Coimbra – a estação que nos une e a ponte que nos separa!

Se a estação intermodal Busquets une os cidadãos e a cidade, a Ponte Bastos, para viaduto rodoviário, separa os cidadãos e divide a cidade.

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A ligação de Coimbra à linha de comboio de alta velocidade constitui uma enorme oportunidade para a ligação rápida, e amiga do ambiente, ao eixo Lisboa-Porto-Galiza. É um projeto estruturante que promete criar melhor mobilidade urbana, intermodalidade e oportunidade para construir nova cidade. A esperada renovação urbana na zona da velhinha estação de Coimbra-B e o projeto apresentado na sexta-feira, 15 de março, pelo arquiteto catalão Joan Busquets antecipa nova cidade, e colhe o apoio da maioria dos conimbricenses.

Joan Busquets apresentou a maquete de uma estação intermodal, centrada na relação entre o rio, o Choupal e a cidade, com foco na acessibilidade pedonal, mobilidade suave e ligação ao sistema de mobilidade do Metro Mondego. Para Joan Busquets a cidade deve procurar desenvolver esta relação especial e única com os campos do Mondego, através do seu rio, e o seu Choupal, e deve procurar complementaridade com cidades de maior tamanho, buscando e reforçando a qualidade de vida. Não podemos estar mais de acordo!

Joan Busquets lançou a ideia de uma estação multifuncional como núcleo de crescimento de nova cidade, que liga, em corredor verde, o Choupal com o vale de Coselhas e cria continuidade urbana com a Baixa, num eixo dominado pelas formas de mobilidade suave onde o carro é a exceção. Este projeto apresenta três torres de arquitetura arrojada, verdadeiros marcos visuais da nova estação. Estas funcionam como torres de referência e de destino na busca visual do cidadão pela nova estação. Um edificado visível à distância, na interceção da cidade, do rio, e do Choupal, com a linha de alta velocidade. Esta nova estação é um sonho que une a cidade e os seus cidadãos!

No entanto, quer o executivo municipal de Coimbra vincular a construção da estação intermodal a uma nova ponte rodoviária do IC2 até à rotunda do Almegue, rasgando a Mata Nacional do Choupal. Uma obra caríssima, de utilidade duvidosa, fora do seu tempo, ambientalmente criminosa e paisagisticamente aberrante. Quer, pois, a sra. vereadora da Mobilidade colocar uma parede de betão, sob a forma de viaduto rodoviário, 20 metros acima do solo, mesmo em frente daquela obra, que se quer bela e emblemática, antecipada pelo arquiteto Busquets. Uma aberração de engenharia própria do século XX, que mata a beleza da obra de arquitetura projetada por Busquets para o século XXI.

Se a estação intermodal Busquets une os cidadãos e a cidade, a Ponte Bastos, para viaduto rodoviário, separa os cidadãos e divide a cidade.

É fundamental distinguir estes dois processos. A ligação de alta velocidade a Coimbra e a construção da estação intermodal é um assunto. A discussão do emplastro que é a ponte rodoviária para tapar a estação é outro assunto, e deve ser discutido e decidido em processo separado.

A sra. vereadora até pode “exigir” à Infraestruturas de Portugal financiamento para a construção do mamarracho. No entanto, não pode exigir aos cidadãos de Coimbra que concordem e apoiem esta absurda ponte da discórdia.

Ser cidadão não é ser oposição. Ser cidadão é ser parte do corpo e do destino da cidade.

A participação na vida da cidade faz parte da nossa democracia e é um imperativo de cidadania.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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