Dois passos à frente

Reedição de dois registos cruciais no desenvolvimento de um jazz simultaneamente livre e estruturado.

Uma, duas...três notas, e é imediato! É Jackie McLean no sax alto. O seu som, com ligeira desafinação para os agudos, é inconfundível. É fácil perceber o que pretendia ao dar o nome de "One Step Beyond" a um dos seus registos mais visionários, uma gravação que fez avançar a sua carreira e, de uma forma geral, o desenvolvimento e consolidação de um jazz moderno e criativo com fortes raízes no hard-bop.

Em 1963 a energia do free-jazz andava no ar. Ornette Coleman editara, dois anos antes, "This is Our Music", e músicos como Eric Dolphy, um ano antes de gravar a obra-prima "Out to Lunch", estilhaçavam os limites do bop inovando em todas as direcções. McLean reúne o trombonista Grachan Moncur III, o vibrafonista Bobby Hutcherson, o contrabaixista Eddie Khan e o baterista Tony Williams e fecha-se no estúdio com o intuito de explorar territórios sonoros nunca antes visitados. Ouça-se o fabuloso solo de "Frankenstein", uma linha de enorme intensidade e contenção que poderia ter sido feita por qualquer jovem estrela do jazz actual.

Igualmente importante e inovador é "Dimensions & Extensions", extraordinário registo do saxofonista Sam Rivers, gravado quatro anos mais tarde, que reúne Donald Byrd (trompete), Julian Priester (trombone), James Spaulding (sax alto e flauta), Cecil McBee (contrabaixo) e Steve Ellington (bateria). Com um equilíbrio final bastante mais free e menos bop do que "One Step Beyond", "Dimensions & Extensions" afirmou-se como uma sinfonia de movimentos e timbres que se libertavam mutuamente, testando as mais estranhas, e pouco usuais, combinações rítmicas, melódicas e harmónicas. Aquilo que foi ouvido na altura como totalmente dissonante e imprevisível, é hoje reconhecido como jazz moderno do mais alto calibre por um dos grandes mestres do género.

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