Cartas ao director

Ouça este artigo
00:00
04:43

O grau zero da credibilidade jornalística

Como qualquer craque do futebol, a SIC entendeu ir buscar à CNN um jornalista-estrela, que já fora candidato a deputado pelo CDS. Deu-lhe espaço em painéis compostos por jornalistas – não por comentadores. Promoveu-o como alguém “isento” e tolerou até as suas más educações, a sua arrogância. As vedetas são assim – terão pensado os editores da SIC. Afinal também aos domingos um antigo presidente do PSD faz comentário e nem sequer o interrompe quando participa em campanha eleitoral (o mesmo, aliás, se passa na TVI com antigo presidente do CDS…). Mesmo o PS já foi colocado fora do pote de mel televisivo que faz candidatos a eleições. Dos restantes partidos, nem falar: há muito que foram escorraçados.

Pergunta-se se não será caso de os directores de canais informativos e editores fazerem autocrítica e talvez mesmo pedir desculpa aos telespectadores. Ou será que já vale tudo e deixarem de se interessar sequer com as aparências de credibilidade jornalística?

Luís Raposo, Oeiras

Jornalismo maltratado

Se dúvidas houvesse de que painéis de informação televisiva procuraram influenciar o sentido dos eleitores em como votar nas últimas legislativas, esta aposta pessoal de Luís Montenegro no jornalista (?) Sebastião Bugalho fala por si como cabeça de lista da AD para as eleições europeias. Esta jovem estrela assumiu, na última campanha, um combate feroz a Pedro Nuno Santos, denegriu sistematicamente a capacidade do líder socialista e, pelo contrário, tudo aproveitava para elogiar o líder da AD, colocando-o nos píncaros. Tudo notas altas e referências elevadas. A antítese para os outros, designadamente Pedro Nuno Santos. E foi “premiado”. Inserido nos painéis de informação, a privilegiar a direita, da SIC, conseguia ser, com o seu ar enfatuado, mais radical do que quaisquer outros radicais. Se bem que todos os comentadores parecessem sintonizados com a AD, sem que houvesse qualquer contraditório, Sebastião destacou-se sempre, mesmo assim, como o mais combativo, o mais cáustico. De tal maneira que, Rui Moreira abaixo, Montenegro “premiou” a sua tenacidade. O jornalismo, esse, é que ficou muito maltratado.

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

Carta a um amigo incauto, nestes 50 anos

Sei que você nunca partilhou dos ideais democráticos. Pela educação que recebeu, pela propaganda que ingeriu, nunca sentiu a pulsão dos ideais de liberdade e, menos ainda, dos da igualdade. Apesar disso, porque o ordenamento democrático lho permite, ninguém o incomodará por isso, podendo continuar a pensar-se anti-sistema. Coisa que o regime que lhe dá saudades não permitia. Pode votar em partidos que, sub-repticiamente, acusam a democracia de ser a razão de todos os males que afligem o país, que insinuam que “dantes” é que se vivia bem. É claro que não vêm lembrar-nos da miséria que grassava, do obscurantismo a que nos submeteram, do monolitismo intelectual a que nos obrigaram. Não vêm lembrar-nos da iniquidade que, “legalmente”, protegia os poderosos e oprimia os fracos.

Está tudo perfeito? Não, mas é bom podermos afirmá-lo sem medos. Afinal, se “dantes” tudo era “perfeito”, por que é que o sistema se fechava, nos obrigavam a ir ao café de mordaça na boca? Tinham medo de quê? Obviamente de perder privilégios que só se davam aos “amigos”, de perder os “doces” poderes que um autoritarismo feroz lhes permitia: explorar os pobres sem o perigo de que alguém os denunciasse, meter os insubmissos nas cadeias, concentrar nas mãos do mesmo todos os poderes, censurar os jornais com toda a “naturalidade”. Não duvido da sua generosidade e grandeza de carácter. Não se deixe enganar. Há quem queira que o ovo da serpente termine a gestação.

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

E se não houvesse o 25 de Abril?​

Devemos perguntar: onde estavas, se não houvesse o 25 de Abril? Teria, como milhares de jovens, ido para as colónias defender interesses de meia dúzia de abastados, usurpando território que há muito reclamava justa independência! Muitos, muitos regressaram com sequelas, nomeadamente stress pós-traumático, obnubilados, estropiados e dentro dum caixão.

Não foi só a irreversibilidade da morte dos mancebos (10.000 militares mortos), foi a insanidade mental perene, como sucedeu ao meu tio, no hospício do Telhal (20.000 inválidos). Os exemplos são mais que muitos... Por dever teremos de homenagear os progressistas militares, os movimentos de libertação das ex-colónias, a luta do sindicalismo e o povo foram dos elos mais decisivos para o êxito do dia mais inteiro, mais limpo e mais radioso da nossa História – o 25 de Abril!

Vítor Colaço Santos, São João das Lampas

Sugerir correcção
Ler 4 comentários