Cartas ao director

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Citações e ironias

A propósito da discussão do Programa do Governo, vi coisas muito curiosas. Vi o partido que boicotou Saramago a citar Saramago. Vi o partido que nos quer trazer de volta a mocidade portuguesa e as mulheres para a cozinha a citar Camões (e cesse tudo que a antiga musa canta).

Agora cito eu sem ironia António Aleixo. "P'ra mentira ser segura/ E atingir profundidade/ Tem que trazer à mistura/ Qualquer coisa de verdade." Agora citando a minha avó: galinha gorda por pouco dinheiro ou é choca ou foi roubada. Eu até baseado no que me ensinou minha avó não comprei esta galinha, mas muitos compraram, agora aguentem-se.

Quintino Silva, Paredes de Coura

A arte de criar casos

Durante a campanha eleitoral, a AD prometeu reduzir a carga fiscal do IRS em 1,5 mil milhões de euros, em comparação com a de 2023, como tinha sido sua proposta, chumbada pelo PS, na discussão do Orçamento. Certo? Este valor inclui a redução então aprovada no Orçamento do Estado apresentado pelo PS, o que é agora “interpretado” pela oposição e pelos sequiosos media como um embuste, deslealdade e ocultação da parte da AD. Mas então onde estiveram os partidos da oposição durante a campanha eleitoral que não questionaram sobre a “enorme” redução supostamente proposta, exigindo uma clarificação, nem denunciaram tal “embuste”?

Assim se está criando mais um “caso” que ocupa longas horas de debates e que visa o desgaste de todos. Francamente, estamos fartos destes “casos e casinhos”, reais ou artificiais; o que queremos é que o Governo governe, que cumpra o que prometeu e que proporcione melhores condições de vida, de saúde, justiça e habitação. Vamos ao que interessa e deixem-se de enredos inúteis.

Isabel Ribeiro, Lisboa

IRS: os "embusteiros" e os "distraídos"

O PSD e o Governo foram embusteiros, isso foram, mas então não houve ninguém – talvez bastasse um estagiário – que tivesse dado pelo engano doloso sobre o "choque fiscal" que, artificiosamente, "pariu um rato"? Os dois primeiros anunciaram o "choque fiscal" no período eleitoral e na bancada do Governo, e somente numa entrevista à RTP é que um jornalista "destapou" o embuste, numa pergunta ao ministro da Finanças. Antes, nem jornalistas, nem PS, nem deputados da AR deram por nada! Afinal, as "contas" reportavam a 2023, o PS nem de si próprio "cuidou", no período eleitoral e na véspera do "escândalo", quando o deputado Bernardo Blanc, da Iniciativa Liberal, denunciou a "tramóia" numa pergunta a Miranda Sarmento. Desatentos estavam também todos os outros deputados que "assobiaram para o lado" no hemiciclo. E, já agora, todos nós – mais os que votaram AD – que comeram "gato por lebre". E os jornalistas que me desculpem, mas não ficaram bem na "fotografia". Uma vergonha para todos (todos, todos) nós!

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

Ainda os 1500 milhões<_o3a_p>

Muitos remoques caem sobre o actual Governo da República por ter prometido aquilo que, afinal, tinha sido oferecido pelo Governo anterior. O espantoso choque fiscal anunciado por Montenegro na campanha eleitoral era, afinal, uma duvidosa habilidade retórica. Este canto de sereia terá levado muitos eleitores a depositar a cruz do seu voto na aliança de direita, permitindo-lhe desse modo a ligeira vantagem que lhe conferiu a vitória nas urnas.

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Ai Jesus, que Montenegro mentiu! Que desfaçatez, Montenegro enganou, ludibriou, foi habilidoso, quase maquiavélico...; da esquerda à direita parlamentar todos apupam o primeiro-ministro. Como de costume, o eleitor, o zé, o grande povo português, é poupado à reprimenda. <_o3a_p>

Quem orienta o voto tendo por base promessas meramente económicas recebe de troco, exactamente, aquilo que merece. Quem acredita que "tempo é dinheiro" e sabe que "não há almoços grátis", quem não é de direita nem de esquerda, é pragmático ao ponto de actuar sem conhecer, quem, enfim, anda neste mundo por interesse não tem grande moral para se queixar quando as coisas não correspondem ao seu sonho dourado.

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Rui Silvares, Cova da Piedade

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A condecoração do general Spínola

O general Spínola foi considerado, por muitos, um dos oficiais mais respeitados da Guerra Colonial. A par de Alpoim Calvão, Jaime Neves e outros, que foram lendas militares. Depois da conquista da Pedra Verde em Angola, que acalmou os colonos, foi para a Guiné, na altura quase perdida para as FAP. Adepto da independência das colónias, privilegiou a política, afastando a derrota militar. Portugal e o Futuro foi um livro seu que abalou o regime de Caetano e escancarou as portas para o 25 de Abril. A tomada do poder pelos políticos que regressaram fez reverter os seus ideais; nunca aceitou que os colonos de séculos fossem "empacotados" e despachados, sem nada, para a metrópole. Acabou detestado pelos que o endeusaram.

Duarte Dias da Silva, Foz do Arelho

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