Cartas ao director

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Cultura

Antonio Monegal deu uma entrevista ao PÚBLICO a propósito do seu livro Como o Ar Que Respiramos. Concordo em tudo que diz, excepto quando equipara direita e esquerda como sendo dois obstáculos muito poderosos à cultura: “Por ser um direito [a esquerda entende que] a cultura tem de ser gratuita, o que não permite que os criadores e os trabalhadores culturais tenham uma vida decente.”

A esquerda (na qual me situo) o que defende é que a cultura esteja ao alcance de toda a comunidade, tal como a educação em todos os níveis (sabemos como as propinas e os livros de ensino superior são caros), o SNS e a justiça deveriam estar. Para isso existe o Estado. Para isso pagamos impostos. Não é com o nível médio de salários em Portugal que uma família pode ir regularmente ao teatro, cinema, museus – concertos e ópera são um luxo. Assim não se cria público, assim não se educa.

Domicília Costa, Vila Nova de Gaia

Dou-lhe razão

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, defendeu que o Governo português não deve esperar pela UE para reconhecer o Estado da Palestina. Mais recordou que o PCP já apresentou projectos de resolução com esse objectivo em 2011 e em outros seguintes anos. De facto, o povo palestiniano deve ter um Estado livre e independente, em que a paz impere naquelas paragens, o que não está a acontecer, pelo menos, desde 7/10/2023, onde os mortos são aos milhares, após uma criminosa incursão de terroristas do Hamas, em Israel.

Só que, hipocritamente, o PCP usa um pau de dois bicos quanto ao simbolismo da paz, que tanto diz defender, em antítese com o que se passa na Ucrânia, invadida pela Rússia. Nesse caso, o PCP usa a bandeira da paz se a Rússia esmagar a Ucrânia, que é um Estado livre e independente, e invectiva quem apoia o povo ucraniano. Então, em que ficamos, senhor Paulo Raimundo e seus acólitos?

José Amaral, Vila Nova de Gaia

Palavras oportunas

Num país em que o povo, parafraseando Eduardo Lourenço, parece continuar a esconder dele próprio a situação de sujeito histórico em estado de intrínseca fragilidade, em que após a acalmia das vagas alterosas da Revolução de Abril os governantes, latu sensu, durante três decénios não foram capazes de corresponder à prece do Poeta sobre o “cumprir-se Portugal”, soam a esperança as seguintes palavras do professor Fernando Araújo proferidas anteontem perante uma comissão da Assembleia da República: “A ciência, o conhecimento e a experiência fazem toda a diferença.”
Duvido que a maioria dos deputados, a ministra da Saúde e a generalidade dos outros governantes e quadros partidários tenham compreendido o alcance e significado do pensamento de um dos mais lídimos representantes da elite académica e profissional portuguesa. É pena!

Elder Fernandes, Lisboa

O jornalismo é pacificador

Na crónica “Jornalismo em extinção” (Ípsilon 10 Maio), António Guerreiro mostra como a crise do jornalismo e do jornal são o verso de um reverso em que a ideologia coerente e sistemática, peça fundamental da política moderna, é arredada pelo mundo digital que investe na não-notícia que é não-verdade. É difícil para o jornalismo competir. Porque é caro; exige tempo, conhecimento e engenho. Pelo contrário, plasmar e difundir a não-verdade é simples, e barato como engarrafar o ar. Resta o lado-sombra desta discussão, o lado da recepção, ou da fenomenologia do espírito. Porque é massivamente acolhida a não-verdade, e tão eficaz a gerar divisão e violência? Se o jornal é a feliz barreira, o jornalismo é um pacificador.

Maria Afonso, Lisboa

O que é refundar” o “SNS”?

Roubei o título a um subtítulo da página do PÚBLICO de quarta-feira que noticiou a entrega do balanço de actividades da Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde à ministra da Saúde, por parte de Fernando Araújo, não sem lhe acrescentar umas aspas na sigla SNS. É que se o “refundar, utilizado por Eurico Castro Alves (E.C.A.), coordenador dum anunciado plano de emergência, prenuncia jámuita coisa, o prenúncio ainda é mais notório quando ele identifica o SNS como osistema (a sigla dá para isso...). Bem sei que ontem – em comunicação o tempo é acelerado – o jornal noticia a nomeação do tenente-coronel médico A. Gandra d’Almeida como novo presidente executivo do Serviço Nacional de Saúde, mas isso torna as coisas ainda mais esquisitas”. Então porque é que E.C.A. é porta-voz de medidas de fundo quando é somente umemergencista? A gente percebe, nossubterrâneos do poder é onde este se exerce. Preparem-se então, o SNS é mesmo pararefundar e chamar-lhe sistema, como disse, é o jargão eufemístico que, mais cedo do que tarde, vai aparecer à vista desarmada nos tempos mais próximos. Assim (não) seja...

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

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