Um secretário de Estado com a pasta errada

Há um artigo de Alexandre Homem de Cristo, publicado no Observador em 2014, que deixou muitos professores indignados e com absoluta razão.

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A Escola Pública é um dos dossiers mais complexos que o novo Governo tem nas mãos e, dada a sua importância, era imperativo ter um ministro da Educação experiente na área, conhecedor do terreno, de modo a garantir aos professores a sensibilidade necessária para compreender as suas justas reivindicações. O primeiro-ministro optou por um ministro da Educação desconhecido da maioria dos professores e, aparentemente, sem grande experiência para gerir uma pasta tão importante, independentemente do seu bom currículo como economista.

O recém-nomeado secretário de Estado Adjunto e da Educação, Alexandre Homem de Cristo, que é licenciado em Ciência Política, mestre em Política Comparada, ex-assessor parlamentar do CDS-PP de 2012 a 2015, tem várias publicações e artigos de opinião publicados acerca do tema da Educação, com as suas posições e opiniões com as quais podemos ou não concordar.

Mas há um artigo de Alexandre Homem de Cristo publicado no Observador em 2014 que deixou muitos professores indignados e com absoluta razão. Refere o agora Secretário de Estado, nesse artigo de opinião, que “Portugal tem maus professores. E não é por acaso: é fácil tornar-se professor”, acrescenta. E vai mais longe: “Ou seja, dito de forma clara: quem hoje vai para professor não são os bons alunos. Por outro lado, quem hoje frequenta os cursos da área da educação são, em média, os que têm níveis socioeconómicos mais baixos e que, por isso, obtêm mais bolsas de acção social”.

Estas barbaridades escritas no dito artigo evidenciam que não tem a mínima noção do que é ser-se professor. Para se tirar uma licenciatura na área da Educação, o primeiro requisito necessário é ter-se vocação, o acesso à licenciatura não é tão simples como afirmou e a carreira não é minimamente apelativa para quem tenha como prioridade subir na vida – para isso é bem mais fácil ingressar na política. Pelo contrário, é uma carreira castradora de profissionais com valor e, acima de tudo, com um papel preponderante na vida das nossas crianças e jovens.

Soubesse o secretário de Estado o que é andar de malas às costas durante anos a fio, de terra em terra, deixando muitas vezes a família para trás, para chegar ao fim do mês e receber um salário inferior ao que o secretário de Estado auferiu durante o pouco tempo em que foi assessor parlamentar do CDS-PP na Assembleia da República.

Agora, imaginemos que tinha sido nomeado para secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares alguém que tinha, no passado, escrito um artigo a dizer que a maioria dos deputados eram uns parasitas sem qualquer tipo de competências ou que havia lobbies no Parlamento que tinham ligações a grandes escritórios de advogados e a empresas… Certamente que seria muito contestado por não reunir condições para trabalhar e dialogar com os parlamentares, ainda por cima numa circunstância difícil como a que vivemos.

É exactamente isso o que se está a passar na Educação: que condições tem um secretário de Estado que escreveu o que escreveu acerca dos professores, para estabelecer pontes, dialogar e construir uma relação de confiança com os docentes? Nenhumas.

O Governo não fez uma boa escolha, é necessário valorizar os professores, não apenas ao nível do descongelamento de carreiras, salarial ou de estabilidade, mas também respeitando-os!

Não tenho dúvidas de que temos um secretário de Estado que ficou com a pasta errada.

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