Viticultores do Douro querem discutir soluções para aumento dos stocks antes da vindima

A três meses das vindimas, a ProDouro receia que não haja capacidade “de desenhar soluções e implementá-las em tempo útil”. Escreveu à tutela há 15 dias. Sem resposta, tornou pública essa carta.

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ProDouro quer ver soluções discutidas antes de chegarem as vindimas deste ano (fotografia de arquivo, da campanha de 2023) Nelson Garrido
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A Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (ProDouro) tornou pública esta quarta-feira uma carta endereçada ao ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, na qual os viticultores da região se mostram disponíveis para arranjar soluções conjuntas face aos problemas que o sector enfrenta, em particular a desvalorização da uva e o aumento dos stocks.

Rui Soares, presidente da direcção da ProDouro, explica que a carta surgiu na sequência da entrevista do ministro da Agricultura ao PÚBLICO, a 22 de Abril. Na entrevista, o ministro admitiu um “travão” nos apoios à plantação de vinha nova para tentar resolver aquilo que considera o “problema brutal” do sector: o stock de vinhos. “Algum português percebe que se esteja a dar recursos financeiros para plantar vinha e depois para arrancar vinha ou para o vinho ser destilado ou para coisas que vão contra a nossa alma e as nossas raízes?”, questionou, na altura, o ministro.

O governante lembrava ainda que Portugal destilou 60 milhões de litros de vinho desde 2020. José Manuel Fernandes não entrou em detalhes região a região, mas na destilação de crise de 2023 o Douro foi a região com maior dotação, somando 6,4 milhões de euros.

A entrevista de José Manuel Fernandes motivou a carta onde os viticultores do Douro se mostram disponíveis para serem ouvidos, explica Rui Soares na própria missiva. Ao Terroir, o responsável conta que, dois dias depois da entrevista, a associação e outras três da região — a Associação da Lavoura Duriense, a União das Adegas da Região Demarcada do Douro e a Federação Renovação do Douro — fizeram um pedido conjunto de audiência, que ainda não obteve resposta por parte do ministério.

“A carta foi enviada há duas semanas, ainda não tivemos nenhuma resposta e achamos que deveríamos fazer um desabafo público e partilhar o nosso sentimento e interesse em conversar e apresentar os problemas e as propostas, pôr ideias em cima da mesa”, continua Rui Soares.

De acordo com o presidente da ProDouro, a região enfrenta “um conjunto de dificuldades e problemas que se têm vindo a agudizar nos últimos tempos”, em particular “nas últimas duas campanhas”, nomeadamente a “questão da diminuição das vendas” e “o aumento dos stocks”. Rui Soares acredita que é preciso tomar medidas “o quanto antes”. “Estamos em Maio, parece que a vindima está longínqua, mas não está. Estamos a três meses, pouco mais do que isso. Se não discutirmos agora os problemas, se não formos capazes de desenhar soluções e implementá-las em tempo útil, não vamos estar à espera que a vindima comece para tomar decisões”, considera.

Entre as propostas da ProDouro para soluções “para o imediato” está, por exemplo, a “vindima em verde”, que “tem de ser uma medida financiada”, diz ao Terroir Rui Soares. “Se tenho produção a mais, uma das soluções é destruir uva e não agravar o problema que vou ter na colheita.” O responsável pela associação cita também o caso dos “vizinhos espanhóis”, que têm implementado a medida nos últimos anos com “assinalável sucesso”.

Destilar ou não destilar

Outra medida “para aliviar o problema dos stocks” passa pela destilação, continua. “Nós no Douro temos essa possibilidade, de produção de aguardente para vinho do Porto.” A região importa actualmente aguardentes de Espanha e de França para a produção de vinho do Porto e há muito que há quem defenda que essa aguardente devia ter origem em vinho da região, mesmo que isso fizesse aumentar o valor do produto final — o assunto foi de resto tema da última crónica do jornalista e produtor de vinho no Douro Pedro Garcias. No entanto, Rui Soares acredita que estas soluções não funcionariam a “médio e longo prazo” e defende antes um planeamento que olhe para soluções viáveis. “A nossa função é produzir, não é destruir.”

Apesar de algumas críticas ao possível travão anunciado pelo ministro, Rui Soares encarou a entrevista de outra maneira. “O que interpretei foi que é preciso parar para pensar. Houve um momento em que estávamos empenhados em investir na recuperação das nossas vinhas porque estavam envelhecidas e precisavam de ser modernizadas e o programa [VITIS] foi muito bom para isso, o contexto agora é outro”, afirma. “O nosso grande problema é gerir a relação entre a oferta e a procura. Se estamos a produzir a mais para o que comercializamos, temos de encontrar mecanismos de gerir este equilíbrio.”

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