Escrevo isto com uma faca entalada no rim solteiro (Poema Revolucionário Em Curso, a meio caminho entre Leça do Balio e Brooklyn)

Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda. Ao longo de 50 dias publicaremos 50 poemas de 50 autores sobre revolução.

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por ti
eu dava um chuto de cozido à portuguesa na esplanada da Duvália e no fim rezava à
virgem pela conversão do Lavrov

por ti
eu pulava até Fátima, dependurava-me no rosário da Joana Vasconcelos e atirava
pensamentos em calda do Paulo Coelho aos peregrinos

por ti
eu estacionava o triciclo do Kropotkin à porta do Pérola Negra

por ti
eu forrava o Rosa Mota com poemas assanhados do Bukowski

por ti
eu raptava a Emma Stone e, nos intervalos, lia-lhe Gedeão às escondidas do ministério
púdico

por ti
eu convencia o Trump a subir a Rampa da Falperra vestidinho de pedal de embraiagem

por ti
eu massajava e não massajava a alma do arcebispo de Praga

por ti
eu casava com a Adília e matava à traição a sua barata preferida

por ti
eu construía uma barraca apalaçada nas margens do poema

assim me parece o destino poético: a recibos verdes


João Gesta. Matosinhos, 1953. Há anos assim… Programador cultural e, nos intervalos, escreve fricção. Acredita em Deus e na Revolução, não necessariamente por esta ordem. Sem jeito para o negócio.

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