Um suave sabor a festa de título

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Demorei a aceitar o meu pendor masoquista até passar a achar-lhe piada e a saber fintá-lo quando é oportuno. É o caso. Pedi à minha agência para me ocupar o tempo deste sábado à noite com um concerto em Macedo de Cavaleiros, o mais longe que conseguissem de Alvalade. Por isso, não, não irei assistir ao jogo da vigésima oitava jornada entre o meu Sporting Clube de Portugal e o Sport Lisboa e Benfica.

Reparem, já tive a minha dose na passada terça-feira, uma dose bem servida, é certo, com direito a cereja no topo do bolo mas as minhas unhas e o coração, depois dos quarenta, já não são o que eram. Ao invés de ficar a definhar em frente ao televisor, durante pelo menos noventa minutos, numa ansiedade desmedida, prefiro fazer-me à estrada e ganhar dinheiro para pagar as contas. Há que poupar-me!

Mas sinto que vou subir ao palco duplamente confiante; tenho menos a perder do que o adversário e, acaso ganhe, posso respirar entre canções num tempo mais relaxado. A Escandinávia irá fazer tremer as pernas para lá do meio-campo com Hjulmand e Gyökeres, Pedro Gonçalves já recuperado e Nuno Santos endiabrado. A braçadeira uruguaia, mais segura do que a braçadeira argentina, a assegurar o descanso de Franco Israel e Morita a fechar a volta ao mundo. Este parece ser o alinhamento mais certeiro para provocar arrepios, sorrisos e libertação de emoções, a culminar num encore. Últimas canções em plena comunhão, com a participação entusiasta de uma plateia (esperemos) rendida (ainda que acautelada), e com um suave sabor a festa de título.

A sorte é sempre precisa, é futebol, é vida, é palco. O resultado, pergunto no fim, a seguir ao último acorde, ao último som, porque é extasiada que melhor se suspira e se enche o peito de orgulho.

De regresso ao quarto de hotel, procura-se um resumo e um copo de vinho para o descanso ser profundo. Aprende-se muito com as derrotas mas, pondo o meu pessimismo no balneário, são as vitórias que nos enchem a alma.

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