Portugal em 500m – no Rio irá competir em 1000m. Também é preciso contar com o K4 1000m, que tem conquistado várias posições de pódio nos últimos anos, e com Hélder Silva, na prova de C1 200m, também ele com posições de destaque nos últimos anos.

Ao contrário do que tem acontecido, a parte feminina da comitiva será menor que em outros Jogos. Depois de cinco atletas em quatro embarcações em Londres 2012, no Rio estarão apenas duas atletas a competir individualmente, Teresa Portela (K1 500) e Francisca Laia (K1 200). “Com a saída da Teresa Portela do K4, a embarcação ficou menos competitiva, mas, ainda assim, esteve muito perto da qualificação”, lamenta Vítor Félix.

Há um dado adicional que potencia ainda mais as possibilidades portuguesas no Rio. Nem Bielorrússia, nem Roménia, duas das maiores potências mundiais, irão ter atletas na canoagem olímpica, já que as respectivas federações nacionais foram suspensas pela Federação Internacional de Canoagem por doping. E ainda está por decidir se a suspensão aplicada ao atletismo russo por doping se vai estender às outras modalidades…

Os melhores Jogos de José Garcia também foram os mais amargos

Naqueles tempos algures entre os anos 1980 e 1990, o prémio por um bom resultado numa grande competição era voltar para casa de avião, enquanto os outros tinham de regressar de carro, a percorrer milhares de quilómetros nas estradas europeias. José Garcia teve esse prémio quando conseguiu qualificar-se para os Jogos Olímpicos de Seul, em 1988.

“Eu estava em estágio na Polónia e, como consegui qualificar-me, voltar a Portugal de avião foi a minha prenda. Os meus colegas tiveram de regressar de carrinha”, recorda ao PÚBLICO José Garcia, que será o chefe da missão portuguesa no Rio de Janeiro, mas que antes foi um canoísta de nível internacional, com uma medalha de bronze nos Mundiais de 1989 e três participações em Jogos Olímpicos – Seul 1988, Barcelona 1992 e Atlanta 1996.

Garcia fez duas provas em cada uma das suas três participações olímpicas (K1 500m e 1000m), mas há uma que se destaca de todas as outras, os 1000m em Barcelona, única das provas em que esteve na final. Foi a melhor e, ao mesmo tempo, a pior participação olímpica, porque terminou a prova sem uma rodela de metal ao pescoço. “Todos os que andam nos Jogos Olímpicos pensam na mesma coisa, chegar ao pódio. E em Barcelona tinha grandes expectativas. Na final, o andamento foi mais forte e também estava algum vento. Dos oito atletas que competiram comigo na final, três foram apanhados com doping e um deles ficou à minha frente”, recorda Garcia, cujo sexto lugar na final acabaria por ser o melhor resultado português em Barcelona.

De Seul, José Garcia guarda duas coisas, a sensação de estar num mundo diferente “para alguém que sai de Vila do Conde para a Ásia” e a medalha de Rosa Mota na maratona. Os de Barcelona ficaram na sua memória, não apenas pela frustração de falhar o pódio, mas também por ter estado a 20 metros do palco onde Sarah Brightman e José Carreras cantaram, durante a cerimónia de encerramento, “Amigos para Siempre”. Em Atlanta, Garcia já estava a pensar em deixar a alta competição para se dedicar aos estudos e os resultados já não foram aqueles que estava habituado.

Atletas

Fernando Pimenta (segunda participação)         K1 1000m e K4 1000m

Emanuel Silva (quarta participação)        K2 1000m e K4 1000m

David Fernandes (estreia)          K4 1000m

João Ribeiro (estreia)    K2 1000m e K4 1000m

Hélder Silva (estreia)     C1 200m

Teresa Portela (terceira participação)    K1 500m

Francisca Laia (estreia)  K1 200m

José Carvalho (estreia) Slalom

 

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