— Se nos derem um universo — perguntou a Ana —, vamos querê-lo fixo e preestabelecido, sólido e enferrujado, ou incerto e moldável? E a resposta certa tenderá para um universo incerto, como um bocado de plasticina, que agarramos com as mãos para transformar a incerteza numa certeza que seja um espelho da nossa alma. Precisamos disso, montar um cavalo selvagem em vez dum cavalo de carrossel, um cavalo que corra pela floresta em vez daquele que habita a certeza circular e monótona de uma feira. Repito, a incerteza é um cavalo selvagem. Podemos cair, podemos magoar-nos, mas ninguém, assim creio, preferirá viver a vida montado no cavalo de madeira da festa da aldeia.