Cartas ao director

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A posse do Governo de Montenegro

Parece-me inadmissível que os partidos que não estão no Governo mas estão na Assembleia da República não tivessem estado na cerimónia da tomada de posse do Governo. Nenhum verdadeiro democrata entende isso (penso eu). Uma coisa é sermos livres, termos as nossas opiniões e projectos. Termos liberdade. Outra é, em democracia, haver alguém que tem mais votos, ganha, é nomeado e os outros (que também concorreram), porque tiveram menos votos, não ganharam, serem oposição, decidirem não comparecer na cerimónia (são livres para o fazerem). Em democracia, parece-me incorrecto — vencedores e vencidos respeitam-se, aceitam-se, etc.. É bom sermos adultos, responsáveis e acabarmos com estes teatros – será que eles percebem que as pessoas (não-partidárias) não gostam disso?

Porfírio Gomes Cardoso, Lagos

Pedro Nuno Santos agiu mal

A democracia é, obviamente, ganhar ou perder e por isso não consigo entender a posição de Pedro Nuno Santos quando resolveu não estar presente na tomada de posse do novo Governo. Agiu mal, muito mal, já que o estar presente na cerimónia demonstra respeito pelas instituições e pelo resultado das eleições e nada significa em termos de apoio ou não-apoio ao Governo que tomava posse. Pedro Nuno Santos confundiu as coisas e não será seguramente assim que conseguirá que o PS consiga, de novo, ganhar eleições. A democracia é assim mesmo, ou seja, umas vezes ganha-se, outras vezes perde-se. Pedro Nuno Santos tem de reflectir muito bem sobre isto, para bem dos portugueses.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

Ausências

Interrogo-me sobre o que significa respeitar o resultado das eleições para certas forças políticas, resultado este de que resultou agora um novo Governo. A ausência, na tomada de posse deste, de representação do Bloco de Esquerda e do PCP revela claramente qual o respectivo conceito de democracia — só são democráticos os do seu campo. Até se anunciam votos contra antes de se conhecer o elenco governamental e o programa de governo. Mas tudo isto já sabíamos.

Agora o PS, que anunciou ir liderar a oposição (e bem!), está ausente, como aliás António Costa, quando Passos Coelho tomou posse em 2015, após ganhar as eleições pós-troika. Porquê esta ausência? Desprezo? Sobranceria? E isto depois de um processo de transição que António Costa conduziu bem e com toda a dignidade.

Respeitar o resultado de eleições tem implicações institucionais, creio eu. Os partidos que ocupam o Parlamento, representando todo o povo português, devem marcar presença quando um novo Governo, que resulta da vontade popular, entra em funções, mesmo que esse Governo não lhes agrade.

Teresa Seruya, Lisboa

Pensemos um pouco

Ao chegarmos a meio século depois da Revolução dos Cravos, que uns tantos odeiam e proventos mil dela têm retirado, as rédeas de todos os poderes a partir de 2 de Abril: Presidente da República, presidente da AR, primeiro-ministro e demais séquito são da mesma família política, o que se nos afigura ser caso único na nossa democracia. Se “o povo é quem mais ordena”, parece-nos que, no caso em apreço, o povo “ordenou” mal, a menos que tenha sido traído com os “muitos casos e casinhos” muito graves, que ultimamente têm vindo à ribalta, por quem isso nunca deveria ter feito. Dá que pensar, não dá?

José Amaral, Vila Nova de Gaia​

Elogio da chuva

Sob a orientação de três vectores (económico, político e ecológico), e ao abrigo da generosidade das bátegas das últimas semanas, urge elogiar a chuva. Ecologicamente, é muito bem‑vinda, tanto mais que têm sido recorrentes as secas. Mas torna‑se especialmente benfazeja, de facto, num plano político. Constitui, com efeito, o melhor agente de destruição da propaganda de qualquer Governo. É quando chove contínua e agrestemente, claro está, que se vê a miséria estrutural do ordenamento do nosso território (urbano, em particular). Então, com a cascata de alagamentos, à tona vêm as mesmíssimas queixas de sempre: as construções em leitos de cheia, a absurda impermeabilização dos solos, as terríveis infiltrações de humidade nas casas mal construídas, etc.. Num terceiro registo, por fim, o da economia, não faltam as jeremiadas — que abrem telejornais — dos donos de hotéis e restaurantes do Algarve (a região de Portugal, aliás, com a maior penúria de água!). Queixam‑se eles da ausência de sol, que lhes retira clientes… Assim se põe a nu, tragicomicamente, a tristeza de um país — de bandeja na mão e à míngua de turistas.

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

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