Schmidt gostou do Benfica-Rangers, mas isso agora pode não chegar

O “bom jogo” definido por Schmidt pode não ser suficiente na Liga Europa. Em Glasgow, o Benfica vai a jogo depois de já ter exposto os seus defeitos.

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Jogadores do Benfica no treino pré-Rangers EPA/RUI MINDERICO
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No conceito de Roger Schmidt, o Benfica fez um bom jogo na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga Europa, frente ao Rangers. Nesse empate (2-2), a equipa “encarnada” marcou num penálti e num autogolo. E apesar de ter tido algumas oportunidades de golo fez, em geral, um jogo mediano – até pelas autênticas auto-estradas concedidas entre linhas, com pressão anárquica, que resultaram em dois golos sofridos de uma equipa claramente inferior. Ainda assim, o técnico alemão considera que foi um bom jogo.

Nesta quinta-feira, às 17h45 (SportTV), o “bom jogo” definido por Schmidt pode não ser suficiente na segunda mão da eliminatória. Em Glasgow, o Benfica vai enfrentar uma equipa que já pôde “cheirar-lhe” os defeitos.

Viu que a linha ofensiva pressiona de forma anárquica, que o resto da equipa não responde em bloco aos momentos de pressão, criando espaço entre linhas, e que com dois ou três passes bem medidos em zona de construção é possível bater a pressão “encarnada” – que, depois de batida, nem corre para trás, deixando o processo defensivo em inferioridade numérica.

O Rangers pôde ver tudo isto na Luz e só um treinador muito impreparado não arranjará forma de explorar essas lacunas. Nessa medida, Schmidt, do lado contrário, terá de mostrar-se também preparado e dar ao Benfica uma capacidade que, quando inexistente a nível europeu, se paga bem mais caro do que no futebol interno – e o 2-2 na Luz já mostrou isso de alguma forma.

Na crónica da primeira mão, escreveu-se nestas páginas que “um Benfica na plena posse dos seus poderes, arrumado e confiante, seria suficiente para o líder do campeonato escocês. Mas o Benfica não é uma equipa confiante e arrumada”. Nesta quinta-feira, é muito disto que se tratará.

Quem joga?

E por falar em arrumação, se há algo difícil de prever é a arrumação táctica e individual do Benfica. Depois de uma época de um perfil relativamente imutável, o Benfica de Schmidt é, hoje, uma roda-viva de jogadores. Na defesa, no meio-campo e no ataque há mudanças jogo sim, jogo sim, com vantagens e desvantagens claras.

Por um lado, há um lote alargado de jogadores com ritmo competitivo, utilização e rotinas – além de poucas referências para o treinador adversário. Por outro, o Benfica demora a estabilizar um trabalho colectivo forte, sobretudo sem bola, algo dificultado pela rotação permanente.

Entre uma coisa e outra fica difícil prever o “onze”. Vai haver ponta-de-lança ou será ataque móvel com Rafa? Havendo ponta-de-lança, será um jogador de mobilidade e intensidade, como Tengstedt, um grande finalizador que contribui menos para o jogo, como Marcos Leonardo, ou alguém mais forte a jogar em apoio, como Cabral?

Vai haver Kokçu? Se sim, como médio ou como 10? Neres e Di María estarão em simultâneo no “onze” ou haverá um ala como Aursnes ou Gouveia, mais capaz no momento defensivo? Florentino vai dar robustez ao meio-campo ou haverá Neves a 6, com outro médio mais ofensivo a 8? Aursnes será lateral? Se sim, será à direita, como jogador de corredor, ou à esquerda, dotando a equipa de mais futebol por dentro?

As dúvidas são muitas, pelo que Philippe Clément, treinador do Rangers, não se atreveu a fazer previsões. Falou do valor do Benfica como um todo e garantiu um futebol ofensivo. “Sabemos que vai ser uma surpresa na Europa se conseguirmos vencer o Benfica, mas estamos esfomeados para o fazer. Vamos precisar de ser eficazes, o jogo vai decidir-se nos pequenos detalhes. Como viram em Lisboa, não vamos estacionar o autocarro”. Como já se viu várias vezes nesta temporada, não “estacionar o autocarro” é meio caminho para conseguir superar o Benfica.

Já Roger Schmidt, numa conferência de pouco conteúdo, optou por responder de forma vaga a grande parte das questões e deixou claro que o jogo da primeira mão é para esquecer: O que aconteceu na semana passada não interessa. O Rangers teve grande eficácia e marcou. Temos de aceitar o resultado. Amanhã começamos do zero e é um jogo diferente, com 0-0. Amanhã é decisivo”.

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