Cartas ao director

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O obituário da esquerda à esquerda

No “melhor mês” (PÚBLICO, 30 de Março) de António Barreto, volvidos 50 anos do 25 de Abril, o sociólogo articulista faz as contas à esquerda, com cuidada atenção para os resultados eleitorais do PCP e da esquerda “radical”. E enuncia uma lista de siglas, dos que “desapareceram ou nunca chegaram ao Parlamento”. E diz que, com ou sem deputados, os mais marcadamente marxistas nunca somaram tão poucos votos. Nesta reportagem pós-eleitoral, com aparente gáudio, contabiliza o recuo das esquerdas. E nota-se a amnésia em relação ao BE. Mas a sua satisfação sobressai mais quando refere que o centenário PCP, “um dos últimos partidos comunistas do mundo”, com quatro deputados, quase desapareceu e, dixit, “prepara-se para “desfalecer”. Mas, afinal, ainda teve 200 mil votos, que lhe sobram para falecer… E no “mundo” perdura a grande demografia comunista, na Ásia e na América do Sul, que pouca sorte. A novidade que chega vem da velha senhora centenária, com novas roupagens, mas António Barreto cala. Neste jogo, quase profético, de anunciadas mortes, sobra um milagre, o CDS, que “quase desapareceu novamente”, mas foi ressuscitado em duplo com “ graças de pendura”. E já joga à defesa.

José Manuel Jara, Lisboa

Para que serve a ONU?

Para que serve a ONU, mais particularmente o seu Conselho de Segurança e o seu Tribunal de Justiça? Segundo o presente regime israelita, não serve para nada... Tantas resoluções vetadas pelos EUA, e outra pela Rússia e China (por não irem suficientemente longe), até que finalmente uma passou, ordenando um cessar-fogo (temporário...) e libertação de detidos (tanto em Gaza como em Israel). Contudo, resultou em rápido esquecimento.

O tribunal ordenou que Israel abrisse mais locais de entrada de ajuda humanitária, mas Israel não obedece a ninguém, o que vem fazendo desde que foi mandado retirar-se dos territórios ocupados em 1967. E porque haveria de obedecer, se os EUA lhes vão mandar mais armamentos, incluindo bombas monstruosas, de 900 quilos?

Quando haverá um político que tenha a hombridade e sobretudo a coragem de explicar qual a razão que justificou a imediata expulsão de Saddam Hussein do Kuwait, mas que permite o domínio de terra e população palestiniana há quase 57 anos, aquilo que exacerba o antijudaísmo? Uma razão, além do que ouvi George Bush pai dizer, quando um afoitado jornalista (naquele tempo!) lhe apresentou essa comparação: "Não haverá paralelismo!"

Carlos Coimbra, Toronto

O mau perder de Sérgio Conceição

Não tenho qualquer dúvida do valor como treinador de futebol do mister Sérgio Conceição. Já deu provas, mais do que suficientes, das suas enormes capacidades e qualidades para a função do cargo que desempenha. Mas perante as atitudes de conduta indisciplinar, que revela quando o clube que dirige perde, o seu estado de espírito transforma-se, todo ele fica alterado, o seu comportamento fica alterado. É um mau exemplo como condutor de homens. Ele só conhece o verbo ganhar… ganhar. Quando começaremos a ver mais fair play por parte daquele irrequieto treinador de futebol?

Mário da Silva Jesus, Codivel

Agora, a Polónia

A Polónia tem historial de ser um país instável que tem sido mais ou menos ameaçado, apoderado, encolhido pelos seus vizinhos, e agora o actual primeiro-ministro, que já passou pelo Conselho Europeu, está com o trauma que afecta algumas personalidades europeias: o de que a Europa vai ser invadida pela Rússia de Putin, pelo que nos temos de preparar para a guerra. E enquanto andamos com os tiques de ser guerreiros, esquecemo-nos de que nem sequer temos condições para isso. Desmilitarizámos a Europa desde 1945, e o pouco armamento que ainda tínhamos, faz dois anos, ofertámos à Ucrânia. E temos agora mais um chefe de um país europeu a seguir as pisadas de Macron, para nos armarmos até aos dentes e prepararmo-nos para um ataque da Federação Russa.

Não só não temos como o fazer, a não ser que deixemos cair totalmente, a 27, o Estado social, os serviços nacionais de saúde, a educação pública e canalizemos "tudo" para o armamento. Os jovens europeus não estão minimamente preparados nem convencidos para entrar numa guerra. Talvez seja mais avisado a Europa unir-se intensamente, enquanto o consegue, pela paz e não pela guerra. E, independentemente do que aconteça ou deixe de acontecer com a Ucrânia, os 27 deviam criar um Exército único para nossa defesa, em vez de andar a criar climas de tensão. Pede-se algum cuidado, contenção, bom senso e assunção do que é hoje a Europa no século XXI.

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

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