O feitiço da bola

Estamos a escassos dias do arranque do Mundial de futebol no Brasil e, como é sabido, nossa selecção vai subir aos relvados do Complexo Esportivo Cultural Octávio Mangabeira ou Itaipava Arena Fonte Nova, na secular cidade de Salvador, na Bahia, para defrontar uma das selecções favoritas, a Alemanha. O jogo promete, mas, como de futebol não entendo nada, não me vou lançar em previsões, nem muito menos em análises dos esquemas táticos do Paulo Bento ou do Joachim Löw, utilizados nos jogos de preparação para o Mundial. Vou antes focar as minhas energias a comentar episódios irrelevantes e assumir a minha posição de treinador de banco de táxi, o único lugar onde me permito discutir a bola, já que a minha ignorância nem me permite aspirar à posição de treinador de bancada, ganhando o lugar de comentador desportivo nas muitas discussões agendadas para as esplanadas e demais tascas ou cafés desse Portugal fora.
Felizmente, o futebol não é apenas o que acontece entre as quatro linhas e vai muito para além dos 22 jogadores em campo. O árbitro, os fiscais, os técnicos de ambas as equipas, funcionários, dirigentes, patrocinadores, agentes da autoridade, adeptos dentro e fora do estádio, todos fazem parte desse mundo fascinante carregado de idiossincrasias e absurdos, que só as paixões desgrenhadas conseguem demonstrar. Afinal, este é o único lugar onde, ainda que somente por 90 minutos, um ser agnóstico é capaz de rezar o pai-nosso com a mesma devoção de um sacristão num Domingo de Ramos. Por outro lado, é também o lugar onde a fé dos homens não escolhe o santo: acende-se tão rapidamente uma vela para nossa Senhora de Fátima como para os deuses do oculto, pais de santo com suas mezinhas, missangas e búzios que ajudam a defender a baliza contra os remates do adversário, e que farão com que Bastian Schweinsteiger, que até deve ser bom rapaz, abençoado seja, acorde com cólicas no dia 16 e se deixe ficar quietinho no banco até o jogo terminar.É claro que ninguém acredita em bruxas, mas sabe-se lá, pelo sim pelo não, alguém que surja com um contra-feitiço mais forte que o de Nana Kwaku Bonsam, o feiticeiro do Gana que jura ser ele o responsável pela lesão no joelho esquerdo do nosso Cristiano Ronaldo. Ele, cujo nome traduzido é nada mais e nada menos do que “Demónio da Quarta-Feira” (melhor do que isso seria ficção), veio agora a publico confessar que, durante meses a fio, trabalhou num feitiço feito com pó especial dos deuses com várias folhas e misturas divinas em torno de uma imagem do capitão da seleção, CR7.Como se não bastasse, segundo a entrevista que o Sr. Demónio da Quarta-Feita concedeu a uma rádio local, este ainda não se encontra satisfeito e vai continuar a aperfeiçoar o seu bruxedo contra o CR7. Na semana passada, o dito cujo terá ido procurar quatro cães e, neste preciso momento, estarão os pobres a ser utilizados na fabricação de um espírito especial chamado "Kahwiri kapam”, segundo citação da citação pelo The Guardian. “Hoje é o joelho, amanhã é a coxa e depois será outra coisa”. Não vá o demónio tecê-las, sugiro que se aproveite que se está na Bahia e se leve uma fotografia do jogador do Real Madrid a um dos muitos terreiros de candomblé e que se convoque todos os orixás para acudirem e salvarem a situação.
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