Bernardo Silva não precisa de redenção. Mas redimiu-se

Depois daquele penálti ridículo que contribuiu para a saída da Champions, internacional português marcou o golo da vitória do City sobre o Chelsea.

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Guardiola abraçado a Bernardo Silva Paul Childs / ACTION IMAGES VIA REUTERS
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O Manchester City saiu da Liga dos Campeões por várias razões. Porque jogou com o Real Madrid – e o Real Madrid vive para jogar a Champions. Porque não teve qualquer golo do seu gigante nórdico Erling Haaland. Porque não foi competente a desempatar a eliminatória nos penáltis. E, nesta componente, saltou à vista Bernardo Silva, o jogador que todos os treinadores gostariam de ter nestes momentos. O internacional avançou para o segundo penalti do City e falhou, mas não foi o falhanço em si que se destacou. Foi a forma como o falhou. Bernardo levantou a bola e rematou para o meio. Lunin, o guarda-redes do Real, nem se mexeu para a agarrar.

Foi um daqueles momentos que nunca esperaríamos de Bernardo Silva, mas ninguém o culpou da eliminação. Nem Guardiola. “Disse que queria bater e é um jogador confiável. Fez um grande jogo”, declarou o treinador catalão. Neste sábado, Bernardo Silva, o jogador que não precisa de redenção, redimiu-se do penálti falhado frente ao Real, marcando o golo que qualificou o City para a final da Taça de Inglaterra em Wembley, num triunfo por 1-0 sobre o Chelsea. Os “citizens” podem já não conseguir igualar a tripla conquista do ano passado – Premier League, FA Cup e Champions –, mas ainda podem chegar à dobradinha. Graças a Bernardo.

Em mais um confronto entre os azuis claros de Manchester e os azuis escuros de Londres, uma das narrativas era a de Cole Palmer, a grande revelação da época do futebol inglês, voltar a encontrar-se com a equipa que o formou e de onde saiu para o Chelsea a troco de 47 milhões de euros. Na antevisão do jogo, Guardiola até admitiu que não queria que ele saísse, mas revelou que o próprio Palmer já queria sair há duas épocas. Como teria sido a época de Palmer se tivesse ficado no City? Nunca saberemos. Mas sabemos que, num Chelsea ainda em construção, ele tornou-se na maior figura (23 golos e 13 assistências), chegou à selecção inglesa e, entre tanto dinheiro mal gasto pelos londrinos nos últimos tempos, os tais 47 milhões parecem uma pechincha.

Mas Palmer não seria a figura de um jogo que esteve condenado ao empate durante mais de 80 minutos. A equipa de Pochettino bem resistiu e teve as melhores hipóteses de marcar, o City ainda parecia, de certa forma, preso ao passado recente da eliminação europeia e não desenvolvia. E quando o jogo já parecia encaminhar-se para mais 30 minutos de futebol (e, quem sabe, desempate nos penáltis), o City conseguiu a sua vantagem.

Doku agitou na esquerda, encaminhou a jogada para De Bruyne e o belga meteu a bola na pequena área. O guarda-redes Petrovic tentou tirá-la dali, mas a bola não foi para muito longe. Bernardo Silva andava por perto e, com a baliza à sua mercê, não precisou de muito tempo para pensar antes do remate certeiro que valeu a passagem à final. Este, sim, era o Bernardo Silva que o mundo inteiro conhece, o Sr. Fiabilidade, “o sonho de jogador para qualquer treinador”, como disse em tempos Guardiola.

Para o internacional português, foi um enorme suspiro de alívio e, em certa medida, uma consolação pelo que acontecera na quarta-feira passada. “Depois de uma semana muito frustrante para nós e para mim em particular, sinto-me muito feliz. Se jogas pelo Manchester City, jogas de três em três dias e, assim, tens sempre a hipótese de corrigir as coisas. Tentámos tudo, apesar de estarmos muito cansados. Estamos em mais uma final e temos mais uma hipótese de ganhar mais um troféu. Estou feliz pelo golo, mas a forma como a equipa reage à adversidade é sempre a melhor”, declarou o internacional português à BBC.

Se esta será a última época de Bernardo Silva no Manchester City, só saberemos daqui a mês, depois dos “citizens” disputarem em Wembley a final da FA Cup contra o vencedor do Coventry-Manchester United deste domingo. Fala-se do interesse do Barcelona (que não deve ter dinheiro para pagar os míseros 50 milhões que constam na cláusula de rescisão) e do PSG (esses têm dinheiro), mas, aconteça o que acontecer, Bernardo Silva já deixou a sua marca nos “citizens”.

A cumprir a sua sétima época em Manchester, o jogador formado no Benfica já ganhou tudo o que tinha a ganhar – 14 títulos, entre eles cinco títulos de campeão inglês, uma Liga dos Campeões e um Mundial de clubes. Marcou 67 golos, fez 41 assistências e, da forma como festejou o golo contra o Chelsea, a saltar e a bater no lado esquerdo do peito (onde está o emblema), aquele penálti falhado foi apenas um acidente.

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