Cartas ao director

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Ao que chegámos

Nunca imaginei semelhante coisa. Nunca me passou pela cabeça que o Presidente da República do meu país pudesse descer tão baixo. Será Marcelo racista? Será Marcelo alguém que no fundo despreza o mundo rural? Quem é verdadeiramente Marcelo? Confesso que já nada sei a não ser que, na véspera do libertador 25 de Abril, me senti ofendido e envergonhado ao ouvir o que o Presidente da República do meu Portugal disse.

Confesso que o comportamento recente de Marcelo Rebelo de Sousa tem sido simplesmente lamentável, mas nunca me passou pela cabeça que pudesse chegar tão baixo, tão baixo como o que sucedeu na quarta-feira. Com que cara Marcelo receberá Luís Montenegro? Com que cara Marcelo falará com António Costa? Com que autoridade moral falará Marcelo, no futuro, aos portugueses?

Pena, mas mesmo pena, é o facto de Marcelo não poder ser imediatamente destituído como merecia, já que o seu comportamento de quarta-feira foi simplesmente vergonhoso. Os portugueses não mereciam isto, sinceramente.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

Estamos a perder Abril

Estamos rapidamente demais a perder Abril. Perder Abril significa voltar à ditadura. As pessoas que nunca estiveram com Abril, e tiveram alguns cuidados em o afirmar publicamente, estão em glória a imaginar já um novo Estado Novo. Há um sobressalto, nas redes sociais, que agarra a malta nova e com frases rápidas, curtas, sem conteúdo, sem fundamento, sem veracidade, puxam a um regime diferente. Diferente é autocracia.

E os velhos, saudosos dos privilégios perdidos. Os machos, mesmo velhos, caducos, revivem os tempos da mulher sem direitos, das mulheres mandadas pelos homens. Os machos jovens estão tentados e experimentar e colocar as meninas calminhas, em casa, sossegadas. Retroceder, voltar a ver os homossexuais como doentes, sob controlo. Acabar com o aborto, obrigando a mulher a engravidar, mesmo não querendo. Há azares, e pode acontecer. Não falar de sexo, de sexualidade. Voltar atrás 50 anos.

Em simultâneo, conseguem fabricar falsidades, mentiras que fizeram cair o chefe do Governo, e fazem tudo, tudo para fazer cair o chefe de Estado.

É pena, ao fim de 50 anos, perder direitos, perder igualdade, perder liberdade, perder, perder. Haverá, neste 25 de Abril de 2024, ainda a Festa de Abril. (…) Quem isto escreve, juntando o tempo que viveu antes de Abril e os anos que possa viver em nova ditadura, conseguirá mais tempo vivido em democracia. Pelo menos totalmente consciente do tempo e espaço. Poderá ter de deixar de se expressar nestas coisas banais que escreve. Será proibido. Mas se Abril acabar, muitas e muitos vão ter de amargurar.

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

A guerra, para quê e a quem serve?

Antes de me deitar oiço um último noticiário. Só vejo cenas de horror, apocalípticas, desumanas. Nem sei de que guerra. Também não interessa, pois, com excepção das feitas em nome da liberdade de povos sob o jugo de outros, todas as guerras são iguais, ou seja, inúteis e injustas. Todas desencadeadas ou mantidas por quem não vai combater, com motivos inconfessáveis, uma maléfica mescla entre poder e dinheiro ou dinheiro e poder. Todas com as mesmas vítimas, os jovens, carne para canhão, bem como as inocentes gentes de tudo despojadas. Ah! e as crianças, meu Deus, as crianças desfeitas pelas bombas e a morrer devido à fome.

As guerras! Sobre todas elas, com excepção das acima referidas, paira o manto satânico dos pulhas que mandam neste mundo, quantos na sombra, os quais, em função de interesses que só a eles ou aos seus grupos de referência respeitam, as desencadeiam, as exportam ou as alimentam, neste caso sob a capa da mentira de estarem a ajudar. São como os vampiros do Zeca Afonso, "comem tudo, comem tudo, comem tudo".

Elder Fernandes, Lisboa

A liberdade como genérico

Bordalo II, artista genial que muito admiro, para comemorar os 50.º aniversário do 25 de Abril, colocou uma grande caixa de medicamentos em cima da campa rasa de Salazar, que já não precisa deles. A caixa tinha a inscrição “Liberdade. Probiótico antifascista”; só tinha indicações vagas sobre modo de usar e presumo que estaria vazia.

Recordo que foi o mau uso deste medicamento que levou Salazar ao Governo pelo MFA de então, se não com apoio, com alívio popular.

Nota: a Liberdade não é um probiótico mas um prebiótico.

H. Carmona da Mota, Coimbra

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