Cartas ao director

Novo Governo: humildade e acção...

Se há algo a realçar da bagunçada recente da eleição para a presidência da AR e da transição de Governo, é o civilizado e democrático comportamento do PS e PSD, nesse início de novo ciclo político, esvaziando assim imediatas arengas do Chega a esse pretexto. Penso que, com esta atitude responsável, permitiram que o processo democrático de governação se mantivesse normal, sem solavancos, nos carris. O país patriota e empreendedor agradece, decerto.

Estarão, pois, criadas condições mínimas para que o próximo Governo PSD entre logo ao trabalho esforçado, de combate, dentro daquelas baias de acção que lhe foram dadas, quando da fundação em Maio de 1974, por Sá Carneiro, Magalhães Mota e Pinto Balsemão.

Nos tempos difíceis da sua implantação, das noitadas militantes, ao frio de Dezembro e das pedradas da extrema-esquerda da época, com os baldes de cola na mão e cartazes noutra, recordo um episódio do viver anónimo de tal espírito. Estávamos numa dessas acções, em finais daquele ano de 74, quando, perto da meia-noite, vem um indivíduo esbarrar o carro contra os muros altos da estrada erma que corria ao lado. O ocupante, bastante bêbado, estava a esvair-se em sangue. Conseguimos retirá-lo e transportá-lo rapidamente aos bombeiros, a cerca de um quilómetro, que se encarregaram depois dele. Provavelmente, ficou a dever a vida a esse pequeno grupo sonâmbulo de sonhadores sociais-democratas das colagens que por ali se encontrava...

Que o próximo Governo comungue, todo ele, dessa herança solidária e empenhada.

Joaquim Heleno, Queluz

Uma "desengonça" de direita

"Geringonça" foi o nome que se deu à solução governativa de esquerda saída das eleições legislativas de 2015. Essa engenhoca política, que consistia numa série de acordos entre o PS e os partidos parlamentares à sua esquerda (BE e PCP), mostrou-se mais sólida do que se esperava e do que o seu nome prometia. André Ventura tentou por tudo construir uma engenhoca dessas à direita mas, pela amostra que tivemos do primeiro dia de trabalhos na Assembleia da República, mal se tentou pôr essa engenhoca a andar, ela revelou-se extremamente desengonçada. Será que a direita, ao contrário da esquerda, não conseguirá melhor do que esta "desengonça"?

Tomás Magalhães Carneiro, Porto

Os votos de Olivença

O dia 10 de Março de 2024 foi marcado pelas eleições gerais em Portugal. Todavia, algo mais teria podido despertar interesse. Nesse dia, o jornal Hoy, de Badajoz, publicava uma grande reportagem sobre o voto dos oliventinos, com o título "Mais de mil oliventinos poderão votar hoje em Portugal". Uma fotografia na capa e outra na página 4, quase idênticas, mostravam um grupo de oliventinos em volta de uma grande bandeira portuguesa. O jornal dissertava sobre a atribuição de nacionalidade portuguesa a oliventinos, que, dizia, já poder ter chegado a duas mil pessoas, e, numa nota em separado, explicitava algumas regras. Citando [traduzido]: "Que requisitos há que cumprir para ter a nacionalidade portuguesa? Algum destes quatro: ser natural de Olivença e nascido antes de Outubro de 1981; ser natural de Olivença e filho de oliventino com nacionalidade portuguesa; ser natural de Olivença e que o progenitor/a haja adquirido a nacionalidade portuguesa; não ser natural de Olivença e que um dos seus ascendentes até ao segundo grau o seja."

A reportagem era muito completa. Não se discutia a já bicentenária "Questão de Olivença", mas ela estava presente na situação peculiar dos oliventinos, esta bem explicada, como vimos na transcrição. Curioso que os órgãos de comunicação portugueses, salvo raras excepções, nada dissessem sobre esta reportagem, deixando para o jornal espanhol a divulgação desta situação excepcional.

Carlos Eduardo da Cruz Luna, Estremoz

Postes na Linha de Cascais

A propósito do artigo publicado por Carlos Cipriano no PÚBLICO de 28 de Março, onde defende que não deveria haver postes de catenária do lado do rio/mar, eu, que tenho a minha quota de responsabilidade nessa decisão, tenho a alegar em nossa defesa que, em regra, as linhas de via dupla são electrificadas com postes independentes para cada via. Pretende-se que elas sejam o mais independentes possível para que um acidente numa delas não afecte a outra.

O caso referido entre Cruz Quebrada e Caxias não deve ter preocupado muito os passageiros da Linha de Cascais, porque a obra foi feita há mais de 30 anos, e não me consta que alguém protestasse. Se calhar porque nas deslocações casa-trabalho-casa os passageiros estão mais interessados em ler o jornal do que na paisagem, que afinal não é tão afectada como isso.

Carlos Anjos, Lisboa

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