FC Porto apresenta nova academia na Maia. Contrato com a ABB dependente da hasta pública

Maia aprovou venda de terrenos com 14 hectares em hasta pública. Clube assinou contrato de compra e venda com construtora ABB, dependente desta hasta, para assegurar outros dez hectares necessários.

Foto
Jorge Nuno Pinto da Costa é presidente do FC Porto há praticamente 42 anos LUSA/JOSÉ COELHO
Ouça este artigo
00:00
05:14

O FC Porto apresentou, na manhã desta quarta-feira, os projectos para a nova academia do clube, menos de 48 horas após a Câmara Municipal da Maia ter aprovado a venda em hasta pública de 14 hectares dos 23 hectares que vão compor este complexo de grande envergadura. A academia foi uma das principais promessas de Jorge Nuno Pinto da Costa para o quadriénio 2020-24 – uma "obsessão do presidente" –, com o projecto a ser apresentado a exactamente um mês das eleições à presidência. Ainda não há uma projecção concreta sobre o custo total desta obra, projectando-se uma despesa a rondar os 40 milhões de euros.

"É ridículo que isto se diga que isto é um trunfo eleitoral. É um trunfo do FC Porto para o futuro, para cada vez ser melhor na formação dos seus jogadores", resumiu Pinto da Costa, presidente portista. O dirigente mencionou André Villas-Boas no discurso, dizendo que colocou por escrito todos os acordos necessários para a construção deste complexo, para se evitar que "se rasguem contratos" após as eleições. "A vida do FC Porto não pára, tem de ser levada a sério, com paixão e sempre a pensar no que é melhor para o FC Porto".

Na segunda-feira, a autarquia aprovou a venda em hasta pública dos terrenos de 14 hectares destinados à construção do complexo portista. O valor base dos 18 lotes de terreno é de 3,36 milhões de euros, 23 euros por metro quadrado. A quem pertencem os restantes dez hectares necessários para este projecto? A construtora Alexandre Barbosa Borges (ABB) é a proprietárias destes terrenos, tendo assinado um contrato promessa de compra e venda com o FC Porto por esses lotes, com Fernando Gomes, administrador financeiro da SAD prestes a sair do cargo, a dizer que essa estratégia poupou dinheiro aos cofres portistas.

"A ABB deu-nos uma ajuda preciosa. Neste momento, estão parcelados fora da Câmara Municipal 9,3 hectares propriedade da construtora. São muitos terrenos que foram parcelados pacientemente para que chegássemos até aqui [total de 23 hectares]. Se o FC Porto fosse falar com os proprietários, esses terrenos custariam o dobro do que o que vão custar", reitera Fernando Gomes. Essa compra entre clube e construtora está, contudo, dependente dos resultados da hasta pública.

Se os portistas ficarem com os terrenos municipais, compram-se os hectares à ABB. Se não, fica tudo sem efeito. Mas Fernando Gomes diz que tudo está encaminhado para que isso aconteça. "Não me parece que haja alguém que, só para prejudicar o FC Porto, queira ficar com esses terrenos que são para a academia. Vamos estar atentos ao que se irá passar", avisa o administrador.

"Estamos a garantir que a totalidade dos 23 hectares se vão conseguir em tempo útil para que isto avance já. Temos um contrato promessa de compra e venda com a ABB condicionado a hasta pública. Seria, da parte do FC Porto, comprar esses terrenos partindo do princípio que a hasta pública [corra favoravelmente]", explica Fernando Gomes.

A primeira empreitada do complexo, relativa à terraplanagem, foi adjudicada à ABB, no valor de 6,8 milhões de euros.

Dez campos de futebol

Foi exactamente com o timing do período eleitoral em mente que Fernando Gomes começou a intervenção, naquele que é possivelmente o último evento público enquanto responsável pelas finanças da SAD. “Isto não é o resultado de algo que aconteceu há poucas semanas para fazermos um número porque há eleições. Há anos que o FC Porto procura um projecto em condições para servir as necessidades na formação. Chegámos agora a essa solução, porque convergiram muito boas vontades”.

O edifício principal, baptizado de "Casa do Dragão", servirá de residência para atletas acolhidos pelo FC Porto e terá 72 quartos duplos. A principal estrutura será um estádio com lotação a rondar os 2000 lugares, disponível para acolher partidas da segunda divisão. Vão ser ainda construídos nove campos relvados com dimensões oficiais, bem como um campo relvado de futebol de sete.

“É raro encontrar cliente que tenha uma noção tão concreta daquilo que quer, o porquê das razões todas que toma e uma capacidade de ouvir e interagir com terceiros”, começou por dizer o arquitecto Manuel Salgado, um dos mentores deste projecto.

Elogiando as características da localização escolhida, o responsável destaca a fácil acessibilidade a partir de várias cidades. “Esta área vasta é extraordinariamente bem localizada na Área Metropolitana [do Porto]. É servida por duas auto-estradas, tem uma acessibilidade fantástica e uma linha ferroviária com apeadeiro em Leandro. A distância percorrível entre o apeadeiro e zona central não chega a um quilómetro, perfeitamente percorrível tanto a pé como de bicicleta.

Também o valor base dos terrenos valeu críticas do vereador socialista. Para Francisco Vieira de Carvalho, o preço de 23 euros por metro quadrado está abaixo do valor de mercado, considerando ser um negócio potencialmente lesivo para a Maia.

Presente mantém-se o "elefante na sala", de seu nome André Villas-Boas. O principal concorrente de Pinto da Costa defende a construção do complexo no Olival, tendo já assinado um contrato promessa de compra e venda em nome próprio para um terreno em Vila Nova de Gaia. Sendo que todo este processo apenas terá "luz verde" após ser reconhecido o resultado eleitoral, o ex-treinador aguarda para perceber quais os detalhes da operação. Mas Pinto da Costa diz que os contratos "não se podem rasgar".

Sugerir correcção
Ler 9 comentários