União Lusófona: uma utopia?

Ainda que não imediatamente, mas no médio-longo prazo, estamos contudo convictos que a União Lusófona se realizará.

Na Declaração de Princípios do MIL: Movimento Internacional Lusófono, movimento cultural e cívico fundado na esteira das comemorações do centenário do nascimento de Agostinho da Silva, que decorreram em 2006 – em Portugal e em (quase) todo o restante espaço lusófono –, prefigura-se, a certa altura, uma União Lusófona, nos seguintes termos: “A vocação histórico-cultural da comunidade lusófona terá expressão natural na União Lusófona, a qual, pelo aprofundamento das potencialidades da actual Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, constituirá uma força alternativa mundial, a nível cultural, social, político e económico. Sem afectar a soberania dos estados e regiões nela incluídos, mas antes reforçando-a, a União Lusófona será um espaço privilegiado de interacção e solidariedade entre eles que potenciará também a afirmação de cada um nas respectivas áreas de influência e no mundo.”

Pela nossa experiência, sabemos bem o quanto este horizonte de uma “União Lusófona” é, aos olhos de muitos, algo de utópico. Por isso, nas nossas múltiplas intervenções sobre a Lusofonia, preferimos falar de um gradual caminho de reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – no plano cultural, desde logo, mas também, cumulativamente, nos planos social, económico e político. Pondo assim a tónica no caminho – gradual, como sempre salientamos – e não no horizonte, não significa que percamos de vista o horizonte. Sem horizonte, não há caminho. Neste caso, porém, o caminho é de tal modo longo e tão pouco linear – importa reconhecê-lo – que, falar, à partida, de uma União Lusófona parece, realmente, algo de lunático.

Ainda que não imediatamente, mas no médio-longo prazo, estamos contudo convictos que essa União Lusófona se realizará, e que poderá e deverá ser “uma força alternativa mundial, a nível cultural, social, político e económico”. Ou, como diria Agostinho da Silva, um exemplo para o resto do mundo: um exemplo de sã convivência entre as várias culturas e religiões; um exemplo de concertação política, económica e social, onde todos, sem excepção, tenham direito a uma vida digna; um exemplo de uma outra forma de relação com a Natureza, mais ecológica e sustentável. Ainda segundo Agostinho da Silva, eis o exemplo que não deverá ser imposto, mas que se imporá, naturalmente, “por contágio”. Pode realmente parecer lunático falar deste horizonte num tempo em que o mundo parece desabar em todos os planos, mas acreditamos que ele poderá realizar: assim nos empenhemos todos. Eis, em suma, a “nossa” Utopia para o Século XXI.

Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono, www.movimentolusofono.org

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