Conselho de Juventude preocupado com regresso da discussão sobre Serviço Militar Obrigatório

Presidente do Conselho Nacional de Juventude alega que “a falta de militares e o agudizar de um clima bélico” não justificam o regresso da discussão sobre o Serviço Militar Obrigatório.

Foto
Despedida de duas missões de Forças Nacionais Destacadas de unidades da Marinha LUSA/ANTÓNIO COTRIM
Ouça este artigo
00:00
03:01

O Conselho Nacional de Juventude (CNJ) vê com “profunda preocupação” o regresso do tema do Serviço Militar Obrigatório (SMO) em Portugal e discorda dos argumentos apontados para justificar o recuperar do assunto tais como a “falta de militares e o agudizar de um clima bélico".

“O CNJ vê a entrada deste tema na ordem do dia com profunda preocupação, observando o que parecem ser as motivações: a falta de militares e o agudizar de um clima bélico”, lê-se num comunicado com declarações de Rui Oliveira, presidente deste organismo.

Segundo o Conselho Nacional de Juventude, “o arremesso do argumento de um eventual conflito para justificar o regresso do Serviço Militar Obrigatório é assumir que todos os outros caminhos diplomáticos falharam para a resolução do conflito e assumir agora um esforço no sentido de maior militarização, que é o contrário do que acreditamos que deve ser o caminho traçado na criação da paz, na criação de campos de diálogo e na resolução pacífica dos conflitos, não numa escalada dos mesmos”.

“A existência de uma guerra não só promove divisão entre as nações e povos, como é, pelo menos, o atrasar de toda uma geração, geração essa que, actualmente, já enfrenta crises sem precedentes que condicionam o seu projecto de vida largamente, sendo o escalar de um conflito armado o perpetuar das dificuldades com que os jovens lidam actualmente”, refere o comunicado.

Apelando à resolução “pacífica do conflito”, o Conselho Nacional de Juventude sublinha que o empenho das "lideranças deve ser aplicado na persecução da via diplomática”. E acrescenta: “Tenho a esperança de que esta não será uma prioridade do novo Governo (…). A visão do CNJ foca-se na resolução pacífica dos conflitos e esta é uma carreira que, como todas as outras que são essenciais para o funcionamento do país, deve ser atractiva e não coerciva."

Por estes dias, o debate sobre o eventual regresso do SMO ganhou força em Portugal, depois da tomada de posição do almirante Gouveia e Melo. Não há consenso entre partidos e associações militares, nem nas próprias Forças Armadas, mas as forças políticas parecem inclinar-se para o "não". Já o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), chefiado pelo general Nunes da Fonseca, considera que a reintrodução do Serviço Militar Obrigatório não "soluciona os desafios de gestão de efectivos das Forças Armadas", mas defende que o tema deve ser visto "através de uma abordagem abrangente de criação de uma prestação de serviço nacional e universal de natureza cívica".

Já depois das declarações do general Nunes da Fonseca, o chefe do Estado-Maior da Armada, Gouveia e Melo, rejeitou os modelo antigo do Serviço Militar Obrigatório, que vigorou até 2004. Defende uma "nova resposta" consensual entre o poder político e a sociedade para mobilizar população em situações limite.

"O modelo antigo [do Serviço Militar Obrigatório] é precisamente isso, o modelo antigo. Tem que se encontrar uma nova resposta. Isso não é algo que se encontre amanhã, tem que ser discutida, tem que ser uma resposta que o poder político aceite, que a população aceite, porque só todos nós em conjunto podemos dar uma resposta que seja uma resposta do próprio país", considerou o almirante em declarações aos jornalistas, na Base Naval de Lisboa, em Almada.

Sugerir correcção
Ler 22 comentários