És mais feliz solteiro ou numa relação? A resposta depende do teu estilo de vinculação

Nem toda a gente está feliz quando está solteira — e um estilo de vinculação ansioso ou evitativo (e não seguro) pode ajudar a explicar.

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O facto de estar numa relação romântica não é uma panaceia Pexels/ Polina Tankilevitch
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Os solteiros são todos inseguros? Quando pensamos nas pessoas que estão solteiras há muito tempo, podemos assumir que é porque têm inseguranças que dificultam a procura de um parceiro ou a manutenção de uma relação.

Mas será que isto é verdade? Ou será que as pessoas solteiras há muito tempo podem estar confiantes e felizes?

A nossa última investigação, publicada no Journal of Personality, sugere que sim. No entanto, talvez sem surpresa, nem toda a gente está feliz quando está solteira. O estudo conclui que o estilo de vinculação de uma pessoa pode ser um factor crucial.

Há cada vez mais pessoas solteiras

O número de solteiros está a aumentar em todo o mundo. No Canadá, o estatuto de solteiro entre os jovens adultos com idades compreendidas entre os 25 e os 29 anos aumentou de 32% em 1981 para 61% em 2021. O número de pessoas que vivem sozinhas aumentou de 1,7 milhões em 1981 para 4,4 milhões em 2021.

As pessoas são solteiras por muitas razões: algumas optam por permanecer solteiras, outras concentram-se em outros objectivos e aspirações pessoais, outras referem que o mundo dos encontros se tornou mais difícil e outras voltam a estar solteiras devido ao fim de uma relação.

Também podem continuar solteiras devido ao seu estilo de vinculação. A teoria da vinculação é um modelo popular e bem estudado sobre a forma como estabelecemos relações com outras pessoas. Uma pesquisa na Amazon por "attachment theory" (teoria da vinculação) apresenta milhares de títulos. A hashtag #attachmenttheory foi vista mais de 140 milhões de vezes só no TikTok.

O que é que a teoria da vinculação diz sobre as relações?

A teoria da vinculação sugere que as nossas relações com os outros são moldadas pelo nosso grau de ansiedade e evitação.

A vinculação ansiosa parte de um tipo de insegurança que leva as pessoas a sentirem-se ansiosas no que toca às relações e a preocuparem-se com o abandono. Já a vinculação evitante leva as pessoas a sentirem-se desconfortáveis com a intimidade e a proximidade.

As pessoas que têm menos ansiedade e evitação são consideradas como tendo um estilo de vinculação seguro e sentem-se confortáveis a depender dos outros e a dar e receber intimidade.

As pessoas solteiras são frequentemente estereotipadas como sendo demasiado apegadas ou descomprometidas. Os estudos que comparam pessoas solteiras com pessoas casadas também sugerem que as pessoas solteiras têm níveis mais elevados de insegurança em relação à vinculação do que as pessoas que vivem em relações.

Ao mesmo tempo, os dados sugerem que muitas pessoas solteiras estão a optar por permanecer solteiras e a viver vidas felizes.

Os solteiros constituem um grupo diversificado de pessoas seguras e inseguras

Na nossa investigação mais recente, a equipa de psicólogos sociais e clínicos analisou os estilos de vinculação de pessoas solteiras e a sua relação com a felicidade e o bem-estar.

Conduzimos dois estudos, um com 482 jovens solteiros e outro com 400 idosos solteiros de longa duração. Concluímos que, no geral, 78% foram classificados como inseguros, sendo os restantes 22% seguros.

Analisando os resultados mais de perto, encontrámos quatro subgrupos distintos de solteiros:

  • Os solteiros seguros sentem-se relativamente à vontade com a intimidade e a proximidade nas relações (22%);
  • Os solteiros ansiosos questionam se são amados pelos outros e preocupam-se com o facto de serem rejeitados (37%);
  • Os solteiros evitantes não se sentem à vontade para se aproximarem dos outros e dão prioridade à sua independência (23% dos solteiros mais jovens e 11% dos solteiros de longa duração mais velhos);
  • Os solteiros receosos têm uma ansiedade acrescida em relação ao abandono, mas sentem-se simultaneamente desconfortáveis com a intimidade e a proximidade (16% dos solteiros mais jovens e 28% dos solteiros de longa duração mais velhos).

Ser solteiro pode ser um desafio para os ansiosos

Os nossos resultados também revelaram que estes subgrupos distintos de solteiros têm experiências e resultados distintos.

Os solteiros seguros são felizes por serem solteiros, têm um maior número de relações não românticas e melhores relações com a família e os amigos. Satisfazem as suas necessidades sexuais fora das relações românticas e sentem-se mais felizes com a sua vida em geral. Curiosamente, este grupo mantém um interesse moderado em ter um relacionamento romântico no futuro.

Os solteiros ansiosos tendem a ser os mais preocupados com o facto de serem solteiros, têm uma auto-estima mais baixa, sentem-se menos apoiados por pessoas próximas e têm alguns dos níveis mais baixos de satisfação com a vida em todos os subgrupos.

Os solteiros evitantes são os que mostram menos interesse em ter uma relação romântica e, em muitos aspectos, parecem satisfeitos com a solteirice. No entanto, também têm menos amigos e relações íntimas e, em geral, estão menos satisfeitos com essas relações do que os solteiros seguros. Os solteiros evitantes também referem ter menos sentido na vida e tendem a ser menos felizes em comparação com os solteiros seguros.

Os solteiros receosos relataram mais dificuldades em navegar nas relações íntimas do que os solteiros seguros. Por exemplo, eram menos capazes de regular as suas emoções e estavam menos satisfeitos com a qualidade das suas relações íntimas do que os solteiros seguros. Também registaram alguns dos níveis mais baixos de satisfação com a vida em todos os subgrupos.

Nem tudo é desgraça e tristeza

Estes resultados devem ser lidos tendo em conta vários pontos relevantes. Em primeiro lugar, embora a maioria dos solteiros das nossas amostras fossem inseguros (78%), havia um número considerável de solteiros seguros e que estavam felizes (22%).

Além disso, o simples facto de estar numa relação romântica não é uma panaceia. Uma relação infeliz está associada a consequências de vida piores do que estar solteiro.

Também é importante lembrar que as orientações de vinculação não são necessariamente fixas. Estão abertas a mudanças em resposta aos acontecimentos da vida.

Do mesmo modo, os comportamentos sensíveis e reactivos de pessoas próximas e o facto de nos sentirmos amados e acarinhados por essas pessoas podem aliviar as preocupações subjacentes à vinculação e promover a segurança da vinculação ao longo do tempo.

Os nossos estudos são alguns dos primeiros a examinar a diversidade de estilos de vinculação entre adultos solteiros. As nossas conclusões sublinham que muitas pessoas solteiras são seguras e felizes, mas também que é possível trabalhar mais para ajudar as pessoas solteiras inseguras a sentirem-se mais seguras, de modo a promover a felicidade.


Exclusivo P3/ The Conversation
Christopher Pepping é professor associado de Psicologia Clínica, Griffith University
Geoff Macdonald é professor de Psicologia, Universidade de Toronto
Tim Cronin é professor de Psicologia Clínica na Universidade La Trobe
Yuthika Girme é professora associada do Departamento de Psicologia na Universidade Simon Fraser

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