Cartas ao director

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A máxima desonra

"Muito em breve chega Abril e, se o mês começa bem, logo a preparar-nos para o que aí vem com o Dia das Mentiras, o que se segue é de testar ao limite a nossa paciência e de praticamente nos levar no caminho da santidade por aturar tanto marxista. De repente, parece estarmos a viver numa realidade alternativa, de permanente campanha eleitoral da CDU ou afins. A playlist não vai variar muito da 'Grândola Vila Morena', e outras do Zeca Afonso, do 'Somos Livres' (uma gaivota voava, voava), da Ermelinda Duarte ou do Paulo de Carvalho e do seu 'E Depois do Adeus'. De novo vai-se ouvir, a torto e a direito, falar da decrépita Associação 25 de Abril e dos seus capitães, os tais que se acham heróis. Pois, a verdade é que já estamos há 50 anos a dar para esse peditório. Já Chega!" Assim começa, pela voz dos seus coordenadores Paulo Jorge Teixeira e Rodrigo Pereira Coutinho, a apresentação do livro Abril Pelas Direitas, recém-editado e, pasme-se, apresentado sem contraditório como referência bibliográfica relevante em recentes programas de imprensa…

O livro, que reúne cerca de 60 textos sob o prisma de um visceral ódio anti-Abril, traça o branqueamento do Estado Novo e alimenta um feroz combate ao regime democrático (o "sistema", dizem) e um geral tónus saudosista sobre as pretensas virtudes do regime de Salazar. Pode a Liberdade ter preço? Pensávamos que, 50 anos depois, o 25 de Abril era, com toda a sua sã pluralidade, uma data maioritariamente consensual no coração dos portugueses. Mas parece que, à luz deste inqualificável livro, alguns grandes interesses querem esquecer (e fazer esquecer) a memória da opressão, o papel da PIDE-DGS, a guerra colonial, as prisões e torturas, os campos de extermínio, a fome, a riqueza sem freios acumulada por umas quantas famílias, a emigração em massa, a cobiça a rimar com desonra: e tudo isso foi o Estado Novo fascista, que agora de modo tão descarado um livro como este quer fazer ressuscitar!

A memória histórica é o esteio de uma sociedade livre. Precisa de ser sempre aprofundada como matriz de uma cidadania adulta, fraterna e inclusiva. Por isso, a liberdade e o direito de opinião têm limites. No mínimo, devia manifestar-se o direito elementar ao contraditório que um livro tão bafiento como este indubitavelmente impõe!

Vítor Serrão, Santarém

Dignificação de um órgão de soberania

A sugestão do dr. Pedro Aguiar Branco (P.A.B.), o novo presidente da Assembleia da República, para voltar a tocar a campainha antes dos plenários e o pedido para os deputados evitarem tratar-se por “tu” e “você” só podem ser aplaudidos e são boas medidas (isto para não referir o mau gosto e a deselegância do “gajo” e o “pá” que, por vezes, ressoam no Parlamento). A sugestão de P.A.B. releva respeito e educação e, sem dúvida, dignifica o debate parlamentar. Outra medida correcta de P.A.B. foi a retirada das grades de segurança em frente ao Parlamento. O povo é sereno e não faz sentido a existência dessas grades nos 50 anos do 25 de Abril. Já relativamente ao desligar do microfone quando os deputados excedem essa curta tolerância, "regra dos 15 segundos”, parece-me uma medida demasiado rígida, constrangedora e que "limita a liberdade de expressão”. Em vez da “regra dos 15 segundos”, não seria mais sensato e tolerante estabelecer, mas com rigor, “a regra dos dois ou três minutos”? Haja tolerância e lucidez - limite-se draconianamente demasiada verborreia - mas não se imponham os voláteis "15 segundos” que não dão para nada.

António Cândido Miguéis, Vila Real

Com a verdade me enganas

Perante a enorme diferença entre as descidas do IRC e IRS, finalmente ficam esclarecidas quaisquer dúvidas sobre a razão pela qual a AD andou toda a campanha a falar no maior choque fiscal do IRS e IRC, a favor da classe média, contrapondo-a à política do PS, não esclarecendo que o que dizia respeito ao IRS era apenas cerca de 11% mais favorável do que aquilo que já estava em vigor para este ano; e manteve a ilusão mesmo no debate na AR.

Na verdade, o que estava escrito era a comparação com o ano passado, mas Montenegro teve a habilidade de criar a ideia de que a proposta era uma grande novidade. Conseguiu assim, tangencialmente, ter os votos necessários para cumprir a sua missão: favorecer as grandes empresas, responsáveis por 80% da receita total de IRC. Bastava que 4% dos eleitores enganados não tivessem votado AD para hoje termos outro governo. Este truque e os casos que já se acumulam são um desastre para a democracia; a política bateu no fundo.

José Cavalheiro, Matosinhos

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