A nova vida de Fofana, o avançado do talento e da desordem

Aos 21 anos, o avançado costa-marfinense tem tido uma carreira bem recheada – embora tão recheada com bizarria como com bom futebol. O Chelsea ainda não o aproveitou e, para já, agradece o Burnley.

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David Fofana em acção pelo Burnley, na Liga inglesa Reuters/Peter Powell
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Quando o Chelsea compra um jovem futebolista talentoso sabemos que a probabilidade de vir a ser feliz e relevante no clube é curta. Compram muitos – alguns para o fundo do banco, outros para as reservas, outros para emprestar e uns quantos para nunca mais os verem. David Datro Fofana foi só mais um jogador comprado pelo Chelsea, que tem predilecção por jovens atacantes com talento. E Fofana é tudo isso – e não só.

Aos 21 anos, o avançado costa-marfinense tem tido uma carreira bem recheada – embora tão recheada com bizarria como com bom futebol.

Neste sábado, Fofana marcou, aos 88’, um golo que deu ao Burnley um triunfo (2-1) frente ao Brentford – o primeiro desde Dezembro, numa equipa que já se habituou a perder semana sim, semana sim.

Minutos antes, neste jogo, Fofana tinha falhado de forma bizarra uma oportunidade de golo, de baliza aberta, a poucos centímetros da glória, lance que nas redes sociais foi logo catalogado como forte candidato a falhanço do ano. E depois deu o triunfo com o tal golo. Este jogo é um bom resumo da carreira do avançado.

"Roubado" e castigado

No Burnley, onde chegou em Janeiro, leva quatro golos em oito jogos e foi o responsável pelos únicos cinco pontos somados pelo clube nos últimos tempos – numa das vezes, entrando para apenas 26 minutos, foi a tempo de bisar no 2-2 ao Fulham.

Desde aí passou a ser titular e está, neste momento, a fazer aquilo que se esperava. Mas com Fofana pode sempre acontecer qualquer coisa.

Fofana é o homem que não foi aposta forte no Chelsea – surpresa, surpresa... – e que, emprestado ao Union Berlin, achou boa ideia, em fase de conquista de espaço na equipa, deixar o treinador de mão estendida após ser substituído. Escusado será dizer que foi castigado e, como entre Setembro e Dezembro marcou apenas dois golos pelo clube alemão, foi parar ao Burnley.

Fofana é também o jovem que, embora possivelmente sem poder de decisão, mordeu a mão que lhe deu de comer. O Molde, clube dinamarquês que o deu a conhecer ao Chelsea, contratou o jogador a custo zero ao Abidjan, clube costa-marfinense. Na altura, Fofana tinha 16 anos e o Abidjan diz que estava em negociações com clubes para o vender, baseando-se num contrato assinado pela mãe do jogador.

Quando Fofana pôde ir para o Molde a custo zero, a mãe do atleta disse que a assinatura nesse contrato tinha sido forjada – algo que o Abidjan provou ser falso, com especialistas em caligrafia, avançando, depois, para a FIFA.

Em resumo, Fofana e a sua mãe decidiram não cumprir o contrato com o Abidjan para que isso facilitasse a ida para a Dinamarca. E isso geralmente não é bonito nem legal.

Avançado total

Nada, com Fofana, é linear – tirando o talento. Esse é factual. Fofana, que começou a jogar no futebol de rua, já disse que gosta dos dribles de Ronaldinho, que aprecia a finalização e os cabeceamentos de Cristiano Ronaldo, as mudanças de direcção de Messi e o jogo físico de Zlatan, pela forma como aguenta as cargas mantendo a bola.

E este gosto por jogadores diferentes, mais do que por um em concreto, atesta a vasta gama de recursos que Fofana tem. É um avançado capaz de jogar em apoios frontais e segurar defensores nas costas, é também forte a atacar o espaço, tem uma técnica bastante razoável e consegue mexer-se na área com bastante competência. E na hora de finalizar leva um número de golos já superior ao valor de golos esperados, o que sugere que é competente nesse pelouro.

O problema é que nem sempre é competente noutros menos futebolísticos, mas igualmente importantes. Também nisso pode aprender com Cristiano, Messi ou Zlatan – mas talvez não tanto com Ronaldinho.

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