Depois dos mausoléus, os islamistas atacam a mesquita Sidi Yahia

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Na semana passada a UNESCO pôs Tombuctu na lista do património em risco AFP

Começaram por destruir mausoléus de santos muçulmanos sufistas em Tombuctu, no Norte do Mali, sob a ameaça de não pararem e esta segunda-feira surgem notícias de que também a mesquita Sidi Yahia, uma das mais famosas da cidade, foi atacada pelos combatentes islamistas.

Segundo a BBC, um grupo de homens armados arrombou a porta da mesquita, datada do século XV, e vandalizou o monumento, indiferente à história e à importância do lugar para o país.

À AFP uma testemunha contou como a porta da mesquita, tida como "a porta sagrada", foi destruída, lembrando que nunca antes esta tinha sido aberta. A porta, que conduz a um túmulo de santos, está fechada há décadas porque, segundo as crenças locais, a eventual abertura traria azar. "Eles quiseram destruir o mistério", disse a testemunha, que evidenciou que ninguém foi capaz de impedir o ataque.

Os ataques começaram precisamente dois dias depois de Tombuctu, cidade Património Mundial desde 1988, ter sido incluída na lista dos bens em risco pelo comité do património mundial da UNESCO. Já em Abril, a directora-geral da UNESCO tinha alertado para o risco que aquele património corria, depois de ter sido ocupado pelos rebeldes. A situação que se instalou no país depois do golpe de Estado de 22 de Março e a destruição de edifícios e manuscritos que desde então se verificou por decisão dos grupos armados ou em virtude dos confrontos levanta os piores receios quanto à preservação do património daquela que é conhecida como a jóia africana, a cidade do ouro e a capital intelectual e espiritual de África.

Os mais recentes ataques foram declarados pelos Ansar Dine, um grupo com ligações à Al-Qaeda e que quer impor no Mali a sharia (lei islâmica), que não aceita que a população local, sufista, venere mausoléus de santos.

À BBC, o porta-voz do grupo islamista, Sanda Ould Boumama, disse que o objectivo do grupo de destruir os cemitérios, mausoléus e locais de culto de Tombuctu está quase completo.

A mesquita Sidi Yahia, agora vandalizada, foi construída no século XV, quando Tombuctu era já considerada a capital espiritual e um centro de propagação do islão em África. Até aos dias de hoje manteve-se, a par das mesquitas de Djingareyber e Sankoré, como um dos principais templos de culto, dos quais se destacam ainda os 16 cemitérios e os mausoléus, assim como as bibliotecas que guardam milhares de manuscritos, alguns datados ainda da era pré-islâmica.

Este sábado pelo menos três mausoléus tinham já sido destruídos. Entre eles está o de Sidi Mahmoud, do século XV, que já no início de Maio tinha sido profanado. No domingo os ataques continuaram e agora parecem estar a chegar aos monumentos de maior destaque.

Situada às portas do deserto do Sara, Tombuctu fica a mil quilómetros da capital, e tem 30 mil habitantes. É património da humanidade desde 1988 e deve a sua fundação aos tuaregues. Graças à prosperidade que atingiu, sobretudo nos séculos XV e XVI devido ao comércio das grandes caravanas, transformou-se no centro cultural e espiritual de África, pólo a partir do qual o islão se alargou a grande parte do continente.

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